Um dia em junho passado, quando eu saía da garagem, notei um homem me encarando em um


Só depois que a equipe de vigilância chegou, cerca de dez dias depois, minha família e eu decidimos partir. Fiquei aliviada por ter escapado por pouco. Mas um grande pedaço de mim ansiava por ficar. As ruas de Teerã estavam agora convulsionadas por alguns dos maiores e mais sangrentos protestos desde a revolução de 1979; eu queria contar a história, continuar a fazer parte do destino do Irã. Mais do que qualquer coisa, eu temia cair naquilo que os jornalistas iranianos chamam de "síndrome do exílio" -minha compreensão sobre o Irã ficaria congelada no momento da partida, e eu seria incapaz de me manter atualizada. Sem dúvida o governo esperava o mesmo de mim e de outros. Não poderíamos estar mais errados. Três coisas fizeram toda a diferença: o alcance global da internet; a capacidade de criação de redes entre jornalistas exilados e nossas fontes; e a engenhosidade dos dissidentes iranianos em enviarem informações e imagens para o exterior. Fui a Nova York cobrir uma greve de fome em apoio à oposição iraniana. Fiquei surpresa por ver mais de uma dúzia de ex-fontes minhas -ex-parlamentares, ativistas e blogueiros- que haviam partido para o exílio anos antes. Em vez de ficar isolada, travei contato com outro Irã -um Irã virtual na internet, ligando reformistas no exterior a blogueiros e manifestantes ainda dentro do país, e jornalistas e fontes fora. Na verdade, ao acompanhar blogs e vídeos de celulares que vazavam para fora do Irã, de certa forma eu podia divulgar notícias com mais produtividade do que quando eu tinha de temer e driblar o governo. Eu podia noticiar, livre dos éditos governamentais, que os protestos estavam entrando em uma nova fase. Há uma ironia nisso tudo; os vários anos de controle autoritário haviam educado grande parte do Irã sobre a necessidade de burlar as restrições na internet, e agora eu estava vendo e ouvindo os resultados no meu computador e na minha TV.

No mês passado, durante e depois do funeral do grão-aiatolá reformista Hossain Ali Montazeri, uma das ferramentas mais úteis dos manifestantes foi o sinal de rádio de curto alcance do Bluetooth, que os americanos usam principalmente para ligar o celular a um fone de ouvido, ou uma impressora ao laptop. Há muito tempo, os dissidentes iranianos descobriram que o Bluetooth pode com a mesma facilidade ligar celulares entre si numa multidão. E isso deu origem ao verbo "bluetoothar" no Irã. Um manifestante "bluetootha" um vídeo para outros por perto, e estes fazem o mesmo. De repente, se as autoridades querem impedir que uma imagem escape do local, têm de confiscar centenas ou milhares de telefones e câmeras. Em novembro, as autoridades anunciaram que uma nova unidade policial, o "ciberexército", iria varrer a dissidência da web. Ela bloqueou notas do Twitter por algumas horas em dezembro e um site oposicionista. Mas outros blogs e sites brotaram mais rapidamente do que o governo poderia acompanhar.
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