sábado, 3 de abril de 2010

Quando um funcionário da Agência da Casa Imperial anunciou repentinamente que a princesa Aiko, 8, estava se recusando a ir à escola por ser vítima de "bullying", ele fez mais que simplesmente revelar o fato de um membro da antiga monarquia do Japão, que vive cercada por sigilo, enfrentar um problema mundano.
Ele também acrescentou um elemento a mais a um dos dramas mais intrigantes e misteriosos do Japão: os sete anos de depressão e isolamento da mãe de Aiko, a princesa herdeira Masako, ex-diplomata formada em Harvard. Aiko é a filha única de Masako e seu marido, o príncipe herdeiro Naruhito, e é fato sabido que é uma das poucas fontes de alegria da princesa herdeira, em meio a seus problemas.
O episódio voltou a chamar a atenção da impiedosa imprensa tabloide japonesa para a história infeliz da princesa Masako. A mídia descreveu seu casamento, em 1993, como a união de conto de fadas entre uma plebeia e um príncipe. Porém, mais tarde, passou a criticar a incapacidade de Masako de ter um filho homem, que pudesse herdar o Trono de Crisântemo. Acredita-se que as pressões tenham contribuído para o que parece ter sido um colapso nervoso.
Desde o anúncio recente, a princesa Masako, 46, emergiu para levar sua filha à escola e até mesmo sentar-se ao lado de Aiko na sala de aula de segundo ano da princesinha. Alguns comentaristas especularam se os problemas de sua mãe não teriam deixado Aiko excessivamente sensível.
A dúvida agora é se a divulgação do fato de sua filha ter sofrido intimidação na escola vai deixar os japoneses mais solidários com a situação da princesa ou se vai intensificar as críticas a ela. Fontes dizem que os problemas de Aiko podem até reforçar os chamados de conservadores para que seu pai, de 50 anos, desista de ser sucessor do pai dele, o imperador Akihito, 76.
"Muitas pessoas não querem que os futuros imperador e imperatriz venham de uma família tão pouco saudável", disse Akira Hashimoto, autor de livros sobre a família imperial. "Se os problemas de Aiko continuarem, isso vai colocar mais pressão sobre o príncipe."
O caso começou quando o grão-mestre da Agência da Casa Imperial, Issei Nomura, que administra os assuntos do príncipe herdeiro e sua família, disse em uma entrevista coletiva que Aiko estava faltando à escola devido a dores de estômago e ataques de ansiedade. Então Nomura disse acreditar que a princesa tinha sido alvo de "atos violentos" por parte de meninos em sua escola. Ele não deu detalhes.
Feita aparentemente de improviso, a queixa foi bastante incomum, vinda de um integrante do círculo interno da tradicional família imperial japonesa, e imediatamente desencadeou uma cobertura frenética por parte da mídia.
Respondendo aos comentários do grão-mestre, o diretor da escola, Motomasa Higashisono, disse que Aiko se assustou quando dois meninos quase colidiram com ela por acidente, quando corriam pelos corredores da escola.
De forma indireta, a saga também intensificou as preocupações de conservadores que têm dúvidas quanto às condições do príncipe Naruhito de assumir o trono.
Naruhito compartilhou a culpa pelo fato de sua mulher não ter tido um filho homem, fato que motivou uma discussão politicamente carregada sobre a conveniência de se romper com séculos de tradição e permitir que uma mulher assumisse o Trono de Crisântemo, uma das monarquias hereditárias mais antigas do mundo.
A discussão foi encerrada três anos atrás, quando a mulher do irmão mais jovem do príncipe herdeiro, o príncipe Akishino, deu à luz um filho, garantindo a presença de um sucessor do sexo masculino por ao menos mais uma geração.
Para outros, entretanto, o incidente da escola pode ter o efeito oposto. "Isto vai mostrar ao público que a princesa Masako tem problemas iguais aos nossos", disse Takeshi Hara, professor da Universidade Meiji Gakuin e especialista na monarquia. "Isso pode acabar gerando mais apoio para ela e para o príncipe herdeiro."


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