Há seis anos, após renunciar como líder de seu partido político após um escândalo de pensão, Naoto Kan salvou sua carreira política ao fazer uma demonstração incomum de expiação, ao raspar sua cabeça e vestir a vestimenta branca de peregrino budista para passar 11 dias caminhando por um famoso circuito de templos.
Agora, como novo primeiro-ministro do Japão, o quinto líder do país em apenas quatro anos, Kan precisará do mesmo talento para sobrevivência política para evitar o destino de seus antecessores de passagem breve e, particularmente, do homem que está substituindo, o impopular Yukio Hatoyama.
Kan, que foi eleito primeiro-ministro na sexta-feira por uma votação no Parlamento, herda os mesmos problemas que levaram Hatoyama a renunciar na quarta-feira, após apenas oito meses no cargo, começando por uma série de escândalos financeiros políticos e o futuro ainda incerto de uma base aérea americana em Okinawa. Ele também precisa restaurar a fé pública em seu Partido Democrático de governo, que pareceu ter perdido o rumo desde que assumiu o poder após a eleição em meados do ano passado.
E essas são as coisas fáceis. Ele também precisa lidar com os enormes problemas deste gigante asiático enfermo que seus antecessores não conseguiram resolver: um sistema político impassível, uma dívida pública inchada e quase duas décadas de desaceleração econômica que mostra poucos sinais de ceder.
Apesar de permanecer longe de claro se ele estará a altura dessas tarefas, uma coisa é certa: ao recorrerem a Kan, os democratas escolheram um veterano político experiente que provavelmente será um tipo de líder muito diferente do ineficaz Hatoyama.
De fato, Kan, 63 anos, tem uma origem muito diferente da maioria dos líderes políticos japoneses. Enquanto os políticos daqui costumam ser ex-membros da elite burocrática ou herdeiros de famílias políticas, Kan é um ex-ativista cívico que ascendeu na oposição progressista do país até se tornar um dos fundadores do Partido Democrático.
Como ministro da Saúde em 1996, ele ganhou reputação nacional ao combater a poderosa burocracia do Japão, quando forçou os funcionários do ministério a divulgarem documentos mostrando que permitiram conscientemente o uso público de produtos de sangue apesar do risco de estarem contaminados pelo vírus HIV.
Ele também teve sua cota de tropeços. Além da renúncia como presidente do Partido Democrático, em 2004, após deixar de fazer os pagamentos obrigatórios ao sistema nacional de pensão, ele também reconheceu em 1998 ter tido um caso extraconjugal com uma apresentadora de noticiário de TV.
Analistas políticos descreveram Kan como uma pessoa que fala sem rodeios e que será muito mais pragmático do que Hatoyama, que vacilou por meses sobre se cumpriria a promessa de campanha de retirar uma base aérea militar americana de Okinawa. Kan também deverá dar ao seu governo uma direção mais claramente definida do que Hatoyama, cuja incapacidade de impedir seus ministros de expressarem opiniões divergentes fez com que seu governo fosse apelidado de “jardim de infância Hatoyama”.
“Ele não manterá você em suspense, como fazia Hatoyama”, disse Takeshi Sasaki, um analista político e ex-presidente da Universidade de Tóquio.
Durante a breve campanha para se tornar primeiro-ministro, Kan enfatizou sua formação diferente, caracterizando-se como um homem que venceu por esforço próprio, diferente de Hatoyama, um parlamentar de quarta geração que veio de uma das famílias políticas mais poderosas do Japão.
"Eu venho de um lar de colarinho branco comum”, disse Kan, cujo pai foi um executivo de uma empresa fabricante de vidros. “Se um político nascido na base popular política pode ascender a um cargo tão elevado, eu acho que isso será algo novo para o Japão.”
Antes mesmo de vencer a eleição de sexta-feira, Kan buscava se distanciar de Hatoyama. Ele prometeu focar os democratas em questões mais próximas dos corações e bolsos dos eleitores, dizendo que sua maior prioridade é reduzir os déficits orçamentários e aumentar o crescimento econômico, criando empregos e revertendo a deflação punidora do Japão.
“Eu quero criar um governo que possa implantar políticas para romper os 20 anos de estagnação do Japão”, ele disse.
Ele também deverá levar adiante a principal promessa de campanha dos democratas, de transferir o poder da elite burocrática de Tóquio, os líderes de fato do país desde a Segunda Guerra Mundial, para políticos eleitos.
No governo Hatoyama, Kan serviu como batedor na reforma administrativa, que foi um motivo para ter sido colocado no comando do Ministério das Finanças, o mais poderoso dos ministérios centrais de Tóquio.
O que está menos claro é como ele lidará com as relações exteriores do Japão e particularmente sua aliança militar do pós-guerra com os Estados Unidos, após ter passado grande parte de sua carreira concentrado em questões domésticas como saúde e bem-estar social.
Pelo menos inicialmente, ele aparentemente seguirá as políticas de Hatoyama. Ele repetiu seu antecessor ao falar em uma melhoria dos laços com a China e na criação de uma Comunidade do Leste Asiático. Ele também chamou a aliança entre Estados Unidos e Japão de pedra angular da política externa japonesa, e disse que cumpriria o acordo de Hatoyama com o governo Obama para transferência da base em Okinawa.
Ainda assim, restam dúvidas sobre se Kan poderá cumprir o acordo do mês passado, quando qualquer tentativa para construção de uma nova base certamente enfrentará resistência feroz dos moradores de Okinawa. Nem está claro como Kan, que dizem ser pavio curto, reagiria caso o governo Obama tentasse pressioná-lo como fez com Hatoyama.
“Ele deseja um bom relacionamento com os Estados Unidos, mas também reage de forma mais dura do que Hatoyama”, disse Gerald Curtis, um professor de política japonesa na Universidade de Colúmbia.
Os analistas descrevem Kan não apenas como um melhor orador público, mas também como tendo um gosto por demonstrações políticas que também pode ajudá-lo. A peregrinação budista lhe rendeu vários dias de cobertura positiva pela televisão. Durante um caso de contaminação alimentar em meados dos anos 90, ele foi a TV e comeu os rabanetes para provar que eram seguros.
“Mais do que qualquer outra coisa, o que o Japão quer agora é alguém que assuma o comando e transmita a sensação de confiança”, disse Daniel C. Sneider, um pesquisador sobre o Leste Asiático da Universidade de Stanford. “Kan tem uma reputação e retrospecto de líder decidido. Hatoyama provou ser tudo menos isso.”
Agora, como novo primeiro-ministro do Japão, o quinto líder do país em apenas quatro anos, Kan precisará do mesmo talento para sobrevivência política para evitar o destino de seus antecessores de passagem breve e, particularmente, do homem que está substituindo, o impopular Yukio Hatoyama.
Kan, que foi eleito primeiro-ministro na sexta-feira por uma votação no Parlamento, herda os mesmos problemas que levaram Hatoyama a renunciar na quarta-feira, após apenas oito meses no cargo, começando por uma série de escândalos financeiros políticos e o futuro ainda incerto de uma base aérea americana em Okinawa. Ele também precisa restaurar a fé pública em seu Partido Democrático de governo, que pareceu ter perdido o rumo desde que assumiu o poder após a eleição em meados do ano passado.
E essas são as coisas fáceis. Ele também precisa lidar com os enormes problemas deste gigante asiático enfermo que seus antecessores não conseguiram resolver: um sistema político impassível, uma dívida pública inchada e quase duas décadas de desaceleração econômica que mostra poucos sinais de ceder.
Apesar de permanecer longe de claro se ele estará a altura dessas tarefas, uma coisa é certa: ao recorrerem a Kan, os democratas escolheram um veterano político experiente que provavelmente será um tipo de líder muito diferente do ineficaz Hatoyama.
De fato, Kan, 63 anos, tem uma origem muito diferente da maioria dos líderes políticos japoneses. Enquanto os políticos daqui costumam ser ex-membros da elite burocrática ou herdeiros de famílias políticas, Kan é um ex-ativista cívico que ascendeu na oposição progressista do país até se tornar um dos fundadores do Partido Democrático.
Como ministro da Saúde em 1996, ele ganhou reputação nacional ao combater a poderosa burocracia do Japão, quando forçou os funcionários do ministério a divulgarem documentos mostrando que permitiram conscientemente o uso público de produtos de sangue apesar do risco de estarem contaminados pelo vírus HIV.
Ele também teve sua cota de tropeços. Além da renúncia como presidente do Partido Democrático, em 2004, após deixar de fazer os pagamentos obrigatórios ao sistema nacional de pensão, ele também reconheceu em 1998 ter tido um caso extraconjugal com uma apresentadora de noticiário de TV.
Analistas políticos descreveram Kan como uma pessoa que fala sem rodeios e que será muito mais pragmático do que Hatoyama, que vacilou por meses sobre se cumpriria a promessa de campanha de retirar uma base aérea militar americana de Okinawa. Kan também deverá dar ao seu governo uma direção mais claramente definida do que Hatoyama, cuja incapacidade de impedir seus ministros de expressarem opiniões divergentes fez com que seu governo fosse apelidado de “jardim de infância Hatoyama”.
“Ele não manterá você em suspense, como fazia Hatoyama”, disse Takeshi Sasaki, um analista político e ex-presidente da Universidade de Tóquio.
Durante a breve campanha para se tornar primeiro-ministro, Kan enfatizou sua formação diferente, caracterizando-se como um homem que venceu por esforço próprio, diferente de Hatoyama, um parlamentar de quarta geração que veio de uma das famílias políticas mais poderosas do Japão.
"Eu venho de um lar de colarinho branco comum”, disse Kan, cujo pai foi um executivo de uma empresa fabricante de vidros. “Se um político nascido na base popular política pode ascender a um cargo tão elevado, eu acho que isso será algo novo para o Japão.”
Antes mesmo de vencer a eleição de sexta-feira, Kan buscava se distanciar de Hatoyama. Ele prometeu focar os democratas em questões mais próximas dos corações e bolsos dos eleitores, dizendo que sua maior prioridade é reduzir os déficits orçamentários e aumentar o crescimento econômico, criando empregos e revertendo a deflação punidora do Japão.
“Eu quero criar um governo que possa implantar políticas para romper os 20 anos de estagnação do Japão”, ele disse.
Ele também deverá levar adiante a principal promessa de campanha dos democratas, de transferir o poder da elite burocrática de Tóquio, os líderes de fato do país desde a Segunda Guerra Mundial, para políticos eleitos.
No governo Hatoyama, Kan serviu como batedor na reforma administrativa, que foi um motivo para ter sido colocado no comando do Ministério das Finanças, o mais poderoso dos ministérios centrais de Tóquio.
O que está menos claro é como ele lidará com as relações exteriores do Japão e particularmente sua aliança militar do pós-guerra com os Estados Unidos, após ter passado grande parte de sua carreira concentrado em questões domésticas como saúde e bem-estar social.
Pelo menos inicialmente, ele aparentemente seguirá as políticas de Hatoyama. Ele repetiu seu antecessor ao falar em uma melhoria dos laços com a China e na criação de uma Comunidade do Leste Asiático. Ele também chamou a aliança entre Estados Unidos e Japão de pedra angular da política externa japonesa, e disse que cumpriria o acordo de Hatoyama com o governo Obama para transferência da base em Okinawa.
Ainda assim, restam dúvidas sobre se Kan poderá cumprir o acordo do mês passado, quando qualquer tentativa para construção de uma nova base certamente enfrentará resistência feroz dos moradores de Okinawa. Nem está claro como Kan, que dizem ser pavio curto, reagiria caso o governo Obama tentasse pressioná-lo como fez com Hatoyama.
“Ele deseja um bom relacionamento com os Estados Unidos, mas também reage de forma mais dura do que Hatoyama”, disse Gerald Curtis, um professor de política japonesa na Universidade de Colúmbia.
Os analistas descrevem Kan não apenas como um melhor orador público, mas também como tendo um gosto por demonstrações políticas que também pode ajudá-lo. A peregrinação budista lhe rendeu vários dias de cobertura positiva pela televisão. Durante um caso de contaminação alimentar em meados dos anos 90, ele foi a TV e comeu os rabanetes para provar que eram seguros.
“Mais do que qualquer outra coisa, o que o Japão quer agora é alguém que assuma o comando e transmita a sensação de confiança”, disse Daniel C. Sneider, um pesquisador sobre o Leste Asiático da Universidade de Stanford. “Kan tem uma reputação e retrospecto de líder decidido. Hatoyama provou ser tudo menos isso.”
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