Aproximadamente dois anos atrás, Rowdha Yousef começou a notar uma tendência perturbadora: mulheres sauditas como ela estavam organizando campanhas por mais liberdade pessoal.
Ela ficou especialmente surpresa no ano passado, quando leu reportagens sobre uma ativista do leste da Arábia Saudita, Wajeha al Huwaider, que foi à fronteira com Bahrein e pediu para atravessar usando só seu passaporte, sem um acompanhante homem ou a autorização por escrito de um guardião.
Huwaider não teve permissão para deixar o país desacompanhada e, como outras mulheres sauditas que fazem campanha por novos direitos, não conseguiu -até agora- mudar as leis ou os costumes vigentes.
Mas Yousef continua revoltada, e em agosto passou a atacar as ativistas com as mesmas armas. Com outras 15 mulheres, iniciou a campanha "Meu guardião sabe o que é melhor para mim". Em dois meses elas haviam reunido mais de 5.400 assinaturas em um abaixo-assinado, pedindo "punições para aqueles que pedem igualdade entre homens e mulheres, a mistura de homens com mulheres em ambientes mistos e outros comportamentos inaceitáveis".
A luta de Yousef contra as supostas liberalizadoras faz parte de uma polêmica maior na sociedade saudita sobre os direitos das mulheres, que subitamente tornou o fator feminino uma questão importante para reformistas e conservadores que lutam para moldar o futuro da Arábia Saudita.
Yousef, 39, divorciada e mãe de três crianças (de 13, 12 e nove anos), é mediadora voluntária em casos de agressão doméstica. Uma mulher alta e confiante, com modos efusivos e sandálias de salto alto brilhantes, sua conversa abrange do racismo no reino (Yousef tem ascendência somali e chama a si mesma de saudita negra) a sua admiração por Hillary Clinton e às agressões que ela diz ter sofrido nas mãos das liberais sauditas.
Ela acredita que a maioria das sauditas compartilha seus valores conservadores, mas insiste em que a adesão à sharia (lei islâmica) e aos costumes familiares não precisa restringir a mulher que quer ter voz ativa. As ativistas no campo das reformas, ela diz, são influenciadas por ocidentais que não compreendem as necessidades e as crenças das sauditas.
"Esses grupos de direitos humanos vêm e só escutam um lado, o das que pedem liberdade para as mulheres", ela disse. Toda mulher saudita, independentemente da idade ou da posição social, deve ter um parente homem que atue como seu guardião e tenha responsabilidade e autoridade sobre ela em uma série de questões legais e pessoais.
Yousef, cujo guardião é seu irmão mais velho, diz que ela desfruta de grande liberdade enquanto respeita as regras de sua sociedade. Ela diz que pôde começar sua campanha, por exemplo, sem pedir a permissão de seu guardião.
O esforço de Yousef pode parecer supérfluo. Afinal, as mulheres sauditas ainda não podem dirigir carros ou votar e são obrigadas a vestir mantos até os pés, conhecidos como abayas, e lenços na cabeça fora de casa.
As mulheres não podem comparecer ao tribunal e, embora possam se divorciar por meio de breves declarações verbais de seus maridos, frequentemente acham difícil obter o divórcio elas mesmas. Os pais podem casar filhas de dez anos, prática defendida pela mais alta autoridade religiosa, o grande mufti Abdul Aziz al Sheikh.
A separação de gêneros na vida pública saudita é radical -há lojas só para mulheres, filas só para mulheres nos restaurantes de fast food e escritórios só para mulheres em empresas privadas.
Membros da hai'a, o Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, um órgão governamental, patrulha para garantir que não ocorra a ikhtilat, ou "mistura" dos sexos.
Enquanto conservadoras como Yousef atribuem a recente mobilidade das ativistas pró-direitos à influência ocidental, as liberais dizem que o próprio rei Abdullah apoia cautelosamente mais liberdade para as mulheres sauditas.
O rei de 85 anos apareceu em jornais ao lado de mulheres sauditas com o rosto descoberto, uma situação que antes seria inimaginável. No ano passado, ele indicou uma mulher para um cargo de vice-ministra.
O xeque Ahmad al Ghamdi, chefe do ramo de Meca do Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, causou sensação quando disse ao jornal "The Okaz" que a mistura de gêneros faz "parte da vida normal". Já o xeque Abdul Rahman al Barrak emitiu, em fevereiro, uma "fatwa" pedindo a morte dos defensores da mistura de gêneros.
Hatoon al Fassi, professora-assistente de história das mulheres na Universidade Rei Saud, em Riad, disse que a mudança será lenta. "As pessoas passaram a vida inteira fazendo uma coisa e acreditando em uma coisa, e de repente o rei e os principais religiosos estão dizendo que misturar-se é certo", disse Fassi.
Huwaider, a que foi criticada ao tentar atravessar a fronteira de Bahrein, concordou com a alegação de que a maioria dos homens sauditas "se orgulha de seu cavalheirismo". "Mas é o mesmo tipo de sentimento que eles têm pelas pessoas deficientes ou por animais", disse Huwaider.
Em um blog, Eman Fahad, 31, uma estudante de linguística, chamou a campanha de Yousef de um esforço para "se opor às mulheres que exigem ser tratadas como adultas".
Mas Fahad admitiu que a maioria das sauditas prefere a tradição. "Se você realmente conversar com as pessoas comuns", inclusive em seu círculo, disse, "verá que a maioria quer que as coisas fiquem como estão".
Ela ficou especialmente surpresa no ano passado, quando leu reportagens sobre uma ativista do leste da Arábia Saudita, Wajeha al Huwaider, que foi à fronteira com Bahrein e pediu para atravessar usando só seu passaporte, sem um acompanhante homem ou a autorização por escrito de um guardião.
Huwaider não teve permissão para deixar o país desacompanhada e, como outras mulheres sauditas que fazem campanha por novos direitos, não conseguiu -até agora- mudar as leis ou os costumes vigentes.
Mas Yousef continua revoltada, e em agosto passou a atacar as ativistas com as mesmas armas. Com outras 15 mulheres, iniciou a campanha "Meu guardião sabe o que é melhor para mim". Em dois meses elas haviam reunido mais de 5.400 assinaturas em um abaixo-assinado, pedindo "punições para aqueles que pedem igualdade entre homens e mulheres, a mistura de homens com mulheres em ambientes mistos e outros comportamentos inaceitáveis".
A luta de Yousef contra as supostas liberalizadoras faz parte de uma polêmica maior na sociedade saudita sobre os direitos das mulheres, que subitamente tornou o fator feminino uma questão importante para reformistas e conservadores que lutam para moldar o futuro da Arábia Saudita.
Yousef, 39, divorciada e mãe de três crianças (de 13, 12 e nove anos), é mediadora voluntária em casos de agressão doméstica. Uma mulher alta e confiante, com modos efusivos e sandálias de salto alto brilhantes, sua conversa abrange do racismo no reino (Yousef tem ascendência somali e chama a si mesma de saudita negra) a sua admiração por Hillary Clinton e às agressões que ela diz ter sofrido nas mãos das liberais sauditas.
Ela acredita que a maioria das sauditas compartilha seus valores conservadores, mas insiste em que a adesão à sharia (lei islâmica) e aos costumes familiares não precisa restringir a mulher que quer ter voz ativa. As ativistas no campo das reformas, ela diz, são influenciadas por ocidentais que não compreendem as necessidades e as crenças das sauditas.
"Esses grupos de direitos humanos vêm e só escutam um lado, o das que pedem liberdade para as mulheres", ela disse. Toda mulher saudita, independentemente da idade ou da posição social, deve ter um parente homem que atue como seu guardião e tenha responsabilidade e autoridade sobre ela em uma série de questões legais e pessoais.
Yousef, cujo guardião é seu irmão mais velho, diz que ela desfruta de grande liberdade enquanto respeita as regras de sua sociedade. Ela diz que pôde começar sua campanha, por exemplo, sem pedir a permissão de seu guardião.
O esforço de Yousef pode parecer supérfluo. Afinal, as mulheres sauditas ainda não podem dirigir carros ou votar e são obrigadas a vestir mantos até os pés, conhecidos como abayas, e lenços na cabeça fora de casa.
As mulheres não podem comparecer ao tribunal e, embora possam se divorciar por meio de breves declarações verbais de seus maridos, frequentemente acham difícil obter o divórcio elas mesmas. Os pais podem casar filhas de dez anos, prática defendida pela mais alta autoridade religiosa, o grande mufti Abdul Aziz al Sheikh.
A separação de gêneros na vida pública saudita é radical -há lojas só para mulheres, filas só para mulheres nos restaurantes de fast food e escritórios só para mulheres em empresas privadas.
Membros da hai'a, o Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, um órgão governamental, patrulha para garantir que não ocorra a ikhtilat, ou "mistura" dos sexos.
Enquanto conservadoras como Yousef atribuem a recente mobilidade das ativistas pró-direitos à influência ocidental, as liberais dizem que o próprio rei Abdullah apoia cautelosamente mais liberdade para as mulheres sauditas.
O rei de 85 anos apareceu em jornais ao lado de mulheres sauditas com o rosto descoberto, uma situação que antes seria inimaginável. No ano passado, ele indicou uma mulher para um cargo de vice-ministra.
O xeque Ahmad al Ghamdi, chefe do ramo de Meca do Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, causou sensação quando disse ao jornal "The Okaz" que a mistura de gêneros faz "parte da vida normal". Já o xeque Abdul Rahman al Barrak emitiu, em fevereiro, uma "fatwa" pedindo a morte dos defensores da mistura de gêneros.
Hatoon al Fassi, professora-assistente de história das mulheres na Universidade Rei Saud, em Riad, disse que a mudança será lenta. "As pessoas passaram a vida inteira fazendo uma coisa e acreditando em uma coisa, e de repente o rei e os principais religiosos estão dizendo que misturar-se é certo", disse Fassi.
Huwaider, a que foi criticada ao tentar atravessar a fronteira de Bahrein, concordou com a alegação de que a maioria dos homens sauditas "se orgulha de seu cavalheirismo". "Mas é o mesmo tipo de sentimento que eles têm pelas pessoas deficientes ou por animais", disse Huwaider.
Em um blog, Eman Fahad, 31, uma estudante de linguística, chamou a campanha de Yousef de um esforço para "se opor às mulheres que exigem ser tratadas como adultas".
Mas Fahad admitiu que a maioria das sauditas prefere a tradição. "Se você realmente conversar com as pessoas comuns", inclusive em seu círculo, disse, "verá que a maioria quer que as coisas fiquem como estão".
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