Fundada há três temporadas, a Primeira Liga Indiana conseguiu tornar sexy o esporte do críquete. Magnatas empresariais da Índia compraram times, astros de Bollywood infundiram aos jogos o glamour das celebridades, e fãs de Mumbai a Dubai ou Nova Jersey acompanharam o campeonato pela TV enquanto seu valor superou os US$ 4 bilhões.
Para muitos indianos, a liga, conhecida como IPL, tornou-se símbolo de uma nova Índia, dinâmica e confiante. Mas, depois de semanas de alegações de suborno e desvios financeiros, da renúncia de um ministro de governo e da suspensão do carismático comissário da liga, ela se tornou emblemática de outra coisa: o quanto a antiga e muitas vezes corrupta elite política e empresarial ainda domina o país.
"O grande problema da Índia é que criações como a IPL tornam-se vítimas de seu próprio sucesso", escreveu recentemente o editor-chefe da revista "India Today", Aroon Purie. "Onde há dinheiro envolvido, especialmente grandes somas, a corrupção não está longe."
O críquete pode parecer desinteressante para a maior parte do mundo, mas na Índia o esporte é uma obsessão, e por isso o escândalo do críquete assumiu tais proporções.
Fiscais do governo confiscaram registros contábeis, e a Câmara de Controle do Críquete na Índia, o órgão regulador do esporte, deverá realizar em breve uma audiência crucial com o comissário suspenso da liga, Lalit Kumar Modi.
Pessoas do meio retratam Modi como um visionário que dirigiu a liga por decreto e enriqueceu, junto com seus parentes, por meio de participações ocultas em times ou taxas de televisão e contratos de internet. Mas a câmara também está em posição comprometida.
É uma organização não governamental dominada por alguns dos políticos mais poderosos do país, como Arun Jaitley, líder do Partido Bharatiya Janata, de oposição, e Sharad Pawar, ministro da Agricultura.
Muitos comentaristas duvidam que a câmara possa ignorar totalmente os atos de Modi. Este diz que não fez nada errado. Mesmo antes do escândalo, a câmara foi criticada por falta de transparência e acusada de conflitos de interesse. Um membro do órgão também é o proprietário de um time da IPL.
Durante décadas, políticos tiveram influência no jogo. O críquete foi organizado em torno de times estaduais que competem em torneios regionais e nacional, com jogadores de elite selecionados para a equipe nacional da Índia.
Todo Estado tem uma associação de críquete, geralmente dirigida pelo principal ministro local ou algum político ou burocrata influente. Hoje, figuras políticas lideram associações de críquete em pelo menos seis Estados.
G. Rajaraman, antigo jornalista de críquete, disse que essas relações inicialmente beneficiavam o esporte, porque os políticos podiam ajudar um time a obter recursos.
Mas essa equação mudou quando o dinheiro começou a entrar no esporte, primeiro com a televisão, nos anos 1990, e depois com o advento da IPL. Logo, mais políticos tentaram obter o controle. Pawar, o ministro da Agricultura, assumiu a câmara nacional em 2005, com Modi como seu protegido.
Tendo morado nos Estados Unidos, Modi viu como as ligas comerciais, como a Associação Nacional de Basquete (NBA), promoviam astros e times locais para entusiasmar a torcida e gerar renda. O futebol europeu, especialmente a Primeira Liga britânica, já era transmitido pela TV em toda a Ásia, enquanto uma classe média emergente na Índia começava a descobrir os esportes como atividade de lazer. "Modi viu isso e disse: 'Precisamos criar nossos próprios ícones'", explicou Rajaraman.
Modi formatou a IPL como um produto feito para a TV. Ele irritou os puristas ao adotar uma versão condensada do esporte, que reduziu a duração de uma partida de um ou vários dias para três horas, mais adequada à televisão. Modi também introduziu as "cheerleaders" e estrelas de cinema.
O maior astro de Bollywood, Shah Rukh Khan, comprou uma parte de um time, e alguns torcedores pagaram centenas de dólares para ficar perto de jogadores, modelos e celebridades.
Os sites de celebridades na web começaram a publicar fotos das festas ou fofocas sobre que astros de Bollywood eram vistos nas arquibancadas. "Muitas mulheres começaram a assistir", disse Rajaraman. "Há muita gente que assiste para ver o que Shah Rukh Khan faz no final do jogo, ou que nova camiseta ele está vestindo."
Ramachandra Guha, historiador que escreveu um livro sobre críquete, disse que a IPL se adaptou às aspirações e à alienação de uma classe média indiana desiludida com a corrupção e a pobreza do país. Mas Guha disse que a organização da liga -com times situados nas cidades mais ricas do país, e não um em cada Estado- efetivamente reflete a profunda desigualdade social no país.
"É a Índia que vai bem economicamente", ele disse. "Ela ignora os outros 800 milhões de indianos que vivem no interior."
Para muitos indianos, a liga, conhecida como IPL, tornou-se símbolo de uma nova Índia, dinâmica e confiante. Mas, depois de semanas de alegações de suborno e desvios financeiros, da renúncia de um ministro de governo e da suspensão do carismático comissário da liga, ela se tornou emblemática de outra coisa: o quanto a antiga e muitas vezes corrupta elite política e empresarial ainda domina o país.
"O grande problema da Índia é que criações como a IPL tornam-se vítimas de seu próprio sucesso", escreveu recentemente o editor-chefe da revista "India Today", Aroon Purie. "Onde há dinheiro envolvido, especialmente grandes somas, a corrupção não está longe."
O críquete pode parecer desinteressante para a maior parte do mundo, mas na Índia o esporte é uma obsessão, e por isso o escândalo do críquete assumiu tais proporções.
Fiscais do governo confiscaram registros contábeis, e a Câmara de Controle do Críquete na Índia, o órgão regulador do esporte, deverá realizar em breve uma audiência crucial com o comissário suspenso da liga, Lalit Kumar Modi.
Pessoas do meio retratam Modi como um visionário que dirigiu a liga por decreto e enriqueceu, junto com seus parentes, por meio de participações ocultas em times ou taxas de televisão e contratos de internet. Mas a câmara também está em posição comprometida.
É uma organização não governamental dominada por alguns dos políticos mais poderosos do país, como Arun Jaitley, líder do Partido Bharatiya Janata, de oposição, e Sharad Pawar, ministro da Agricultura.
Muitos comentaristas duvidam que a câmara possa ignorar totalmente os atos de Modi. Este diz que não fez nada errado. Mesmo antes do escândalo, a câmara foi criticada por falta de transparência e acusada de conflitos de interesse. Um membro do órgão também é o proprietário de um time da IPL.
Durante décadas, políticos tiveram influência no jogo. O críquete foi organizado em torno de times estaduais que competem em torneios regionais e nacional, com jogadores de elite selecionados para a equipe nacional da Índia.
Todo Estado tem uma associação de críquete, geralmente dirigida pelo principal ministro local ou algum político ou burocrata influente. Hoje, figuras políticas lideram associações de críquete em pelo menos seis Estados.
G. Rajaraman, antigo jornalista de críquete, disse que essas relações inicialmente beneficiavam o esporte, porque os políticos podiam ajudar um time a obter recursos.
Mas essa equação mudou quando o dinheiro começou a entrar no esporte, primeiro com a televisão, nos anos 1990, e depois com o advento da IPL. Logo, mais políticos tentaram obter o controle. Pawar, o ministro da Agricultura, assumiu a câmara nacional em 2005, com Modi como seu protegido.
Tendo morado nos Estados Unidos, Modi viu como as ligas comerciais, como a Associação Nacional de Basquete (NBA), promoviam astros e times locais para entusiasmar a torcida e gerar renda. O futebol europeu, especialmente a Primeira Liga britânica, já era transmitido pela TV em toda a Ásia, enquanto uma classe média emergente na Índia começava a descobrir os esportes como atividade de lazer. "Modi viu isso e disse: 'Precisamos criar nossos próprios ícones'", explicou Rajaraman.
Modi formatou a IPL como um produto feito para a TV. Ele irritou os puristas ao adotar uma versão condensada do esporte, que reduziu a duração de uma partida de um ou vários dias para três horas, mais adequada à televisão. Modi também introduziu as "cheerleaders" e estrelas de cinema.
O maior astro de Bollywood, Shah Rukh Khan, comprou uma parte de um time, e alguns torcedores pagaram centenas de dólares para ficar perto de jogadores, modelos e celebridades.
Os sites de celebridades na web começaram a publicar fotos das festas ou fofocas sobre que astros de Bollywood eram vistos nas arquibancadas. "Muitas mulheres começaram a assistir", disse Rajaraman. "Há muita gente que assiste para ver o que Shah Rukh Khan faz no final do jogo, ou que nova camiseta ele está vestindo."
Ramachandra Guha, historiador que escreveu um livro sobre críquete, disse que a IPL se adaptou às aspirações e à alienação de uma classe média indiana desiludida com a corrupção e a pobreza do país. Mas Guha disse que a organização da liga -com times situados nas cidades mais ricas do país, e não um em cada Estado- efetivamente reflete a profunda desigualdade social no país.
"É a Índia que vai bem economicamente", ele disse. "Ela ignora os outros 800 milhões de indianos que vivem no interior."
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