Em um agradável dia de primavera, com o vento soprando do sul, a pitoresca cidade turística de Imjingak –com seu parque de diversões Terra da Paz, com suas barracas de souvenires e banca de frango do Popeye– dificilmente pareceria um possível estopim para hostilidades violentas entre a Coreia do Norte e a do Sul.
Imjingak, local de uma batalha feroz durante a Guerra da Coreia, se transformou em local favorito de lançamento para alguns ativistas sul-coreanos, que enviam balões de propaganda para o norte. A campanha de balões enfurece tanto a Coreia do Norte que seus militares ameaçaram –mais recentemente na última sexta-feira– bombardear “impiedosamente” Imjingak e outras cidades de fronteira se os lançamentos continuarem. Unidades de artilharia norte-coreanas estão posicionadas a poucos quilômetros de distância, do outro lado da fronteira mais militarizada do mundo.
Agora é temporada de balões, com ventos robustos soprando pela Península Coreana, e os ativistas estão ávidos por colocar seus balões e panfletos no ar. Alguns dos baloeiros são agitadores políticos, outros são proselitistas cristãos, desertores norte-coreanos em sua maioria. Se o vento estiver a favor, eles dizem, milhões de panfletos serão lançados nas próximas semanas.
“A Coreia do Norte disse que fará ataques cirúrgicos contra aqueles entre nós que enviarem balões, de modo que essa reação altamente alérgica mostra que o que estamos fazendo está funcionando”, disse Park Sang-hak, 43 anos, filho de um ex-espião norte-coreano que desertou juntamente com sua família em 1999.
Park atualmente chefia a Combatentes por uma Coreia do Norte Livre, um grupo de direitos humanos que se tornou o mais agressivo grupo sul-coreano lançador de balões.
Park e outros baloeiros têm seus oponentes políticos domésticos, principalmente as organizações que buscam um retorno à chamada política Luz do Sol da Coreia do Sul, que defende uma abordagem conciliatória em relação ao Norte. Alguns desses grupos tentam ocasionalmente sabotar os eventos de balões mais chamativos, e Park, que conta com proteção policial 24 horas desde 2008, já disparou uma arma de gás lacrimogêneo durante um confronto violento em Imjingak.
“São feitas ameaças contra ele com frequência”, disse um policial à paisana que estava protegendo Park antes de um recente lançamento.
Por grande parte da década anterior, o governo sul-coreano tentou impedir os lançamentos de balões, o que levou os ativistas a trabalharem clandestinamente. Mas a política mudou dramaticamente no primeiro semestre do ano passado, após o afundamento de um navio de guerra sul-coreano, o Cheonan, com a morte de 46 marinheiros. A Coreia do Sul atribuiu a culpa a um ataque com torpedo norte-coreano; a Coreia do Norte nega seu envolvimento.
“Nós tentamos persuadir os baloeiros a não fazerem nada porque afetava negativamente as relações intercoreanas”, disse um alto funcionário do Ministério da Unificação, falando anonimamente por não estar autorizado a comentar publicamente sobre o assunto. “Mas após o Cheonan, nossa posição mudou”, disse o funcionário. “Nós não os impedimos agora. É um assunto que deixamos para a polícia local.”
A polícia permite que os lançamentos de balões prossigam em Imjingak –não é necessária uma permissão especial– e ela intervém apenas quando há violência.
Park, um homem envolvente e cheio de energia, aperfeiçoou sua técnica juntamente com Lee Min-bok, um cristão evangélico e outras importantes figuras na campanha de balões. Em 2003, quando estavam à procura de uma forma de espetar o regime norte-coreano, eles começaram amarrando alguns poucos panfletos escritos à mão a pequenos balões de crianças comprados em lojas de artigos de festas.
Antes colegas dedicados, os homens agora são rivais amargos.
“Eu sou o original”, disse Lee, que foi um cientista agrícola na Coreia do Norte. Ele disse que fugiu em 1995, após suas sugestões para reformas econômicas não terem sido bem recebidas por seus superiores.
Sua operação é financiada por doações de igrejas e cristãos conservadores. Ele disse que lança 1.500 balões por ano e é responsável por 90% de todos os panfletos de propaganda enviados para a Coreia do Norte, aproximadamente 250 milhões até o momento.
Lee, que usa vários locais de lançamento secretos ao longo da fronteira, ridicularizou os lançamentos de Park em Imjingak como pouco mais que golpes publicitários. Ele disse que as condições dos ventos costumam ser tão desfavoráveis que os balões de Park frequentemente acabam voltando para a Coreia do Sul.
Park, por sua vez, chama Lee de um “cristão fanático” que foi afastado de seu grupo secular há vários anos, porque queria enfatizar a religião em seus panfletos.
Ambos os homens usam balões e técnicas semelhantes. Os balões tubulares, feitos de vinil, têm 12 metros de comprimento e são cheios com hidrogênio. (O hélio é mais seguro, dizem os ativistas, só que é mais caro.)
Os panfletos, geralmente impressos em uma película plástica à prova d’água, são levados em um saco de vinil na base de cada balão, aproximadamente 60 mil panfletos por balão. Eles apresentam mensagens calamitosas sobre a atrasada Coreia do Norte e o regime corrupto de Kim Jong-il. Um tema de contraponto –de que a Coreia do Sul é melhor em todos os aspectos– inclui mensagens positivas sobre a riqueza material e a liberdade política na Coreia do Sul.
Os ativistas às vezes enviam drives USB e DVDs, mas isso necessariamente significa menos panfletos.
Lee ocasionalmente envia pequenos rádios, aspirinas, canetas e pastilhas para indigestão. Mas ele nunca envia Bíblias, dizendo que os norte-coreanos seriam severamente punidos se fossem pegos com uma.
As mensagens de Park frequentemente contêm ataques altamente pessoais contra Kim, o líder norte-coreano, e ao plano dinástico para que seu filho mais novo assuma o poder. Um vídeo de rap em DVD inclui charges ridicularizando Kim como um travesti de salto alto, como um Elvis obeso em macacão branco e como um bêbado de nariz inchado com boné dos New York Yankees.
Os lançamentos de balões geralmente ocorrem em pontos isolados próximos da fronteira, apesar de Park preferir a zona turística de Imjingak por seu potencial de publicidade. Os moradores locais, apesar de concordarem com suas posições políticas, não gostam da presença dele. Por um lado, eles prefeririam não ficar na mira dos morteiros norte-coreanos. E como os eventos com balões aqui podem causar confrontos, muitos turistas sul-coreanos acabam evitando o local, o que enfurece muitos donos de negócios locais. Os ônibus de turismo acabam se dirigindo para outros lugares, as bancas de souvenires enfrentam dificuldades e o movimento nos restaurantes caiu mais de 50%.
Lee Nam-soon, 78 anos, sem nenhum parentesco com Lee Min-bok, está entre aqueles que desaprovam os lançamentos de balões como sendo um obstáculo para a paz com o Norte. Ela passa grande parte de suas manhãs em Imjingak, coletando assinaturas para uma petição pedindo por novas negociações internacionais para a desnuclearização da Coreia do Norte.
“Esses homens com balões, eles têm o direito de fazer isso”, ela disse. “Mas é infantil e tolo.”
“Eles são como meninos. Meninos brincando com fogo.
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