Autoridades agrícolas japonesas disseram que a carne de mais de 500 bois, provavelmente contaminados com césio radioativo, chegou aos supermercados e restaurantes de todo o país nas últimas semanas. As autoridades do país disseram que o gado comeu feno que tinha sido deixado ao ar livre e foi exposto à radiação da usina nuclear de Fukushima Daiichi.
As revelações intensificaram os temores sobre segurança alimentar, salientando a incapacidade do governo de controlar a disseminação de material radioativo nos alimentos. O feno contaminado foi encontrado em fazendas a mais de 140 km da usina de Fukushima, sugerindo que a poluição radioativa alcançou área maior do que se previa.
Ainda assim, por causa da severa falta de equipamento de medição e de os governos continuarem sobrecarregados pelo trabalho de reconstrução, somente uma pequena porcentagem de produtos agrícolas cultivados na região é checada para radiação.
O governo suspendeu as remessas agrícolas de um raio de cerca de 19 km da usina de Fukushima, assim como de outros "pontos quentes" de radiação. Mas as fazendas fora dessas áreas, mesmo aquelas relativamente próximas à usina, enfrentaram poucas restrições quanto à distribuição de seus produtos.
Por meses, o governo hesitou em impor uma proibição mais ampla aos produtos de Fukushima, apesar de descobertas esporádicas de produtos contaminados, para não causar mais confusão na área atingida pelo desastre, deixando mais milhares de pessoas sem trabalho e aumentando os pedidos de indenização para a empresa Tokyo Electric Power.
Mas, com o aumento dos casos de contaminação, o governo está agindo para proibir a distribuição de carne da Prefeitura de Fukushima, uma área de 14,5 mil quilômetros quadrados.
As autoridades japonesas insistem que, mesmo em níveis acima do limite oficial, o césio radiativo não terá consequências imediatas para a saúde. Os efeitos em prazo mais longo são menos conhecidos. Muitos especialistas dizem que a exposição prolongada à radiação pode provocar uma maior incidência de cânceres como leucemia.
"Se você a ingerir todos os dias, pode ser um problema", disse o ministro Goshi Hosono, encarregado da questão nuclear. As autoridades que testaram o feno dado ao gado em uma fazenda em Minamisoma, na Prefeitura de Fukushima, detectaram césio radioativo 250 vezes acima do limite oficial do Japão. A carne continha quase cinco vezes o limite.
Além disso, o gado de algumas áreas com altos índices de radioatividade foi testado para radiação na superfície do couro, antes de ser enviado ao mercado, mas essas medições não avaliam de modo suficiente se o gado foi exposto à radiação internamente, ao comer ração contaminada.
Enquanto isso, as autoridades de Fukushima dizem que estão iniciando inspeções em todas as cerca de 4 mil fazendas de gado na prefeitura a fim de garantir que nenhuma esteve usando feno radioativo. Os pecuaristas foram solicitados a acatar uma nova suspensão voluntária da distribuição de carne.
Yuta Furuyama, que tem 233 cabeças de gado em Minamisoma, tem certeza de que seu rebanho está imune. Seu gado é mantido em ambiente fechado, e a ração é armazenada em sacos plásticos grossos. "Espero que, finalmente, eles intensifiquem a verificação", ele disse.
Alguns fazendeiros passaram a vender os rebanhos por preços mais baixos do que os obtidos recentemente para os produtos de Fukushima. Depois que terminou o gado em uma grande fazenda na aldeia vizinha de Iitate, Akio Takahashi foi demitido. "Acabou", disse. "Ninguém mais vai querer comer carne de Fukushima."
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