Um dos homens mais temidos no setor global da produção de pérolas tem 40 anos, é musculoso, dirige uma Ferrari e está fazendo algo improvável: cultivando pérolas que, apesar do preço acessível, aproximam-se do que existe de melhor em termos de qualidade.
Zhan Weijian trabalha no centro-leste da China -bem longe do Taiti e de outros paraísos do cultivo de pérolas em água salgada, que custam muito mais.
Os preços no atacado para as pérolas brancas de 1 cm caíram cerca de 30% nos últimos anos, graças à invasão de pérolas chinesas de alta qualidade cultivadas em antigos arrozais.
Há duas décadas, a China é a maior produtora mundial de pérolas, inundando o mercado com pérolas pequenas e baratas, adequadas a bijuterias. Mas agora empresas como a de Zhan estão usando novas técnicas para entrar no nicho das pérolas tratadas como joias, que têm de 1 cm a quase 2,5 cm.
"A concorrência da China prejudicou", disse Robert Wan, cuja empresa, a Robert Wan Tahiti, domina a produção de pérolas taitianas, que são cultivadas em moluscos em água salgada e ajudam a estabelecer o padrão de qualidade. "Os preços são maleáveis", disse Wan, "e, se em um ou dois anos eles fizerem um enorme aumento da oferta, vamos ver o que acontece".
A indústria chinesa das pérolas é um microcosmo de como o país está indo além dos salários mal pagos e da imitação de produtores estrangeiros. Com o aumento dos salários pagos no país, as fazendas de pérolas estão começando a se automatizar.
"Os EUA têm se preocupado com o fato de a China fazer produtos baratos -deveriam se preocupar é com a China fazer produtos melhores", disse Bruce Rockowitz, executivo-chefe da Li & Fung, maior distribuidora de produtos chineses para redes americanas de varejo.
Uma pérola chinesa de 1 cm é vendida no atacado por US$ 4 a US$ 8 e por mais do que o dobro disso no varejo. Já uma pérola taitiana de tamanho semelhante é negociada por US$ 25 a US$ 35 no atacado.
A disparidade de preço reflete persistentes diferenças de tonalidade e brilho. Não é preciso ser joalheiro para discerni-las quando as pérolas chinesas são postas ao lado de pérolas marinhas. As primeiras são mais opacas.
Porém, a entrada da China nesse segmento do mercado "tornou as pérolas acessíveis para a mulher trabalhadora média", disse Joel Schechter, executivo-chefe da Honora, uma das maiores importadoras de pérolas chinesas em Manhattan.
Zhan é executivo-chefe da Grace Pearl, uma das maiores empresas de Zhuji, cidade na província de Zhejiang.
Embora fique contente com a recepção que suas pérolas de 1 cm têm encontrado no mercado, Zhan se mostra mais orgulhoso é com uma inovação que ele batizou de pérolas Edison -esferas roxas, rosas ou cor de bronze (tons raramente vistos a não ser em pérolas tingidas) em tamanhos de até 2 cm.
Ele e a Grace zelam rigorosamente por suas técnicas, mas Zhan disse que as Edison são emblemáticas da crescente sofisticação científica e tecnológica das pérolas chinesas. Ele as batizou em alusão a Thomas Edison.
A Grace tem uma estreita parceria com a Universidade de Zhejiang para sequenciar todo o genoma do mexilhão no qual são cultivadas as pérolas de água doce, na esperança de usar essas informações para desenvolver pérolas ainda melhores.
Empresas como a Grace, onde os trabalhadores ganham de US$ 15 a US$ 23 por dia, estão recorrendo à automação, já que a mão de obra pode totalizar até um terço do custo de cultivar as pérolas, sem falar que a máquina seleciona toneladas delas, levando em conta o tamanho, a cor, a forma e as manchas de cada uma.
Qiu Xian, diretor de pesquisas da Grace, mostrou máquinas experimentais de catalogação, do tamanho de um guarda-roupa, projetadas por ele. Cada máquina despeja uma pérola a cada vários segundos e a fotografa sob diferentes ângulos durante a queda. Instantaneamente, o equipamento analisa as fotografias, além de apanhar a pérola e jogá-la numa canaleta para cair em um cesto com outras pérolas semelhantes.
Cada máquina pode funcionar 24 horas por dia, segundo Qiu, substituindo o trabalho realizado por 15 operários.
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