sábado, 19 de novembro de 2011

Andar de camelo para ver as grandes pirâmides de perto era parte da atração que Farag Abu Ghaneima oferecia a turistas dezenas de vezes por dia, mas recentemente ele vendeu três de seus cinco camelos para o açougueiro.
Suas duas charretes a cavalo ficam ociosas muitos dias e ele manteve 3 dos 15 empregados.
"Mal conseguimos ganhar o suficiente para comer, muito menos para alimentar os cavalos e camelos", disse Abu Ghaneima, apontando para as costelas e ancas descarnadas dos animais que andam em volta de uma bela praça em seu povoado, perto da Esfinge. "A revolução foi formidável, mas ninguém imaginava as consequências."
A euforia com a primavera política do Egito deu lugar a uma temporada de insatisfação. Há uma sensação disseminada de que o Egito está ficando novamente estagnado, enquanto o governo provisório se mostra vacilante.
O turismo, um pilar da economia do qual dependem 15 milhões de pessoas, continua em baixa. Greves frequentes prejudicam ainda mais os serviços públicos,
de transportes a hospitais.Manifestações em massa que descambam em rixas sectárias deixam a população temerosa de que a anarquia se instale.
Com o início da campanha pelas eleições parlamentares, marcadas para 28 de novembro, a proliferação de mais de 55 partidos e cerca de 6.600 candidatos para 498 cargos inspira confusão.
Na frente econômica, as fontes de renda mais importantes do Egito se mantêm firmes, com a exceção do turismo. Os outros pilares da economia-venda de petróleo e gás; rendimentos do Canal de Suez e remessas monetárias de trabalhadores no exterior- estão estáveis ou aumentando, segundo o Banco Central. Tais fontes de renda, porém, fazem pouco mais do que escorar uma economia fragilizada. No geral, a atividade econômica está paralisada há meses, com crescimento esperado de menos de 2% este ano comparado ao índice robusto de 7% em 2010. As taxas de desemprego subiram de 9% para no mínimo 12%. O investimento estrangeiro é irrisório. O tumulto revolucionário atingiu mais duramente o turismo.
Quase 15 milhões de turistas visitaram o Egito em 2010, o que foi um recorde, mas os números encolheram 42% em setembro deste ano, disse Amr Elezabi, presidente do órgão oficial de turismo do Egito, acarretando um prejuízo de US$ 3 bilhões. Sempre que os turistas começam a voltar, há nova queda após rebeliões.
O órgão de turismo até tentou capitalizar a revolta, mas não funcionou. "Não se pode vender o Egito mostrando a praça Tahrir", Elezabi disse.
Parte da culpa pelas atuais dificuldades econômicas do Egito, porém, é do conselho de ministros, que se reporta ao conselho militar no poder. Cientes de que vários empresários ligados ao governo do presidente Hosni Mubarak foram condenados por corrupção e estão presos, os ministros relutam em liberar novos projetos. "As regras burocráticas normais ficaram mais rígidas", disse Hisham A. Fahmy, diretor da Câmara Americana de Comércio no Egito.
O tema básico de muitas conversas é porque está havendo tão pouca mudança no Egito.
Os generais no poder e seus apoiadores argumentam que manifestações constantes mina mas tentativas de restaurar a estabilidade e a economia. Ativistas acusam os generais de ressuscitarem os métodos de Mubarak
para se manter no poder.Os militares tomam medidas draconianas para calar os críticos.
Ativistas reconhecem que derrubar Mubarak foi a parte fácil.
"A maioria dos que participaram da revolução ficou satisfeita com a queda de Mubarak", disse a doutora Mona Mina, uma pediatra copta que ajudou a liderar uma paralisação das atividades dos médicos em todo o país. "O pessoal comemorou a vitória antes de definir uma autoridade para monitorar as transformações exigidas pela revolução."

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