Eles já levaram pauladas ou foram perseguidos por seguranças que atiravam pedras. Alguns foram espancados, roubados e jogados em remotos campos agrícolas.
Em um ano desde que o advogado cego Chen Guangcheng foi liberado da cadeia e imediatamente posto sob prisão domiciliar, várias almas destemidas já foram rechaçadas em suas tentativas de furar o cordão de capangas em torno da aldeia dele, na província de Shandong. Jornalistas estrangeiros e diplomatas europeus que tentaram visitá-lo não se saíram melhor.
Mas, nas últimas semanas, o tímido fluxo de visitantes se transformou numa campanha, com dezenas de admiradores de todo o país empreendendo a viagem, segundo grupos de direitos humanos.
Inspirados numa corrente de mensagens em microblogs, com a qual às vezes os censores não dão conta de lidar, os ativistas continuam sendo barrados.
Mas a campanha -Operação Chen Guangcheng Livre- chama a atenção para uma figura que as autoridades partidárias de Shandong há anos lutam para silenciar, e revela um tipo de punição extrajudicial que Pequim prefere ocultar.
"Eu não podia acreditar que algo tão ruim e sombrio pudesse acontecer no meu país, então precisei ver por conta própria", disse o vendedor de computadores Hu Xuming, 38, parte de um grupo que foi atacado na estrada para a aldeia de Dongshigu. A campanha também está revigorando os poucos mas persistentes ativistas chineses de direitos humanos, depois de uma onda de oito meses de repressão contra dissidentes, que motivou dúzias de detenções.
Vários blogueiros e escritores proeminentes recentemente viajaram a Shandong, e um círculo ainda mais amplo de acadêmicos, advogados e ensaístas se somou ao movimento, que constituiu uma rara onda de desobediência civil.
Hu Jia, um conhecido dissidente libertado recentemente da prisão, publicou na internet uma foto em que aparece de óculos escuros e com uma camiseta que diz "Liberte Chen Guangcheng".
O historiador Lei Yu, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, escreveu um poema lamentando o sofrimento de Chen, e o economista Mao Yushi disse que os maus tratos a Chen podem gerar desarmonia social.
"As dificuldades extremas que ele tem encontrado abalam os fundamentos da justiça em nossa sociedade", escreveu. Em um ato de teatro de guerrilha em meados de outubro, ativistas em Pequim colaram um cartaz em frente ao escritório de representação de Shandong, acusando as autoridades de prejudicarem a imagem da China.
Chen, 39, advogado autodidata, cego desde a infância, ajudava deficientes a obterem benefícios públicos e auxiliava agricultores que contestavam desapropriações fundiárias ilegais.
Mas, em 2005, as autoridades de Shandong se voltaram contra ele quando Chen tentou defender milhares de vítimas de um coercitivo programa de planejamento familiar.
Um ano depois, num julgamento que muitos juristas apontaram como uma farsa, uma corte local o condenou por destruir propriedades e organizar uma multidão para bloquear o tráfego no período em que ele esteve sob prisão judicial.
Em setembro do ano passado, ele concluiu sua pena de 51 meses de reclusão.
Desde que deixou a cadeia, Chen, sua esposa e sua filha pequena estão confinados em sua casa, sem telefone nem acesso à internet. Guardas se revezam dia e noite em frente ao imóvel.
Segundo os ativistas, Chen e sua mulher, Yuan Weijing, foram espancados neste ano por autoridades depois que um vídeo detalhando a detenção surgiu na internet.
Em uma carta que circulou fora da aldeia, Yuan descreveu como as autoridades posteriormente confiscaram os equipamentos eletrônicos e documentos da família, cortaram a energia elétrica da casa e vedaram as janelas com chapas de metal.
Um carro cheio de deficientes físicos recentemente viajou da vizinha província de Anhui para manifestar apoio a Chen. "Só queríamos que Chen Guangcheng soubesse que não está sozinho", disse Zhou Weilin, 46, que perdeu um braço em um acidente industrial.
O grupo não foi atacado, mas seus membros não despertaram muita simpatia dos guardas, que os empurraram de volta para o carro e ainda tentaram roubar o leite que o grupo levava para Chen.
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