Para muitas mulheres que moram aqui, a lista dos "100 Lugares Mais Perigosos" de Déli compilada pela Whypoll, uma rede social de cidadãos, evoca associações desagradáveis.
Dhaula Kuan, o bairro que está no topo da lista, é onde, em 2010, uma jovem funcionária de um call center que voltava de casa para o trabalho foi sequestrada e estuprada por um grupo de homens num carro. Em segundo lugar está Nelson Mandela Marg, a rua em que a jornalista Sowmya Viswanathan foi roubada e baleada por quatro homens em 2009.
A estação de metrô Ghitorni é onde, este ano, uma mulher foi arrastada para fora do carro de seus parentes e sequestrada por cinco homens em outro carro depois de uma discussão entre os dois grupos.
Quando o Escritório Nacional de Estatísticas Criminais do governo divulgou seus números para o último mês de 2010, poucos ficaram surpresos com o fato de que, mais uma vez, Déli estava em primeiro lugar na índia em casos de estupro denunciados. Uma alta incidência de outros crimes, como sequestros e assassinatos relacionados a dotes de casamento, reforça a crença generalizada de que a capital indiana pode ser perigosa para as mulheres.
Agora, a Whypoll, que foi fundada em 2008 por dois jornalistas, Hindol Sengupta e Shweta Punj, está entrando em ação. Depois de mapear os lugares mais perigosos de Déli a partir de denúncias fornecidas por mais de 50 mil cidadãos que compartilharam as experiências de assédio e violência contra mulheres, a Whypoll lançará, ainda este mês, o primeiro aplicativo de celular de emergência para mulheres na Índia.
O aplicativo FightBack tem como objetivo dar às mulheres a capacidade de reportar crimes e pedir ajuda por meio de uma variedade de plataformas, usando redes sociais como o Twitter e o Facebook, bem como o site da Whypoll.
"Ambos crescemos em Déli", disse Punj, "e a violência contra as mulheres é um problema tão óbvio e gritante. Sentíamos que deveria haver uma forma de lidar melhor com as preocupações das mulheres."
Levou um ano para desenvolver o aplicativo FightBack, que pretende combater o que muitos acreditam ser uma resistência crônica em reportar os crimes na capital. Por exemplo, a Comissão Nacional para Mulheres, uma agência do governo, registrou 526 queixas de assédio de mulheres de Déli, somente este ano, que não foram relatadas à polícia, e observou que as reclamações contra a apatia da polícia eram comuns.
O Departamento de Polícia de Déli tem uma seção dedicada aos Crimes Contra Mulheres, que foi estabelecida em 1983, em resposta à falta de treinamento para lidar com crimes contra mulheres, como escreveu o ex-comissário adjunto de polícia Kanwaljeet Deol.
"A sensibilidade do policial médio ao lidar com uma mulher assediada e assustada deixa muito a desejar", escreveu Deol num artigo sobre a conduta da polícia em 2005. Seis anos depois, a seção especial parece ter feito uma diferença, mas muitas mulheres continuam relutantes em ir à delegacia, com medo da polícia ou por pressão da família para não relatar os crimes.
É aí que o FightBack espera fazer a diferença.
"Há uma falta de dados concretos sobre os crimes contra mulheres", disse Sengupta, que acredita que a disponibilidade de mais informações - sobre a natureza da violência que as mulheres enfrentam e os lugares onde ela é mais provável - é crucial para mudar a situação.
Em seu primeiro ano, o aplicativo FightBack será um download pago, vendido por menos de 100 rúpias, ou cerca de US$ 2, e será em inglês, antes de ser lançado em hindi e outras línguas indianas.
"Pensamos em distribui-lo de graça", disse Punj. "Mas 100 rúpias é uma taxa única bem barata, e os indianos dificilmente respeitam coisas gratuitas. As pessoas levarão mais a sério se tiverem que fazer um pequeno investimento."
O aplicativo FightBack, que atualmente está sendo testado por pequenos grupos de usuários, permite às mulheres reportarem assédios ou violência de diversos níveis, quer sejam comentários obscenos ou ataques físicos. O usuário pode programar até cinco números de telefones para quem uma mensagem de texto com informações de GPS será enviada no caso de uma emergência.
"Incluímos o número de Socorro da Polícia de Déli como um dos números que as mulheres podem incluir em sua lista", diz Sengupta, "e estamos muito interessados em ver quantas mulheres escolherão esta opção."
A ideia de usar crowdsourcing para atacar a violência contra as mulheres está ganhando terreno, dentro e fora da Índia. Punj disse que a equipe da Whypoll se inspirou no HarassMap do Egito, que foi iniciado por Rebecca Chiao, uma defensora dos direitos das mulheres que começou a trabalhar em cima de uma maneira melhor de reportar a violência contra as mulheres em 2008. Naquele ano, o Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres divulgou os resultados de um estudo que dizia que 83% das mulheres egípcias haviam sofrido assédio sexual. Como o FightBack, o HarassMap permite que os usuários reportem assédio sexual e nas ruas por meio de uma variedade de plataformas, de mensagens para o Twitter até denúncias diretas para o site do serviço.
Na Libéria, o Ushahidi (que significa "testemunho" em swahili), costuma ser citado como um exemplo de como usar a internet para reportar e mapear a violência. No Haiti, o projeto Ayiti SMS SOS encorajou as pessoas a reportarem abusos aos direitos humanos e recebeu muitas denúncias de violência contra a mulher, dando aos ativistas uma compreensão melhor sobre a violência sexual nos campos de desabrigados pelo terremoto de janeiro de 2010.
"O FightBack não é uma solução completa", disse Sengupta. "Não vou resolver o problema da violência contra as mulheres. Mas o que estamos esperando é que isso nos dê um retrato claro da amplitude do problema, e que dê às mulheres – passantes e cidadãos comuns – uma forma de se envolver."
"Se funcionar", diz Punj, "gostaríamos de trabalhar num aplicativo para combater a violência doméstica.”
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