domingo, 6 de novembro de 2011

Poucos dias depois de ser multado em US$ 2,4 milhões por sonegação fiscal, o artista dissidente chinês Ai Weiwei diz ter recebido dinheiro de cerca de 4,5 mil simpatizantes via internet. O valor arrecadado estaria em torno de US$ 157 mil.
"Quando os chineses não têm outra forma de se expressar, esta é a maneira que eles podem votar para demonstrar sua insatisfação", disse o artista, ontem, em entrevista ao "Financial Times".
O dinheiro está sendo enviado por meio de transferência eletrônica em resposta a uma campanha iniciada por Ai Weiwei na quinta-feira. O artista diz que considera a ajuda como "empréstimo" e promete devolver o dinheiro aos simpatizantes.
Em abril, Ai Weiwei foi preso no aeroporto de Pequim sob a acusação de sonegação fiscal. Três meses depois, foi solto pelo regime.
Nesta semana, sua empresa, Desenvolvimento Cultural Falso, foi intimada a pagar a vultosa multa dentro de um prazo de 15 dias. O artista tem negado as acusações e atribui a multa à perseguição política do governo.
A campanha on-line e declarações à imprensa após um longo silêncio são um novo desafio ao governo. Em junho, ele deixou a prisão, sob a condição de ficar um ano sem dar entrevistas e sem escrever no Twitter.
Mais reputado artista contemporâneo chinês, Ai Weiwei é um duro crítico do Partido Comunista. Construiu sólida carreira no exterior, com exposições no Japão, no Reino Unido e na Bienal de São Paulo, entre outras.
A China ordenou que o artista Ai Weiwei, 54, pague 15 milhões de yuan (R$ 4 milhões) devido a impostos atrasados e multas.
Ativistas veem o caso como uma tentativa do governo de amordaçar seus críticos.
O artista é conhecido pelo desenho do estádio olímpico de Pequim, conhecido como "Ninho de Pássaro". Ele é, também, um dos maiores opositores do regime chinês.
Em abril, Ai foi detido no aeroporto de Pequim pela polícia, antes de embarcar para Hong Kong. Ele foi levado a um local desconhecido em que permaneceu por 81 dias.
A China foi duramente criticada devido à prisão do artista. Ele não havia sido acusado pelo país, na ocasião.
Solto em junho, Ai descreveu sua detenção como uma "tortura mental", afirmando ter sido mantido em confinamento solitário, vigiado por um par de soldados. As luzes, diz, nunca se apagavam.
Ai diz ter recebido a notícia da multa por meio de autoridades fiscais. O motivo seria seu trabalho na empresa Beijing Fake Cultural Development, na qual ele se projetou. O nome, em português, significa "desenvolvimento cultural falso de Pequim".
A empresa é de propriedade de Lu Qing, sua mulher. Ai afirma ter apenas o cargo de designer dentro da firma.
O artista diz que o governo não mostrou as contas que provam que há impostos evadidos. Ele tem 15 dias para fazer o pagamento -o que afirma que só fará quando tiver de volta os livros contáveis apreendidos pela polícia.
"Podemos pagar esse dinheiro, mas precisamos saber por que temos de fazê-lo", afirmou Ai.
O artista diz, ainda, que a acusação de atraso nos impostos é uma maneira de o governo prejudicá-lo.
Durante o tempo em que ficou detido, aponta, nunca foi interrogado a respeito de suas finanças. As perguntas eram voltadas à sua participação em atos vistos como subversivos, como a organização de protestos no país.
O artista escreveu ontem no Twitter que o contador da empresa foi ameaçado pelas autoridades chinesas.
Desde que foi solto sob fiança, em junho, Ai é investigado por "crimes econômicos" -que ele diz desconhecer. Ele foi proibido, na ocasião, de falar com a imprensa, escrever no Twitter ou deixar Pequim por um ano.
Logo em seguida, porém, ele violou a proibição e publicou um ensaio na "Newsweek". Sua conta no Twitter tem cerca de 100 mil seguidores, aos quais ele frequentemente critica o governo chinês.
Ai expôs em capitais como Londres, Nova York e Berlim, e arrecadou altas somas por meio de leilão de suas obras e de vendas em galerias.

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