sábado, 1 de dezembro de 2012


Há um lugar no mundo onde a existência dos unicórnios não está restrita à mitologia: a Coreia do Norte. Ao menos é que querem fazer crer os jornalistas da agência oficial de notícias do país, controlada pela ditadura comunista de Kim Jong-un. Ontem, a agência publicou que arqueologistas do país "reconfirmaram" o achado da toca onde teria vivido um unicórnio que pertencia ao rei Tongmyong, o fundador do antigo reino coreano de Koguryo. A toca fica, segundo o texto, no subsolo de um templo da capital, Pyongyang. "Uma rocha retangular onde estão gravadas as palavras 'Toca do Unicórnio' está diante da toca. Acredita-se que as palavras tenham sido gravadas durante o reino Koguryo (918-1392)," diz o texto. O texto da agência, que não é um bastião de credibilidade e virou notícia no passado por suas declarações exageradamente laudatórias, ganhou repercussão na rede. Foi mais uma prova de que a Coreia do Norte e seu jovem ditador Kim Jong-un estão tendo sua melhor semana midiática em muitos anos. Na terça, Kim foi escolhido "o homem mais sexy do mundo" pelo site satírico americano "The Onion", e ganhou uma galeria de 55 fotos só para ele na página do jornal oficial chinês "Diário do Povo". Não está claro se o veículo de Pequim não entendeu a piada ou pouco ligou para isso. Agora, o ditador norte-coreano lidera a eleição on-line da revista "Time" para escolher "a pessoa do ano". Kim já tem mais de 1 milhão de votos. bastante à frente dos demais candidatos e até mesmo do cantor Psy, o autor do megahit "Gangnam Style", vindo da arqui-inimiga Coreia do Sul. A decisão final é dos editores da "Time", mas o vencedor da enquete eletrônica leva o título de "pessoa mais influente do ano". Kim Jong-un tem um cabo eleitoral poderoso. O fórum de internet 4chan, conhecido por criar e divulgar memes (hits da internet), pede votos para o ditador. Não há dúvidas de que o mandatário de 29 anos foi elevado ao posto de novo queridinho "meme friendly" do mundo.



quinta-feira, 22 de novembro de 2012




A iraniana Ameneh Bahrami, 34, ficou desfigurada depois que um colega de faculdade com quem ela não queria se casar atirou ácido em seu rosto. Em 2011, ela obteve o direito de aplicar a Lei de Talião, mas, na última hora, perdoou o agressor. Residente na Espanha, Ameneh voltou ao Irã para lançar sua biografia "Auge um Auge" ("olho por olho", em alemão), sem previsão de lançamento no Brasil. Leia o depoimento de Bahrami ao jornal Folha de S. Paulo: "Nasci de um pai militar e de uma mãe professora de escola primária e tive uma infância feliz crescendo ao lado de minhas duas irmãs e dois irmãos em Teerã. Terminado o segundo grau, me inscrevi na faculdade de Engenharia Eletrônica na Universidade Eslamshahr. Em 2003, uma senhora me telefonou dizendo que tinha um filho que estudava comigo e queria me pedir em casamento. Ela me disse seu nome, Majid Movahedi, e então fui conferir quem era. Eu o conhecia de rosto, mas não sabia seu nome. Quando a mãe me ligou de novo, contei que não estava interessada. Não ia com a cara dele e, além disso, ele um dia havia mexido comigo durante uma oficina de laboratório, tocando minhas coxas. Mas ela continuou ligando, dizendo que seu filho era homem e, por isso, tinha direito de escolher quem bem entendesse para ser sua mulher. Após meses recebendo ligações, exigi que ela parasse de telefonar. Ela respondeu que seu filho iria se matar se não se casasse comigo. Meses depois, me formei e consegui um emprego numa empresa de equipamentos médicos. Eu só soube muito tempo depois que Majid naquela época vivia me seguindo e levantando todo tipo de informação a meu respeito, desde horários até nomes de colegas. Certa vez ele me ligou dizendo que estava disposto a me matar se eu não me casasse com ele. Não levei a sério e continuei vivendo normalmente, até que um dia, em outubro de 2004, eu o vi me esperando na frente da empresa. Repeti que não o queria e contei que tinha um marido. Majid respondeu: É mentira, pois sei tudo a seu respeito. Case comigo ou vou arruinar sua vida. Dois dias depois, saí do trabalho por volta das 16h30 e caminhava pela rua quando senti alguém apressado atrás de mim. Deixei a pessoa me ultrapassar e vi que era Majid, com um frasco na mão. Ele atirou um líquido no meu rosto, pensei que fosse água quente. Ele riu e saiu correndo, e minha vista escureceu. A última coisa que meus olhos enxergaram foi o tênis de Majid. Logo senti uma queimação atroz e entendi que o líquido que escorria pelo meu rosto não era água quente, mas ácido sulfúrico. Comecei a gritar no meio da rua e arranquei desesperadamente minha roupa e até meus calçados, que não paravam de queimar. Doía muito e eu não enxergava nada. Trouxeram água e eu molhei minhas mãos e braços, mas o efeito foi pior, pois minha pele começou a ferver. Um homem me disse: Não leve a água à cabeça, senão seu rosto vai se desmanchar. Fui levada de hospital em hospital até ser atendida. Nem na clínica de queimados sabiam o que fazer comigo. Diziam nunca ter visto um caso assim. Cinco horas depois, um médico anunciou que meu olho esquerdo estava perdido e que meu olho direito tinha chance de ser salvo. Com ajuda financeira do então presidente Mohammad Khatami, fui fazer tratamento em Barcelona, onde uma operação bem-sucedida me permitiu recuperar 40% da visão do olho direito. Mas Mahmoud Ahmadinejad, eleito em 2005, cortou a ajuda, e mergulhei numa situação muito difícil na Espanha, sem dinheiro nem teto. Em 2007, peguei uma infecção num abrigo social e perdi de vez o olho direito. Foi aí que decidi voltar ao Irã para pedir a Lei de Talião [olho por olho, dente por dente, criada na Babilônia antiga]. A Justiça argumentou que a lei nunca era aplicada, mas, no ano passado, ganhei a causa. Majid já estava no hospital judiciário para ser cegado quando anunciei que o perdoava. Ele se jogou no chão e beijou meus pés. No fundo eu nunca quis aplicar a Lei de Talião. Jamais poderia fazer isso, não sou selvagem. Eu queria mesmo chamar a atenção para o caso e evitar que outras pessoas passem pelo que sofri. Hoje o que importa é o dinheiro. Quero que ele me pague 150 mil. Mas ele foi solto pela Justiça, que não gostou de eu ter recuado da lei. Há muita complicação, mas continuo atrás do dinheiro. Volto dentro de alguns dias para Barcelona, onde sigo tratamento e vivo com a ajuda que Ahmadinejad retomou depois que eu perdoei Majid. Um médico na Espanha acha que pode recuperar meu olho esquerdo. Enquanto isso, quero que meu livro saia no mundo todo."

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

IMAGENS DO IRà
SESC Vila Mariana
28/11
19:30
Como se aproximar de uma cultura ao mesmo tempo secular e contemporânea? Como identificar os entrelaçamentos culturais entre Oriente e Ocidente e os vestígios da antiga Pérsia? Como abandonar os estereótipos para conhecer estruturas sociais, políticas, econômicas e religiosas extremamente complexas e efervescentes? Qual a importância do cinema iraniano no contexto local e internacional? Como lidar com o confronto das imagens ficcionais que se apropriam do nosso imaginário? Estas são algumas das questões que vão nortear o encontro, que integra a exposição Pulso Iraniano, em cartaz na Unidade, e as experiências de especialistas em cultura iraniana. A curadoria do encontro é de Marco Souza e a mediação da conversa será realizada por Christine Greiner, ambos professores do Centro de Estudos Orientais da PUC-SP. A partir de 16 anos. Retirada de ingressos com 1h de antecedência, na Central de Atendimento. Auditório. 
Grátis 
Endereço: Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana, São Paulo, 04012-000 
Telefone: (0xx)11 5080-3000 
Estação metrô: Ana Rosa

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quando as vendas de sua loja de roupas começaram a cair, alguns anos atrás, In Tae-yeon pôs a culpa na economia fraca. Mas ele não demorou a perceber que o problema era provocado pelos hipermercados que invadiram os distritos comerciais, atraindo os consumidores com seus cartazes brilhantes, descontos enormes e, em suas palavras, "sugando o sangue de pequenos empresários como se fossem vampiros".
A chegada dos hipermercados é um fenômeno relativamente novo na Coreia do Sul. Mas as lojas são singulares no país porque, em sua maioria, pertencem a "chaebols" -conglomerados controlados por famílias, cuja hegemonia em grandes partes da economia vem levando muitos na Coreia do Sul a descrever seu país como a "República do Chaebol".
Cadeias nacionais de hipermercados, supermercados e lojas de conveniência abertas 24 horas por dia constituem os exemplos mais recentes e mais visíveis da tendência de crescimento aparentemente irrefreável dos "chaebols". De acordo com a agência nacional de estatísticas, a receita total dos hipermercados passou de US$ 23,7 trilhões de wons, em 2005, para 33,7 trilhões de wons (US$ 30,3 bilhões), em 2010. Nesse mesmo período, as vendas nos mercados tradicionais caíram de 32,7 trilhões de wons para 24 trilhões, segundo outras estatísticas.
Assim, quando proprietários de lojas pequenas, como In, começaram a resistir, montando piquetes diante de hipermercados e fazendo lobby junto a parlamentares, lançaram um movimento em apoio à chamada "democratização econômica".
Os "chaebols" são vistos como os líderes do crescimento econômico sul-coreano, exportando bens tão diversos quanto telefones celulares, carros e navios. Os cinco maiores "chaebols" -Samsung, Hyundai Motors, SK, LG e Lotte- geraram vendas de 653 trilhões de wons, ou US$ 57,7 bilhões, em 2010.
Há vários anos, os lojistas da rua comercial tradicional onde In Tae-yon tem sua loja vêm sofrendo queda em suas vendas, devido à concorrência com três hipermercados e uma loja de departamentos. "Eles se comportam como serpentes gigantes que devoram tudo", fala In.
Os pequenos varejistas familiares já foram sufocados por hipermercados em outros países, mas entender como operam os "chaebols" é entender como funciona a economia.
Um "chaebol" típico abrange dezenas de subsidiárias que são controladas por seu presidente através de uma rede de acionistas. Exércitos de empresas menores dependem do "chaebol", com o qual mantêm relacionamentos de patrono e cliente.
A Samsung e outros "chaebols" abriram redes de padarias ou cafés. A CJ abriu uma cadeia de restaurantes especializados no "bibimbap", um prato popular de arroz e legumes servido numa tigela. A LG vende morcela sul-coreana. São alimentos cuja venda garante a subsistência de alguns dos mais pobres sul-coreanos.
"O governo nos disse repetidas vezes que, se os 'chaebols' crescessem, também aumentariam o emprego, as exportações e a classificação de crédito de nosso país", comentou Hong Ji-gwang, 47, dono de uma loja de cosméticos em Seul. "É mentira."
No Parlamento, partidos políticos rivais vêm pedindo que sejam impostos limites aos "chaebols".
Os conglomerados prometeram aumentar o número de empregados novos em 3,4% este ano. Além disso, distribuíram entre seus empregados vales a serem usados na compra de produtos nos mercados tradicionais.
É pouco provável que isso baste para aplacar pequenos varejistas como In Tae-yeon. "Não queremos viver das migalhas que os 'chaebols' nos jogam", disse.

Aos 30 anos, Chen Kuo tinha aquilo com que muitos chineses sonham: um apartamento próprio e um emprego bem remunerado numa multinacional. Mas, em outubro, Chen viajou para a Austrália para começar uma nova vida, sem perspectivas seguras -como centenas de milhares de outros chineses que emigram todos os anos. Apesar do tremendo sucesso econômico da China nos últimos anos, Chen considerou que na Austrália teria um ambiente mais saudável, serviços sociais mais eficientes e maior liberdade para começar uma família. "Era muito estressante na China. Às vezes eu trabalhava 128 horas por semana para a minha empresa de auditoria", disse Chen. "Vai ser mais fácil criar meus filhos como cristãos no exterior. A Austrália é mais livre." A China, cujo Partido Comunista iniciou na semana passada sua troca de liderança, está perdendo cada vez mais profissionais qualificados, como Chen. Em 2010, último ano com estatísticas completas, 508 mil chineses emigraram para os 34 países desenvolvidos que compõem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). É um aumento de 45% em relação a 2000. Em 2011, os Estados Unidos receberam 87 mil residentes permanentes da China, 17 mil a mais do que no ano anterior. Os imigrantes chineses estão estimulando o mercado imobiliário em locais como Manhattan, onde alguns corretores estão aprendendo mandarim, e Chipre, que oferece uma rota para um passaporte da União Europeia. Poucos migrantes chineses citam razões políticas, mas elas aparecem de forma subjacente em várias das suas preocupações. Esses chineses falam sobre o desenvolvimento desenfreado que arruína o ambiente ou sobre a deterioração do tecido social e moral. "Um 'green card' me dará a sensação de segurança", disse um blogueiro que pleiteia esse visto de residência nos Estados Unidos. "O sistema aqui [na China] não é tão estável, e você não sabe o que vai acontecer no futuro." Turbulências políticas reforçam essa sensação. Desde o começo deste ano, o país está chocado com as revelações de que o ex-dirigente comunista Bo Xilai controlava um feudo que, segundo relatos oficiais, se envolveu em casos de assassinato, tortura e corrupção. "Continua havendo muita incerteza e risco, mesmo nos mais altos escalões, mesmo no escalão de Bo Xilai", disse Liang Zai, especialista em migração da Universidade de Albany, no Estado de Nova York. "As pessoas se perguntam o que vai acontecer daqui a dois ou três anos." Mas o movimento não é de mão única. Com economias estagnadas e oportunidades de emprego limitadas no Ocidente, o número de estudantes que volta para a China subiu 40% em 2011 em relação ao ano anterior. O governo chinês também passou a oferecer benefícios temporários para cientistas e acadêmicos que regressarem ao país. A sensação de incerteza afeta também os chineses mais pobres, num país que tem hoje uma das maiores disparidades de classes do mundo. Segundo o Ministério do Comércio, 800 mil cidadãos chineses estavam trabalhando fora do país no final de 2011, contra apenas 60 mil em 1990. "[A emigração] está sendo alimentada pelo medo de ficar para trás na China", disse Biao Xiang, demógrafo da Universidade de Oxford. "Ir para o exterior se tornou uma espécie de aposta que pode trazer oportunidades." Zhang Ling, dono de um restaurante em Wenzhou, conhece bem essas preocupações. Agricultores e comerciantes da sua família juntaram dinheiro para mandar o filho dele para um colégio em Vancouver, no Canadá. A família espera que ele entre numa universidade canadense e um dia receba o direito de residência permanente, talvez permitindo que os parentes também se mudem para o exterior. "É como uma cadeira com várias pernas", disse Zhang. "Queremos uma perna no Canadá, para o caso de uma perna se quebrar aqui." Após anos de prosperidade, milhões de pessoas têm meios para emigrar legalmente, seja por meio de programas de investimentos ou enviando filhos para o estrangeiro, de modo a assegurar uma presença permanente. Wang Ruijin, secretária de uma companhia de mídia em Pequim, disse que ela e o marido estão estimulando a filha, de 23 anos, a se matricular numa pós-graduação na Nova Zelândia, na esperança de que ela fique por lá e abra as portas para a família. "Não sentimos que a China seja adequada para pessoas como nós", disse Wang. "Para progredir aqui, você precisa ser corrupto e ter boas relações. Nós preferimos uma vida estável."