Quando as vendas
de sua loja de roupas começaram a cair, alguns anos atrás, In Tae-yeon pôs a
culpa na economia fraca. Mas ele não demorou a perceber que o problema era
provocado pelos hipermercados que invadiram os distritos comerciais, atraindo
os consumidores com seus cartazes brilhantes, descontos enormes e, em suas
palavras, "sugando o sangue de pequenos empresários como se fossem
vampiros".
A chegada dos
hipermercados é um fenômeno relativamente novo na Coreia do Sul. Mas as lojas
são singulares no país porque, em sua maioria, pertencem a "chaebols"
-conglomerados controlados por famílias, cuja hegemonia em grandes partes da
economia vem levando muitos na Coreia do Sul a descrever seu país como a
"República do Chaebol".
Cadeias
nacionais de hipermercados, supermercados e lojas de conveniência abertas 24
horas por dia constituem os exemplos mais recentes e mais visíveis da tendência
de crescimento aparentemente irrefreável dos "chaebols". De acordo
com a agência nacional de estatísticas, a receita total dos hipermercados
passou de US$ 23,7 trilhões de wons, em 2005, para 33,7 trilhões de wons (US$
30,3 bilhões), em 2010. Nesse mesmo período, as vendas nos mercados
tradicionais caíram de 32,7 trilhões de wons para 24 trilhões, segundo outras
estatísticas.
Assim, quando
proprietários de lojas pequenas, como In, começaram a resistir, montando
piquetes diante de hipermercados e fazendo lobby junto a parlamentares,
lançaram um movimento em apoio à chamada "democratização econômica".
Os
"chaebols" são vistos como os líderes do crescimento econômico
sul-coreano, exportando bens tão diversos quanto telefones celulares, carros e
navios. Os cinco maiores "chaebols" -Samsung, Hyundai Motors, SK, LG
e Lotte- geraram vendas de 653 trilhões de wons, ou US$ 57,7 bilhões, em 2010.
Há vários anos,
os lojistas da rua comercial tradicional onde In Tae-yon tem sua loja vêm
sofrendo queda em suas vendas, devido à concorrência com três hipermercados e
uma loja de departamentos. "Eles se comportam como serpentes gigantes que
devoram tudo", fala In.
Os pequenos
varejistas familiares já foram sufocados por hipermercados em outros países,
mas entender como operam os "chaebols" é entender como funciona a
economia.
Um
"chaebol" típico abrange dezenas de subsidiárias que são controladas
por seu presidente através de uma rede de acionistas. Exércitos de empresas
menores dependem do "chaebol", com o qual mantêm relacionamentos de
patrono e cliente.
A Samsung e
outros "chaebols" abriram redes de padarias ou cafés. A CJ abriu uma
cadeia de restaurantes especializados no "bibimbap", um prato popular
de arroz e legumes servido numa tigela. A LG vende morcela sul-coreana. São
alimentos cuja venda garante a subsistência de alguns dos mais pobres
sul-coreanos.
"O governo
nos disse repetidas vezes que, se os 'chaebols' crescessem, também aumentariam
o emprego, as exportações e a classificação de crédito de nosso país",
comentou Hong Ji-gwang, 47, dono de uma loja de cosméticos em Seul. "É
mentira."
No Parlamento,
partidos políticos rivais vêm pedindo que sejam impostos limites aos
"chaebols".
Os conglomerados
prometeram aumentar o número de empregados novos em 3,4% este ano. Além disso,
distribuíram entre seus empregados vales a serem usados na compra de produtos
nos mercados tradicionais.
É pouco provável
que isso baste para aplacar pequenos varejistas como In Tae-yeon. "Não
queremos viver das migalhas que os 'chaebols' nos jogam", disse.
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