O dirigente do Partido Comunista que deverá ser o próximo líder da China, Xi Jinping, sentou-se para jantar há quatro anos com o embaixador dos Estados Unidos aqui e conversou sobre cinema.
Xi disse ao embaixador na época, Clark T. Randt Jr., que gostava de filmes de Hollywood sobre a Segunda Guerra Mundial, segundo um cabograma do Departamento de Estado divulgado pelo WikiLeaks. Esses filmes são “grandiosos e verdadeiros” e “os americanos têm uma visão clara de valores e separam nitidamente o bem e o mal”, disse Xi.
Em comparação, “A Maldição da Flor Dourada”, um filme de 2006 de Zhang Yimou, o diretor mais proeminente da China, se concentrava demais nas “coisas ruins nos palácios imperiais”, ele acrescentou. “Alguns cineastas chineses negligenciam os valores que deviam promover”, disse Xi, segundo o cabograma.
Agora, Zhang apresenta seu próprio filme passado na Segunda Guerra Mundial, um espetáculo de US$ 94 milhões com uma linha clara entre o bem (civis chineses em fuga e um americano os ajudando) e o mal (os invasores japoneses). O filme, “The Flowers of War” (Flores da Guerra), que estreou no mês passado em toda a China e em algumas poucas salas nos Estados Unidos, é a versão de Zhang do Massacre de Nanquim. O governo chinês estima que os soldados japoneses mataram 300 mil pessoas, muitas delas civis e prisioneiros de guerra, no massacre de seis semanas que teve início em dezembro de 1937.
O filme é estrelado por Christian Bale como um coveiro que trabalha com 13 prostitutas tentando resgatar um grupo de alunas preso em uma igreja.
Até terça-feira, o filme tinha arrecadado cerca de US$ 82 milhões na bilheteria chinesa e é o candidato oficial da China para o Oscar. No momento, nenhum outro produto cultural ou artista personifica a avidez do Estado chinês e de seus cidadãos por criar cultura que possa atrair estrangeiros, reforçando a projeção do “poder suave” da China pelo mundo.
E isso exige uma espécie de equilibrismo delicado para Zhang, uma figura polarizadora, ávida em permanecer nas graças das autoridades chinesas e de alguma forma preservar a credibilidade artística internacional que conquistou como uma pessoa de fora do establishment político da China.
“Eu me sinto afortunado neste ano pelo governo chinês ter recomendado meu filme”, disse Zhang, 60 anos, em uma entrevista. “Mas isso não me torna um representante. Também não significa que serei recomendado de novo no futuro.”
Na primeira parte de sua carreira, Zhang fez belos filmes de arte situados na China rural e que foram proibidos pelos censores daqui. Na segunda parte, ele fez belos épicos históricos que alienaram muitos daqueles que inicialmente o apoiavam, que dizem que as narrativas de Zhang agora seguem a linha do partido.
Então ele foi designado para dirigir a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008. Foi um momento de orgulho para muitos chineses e para o próprio Zhang, apesar de alguns críticos terem dito que ele se tornou a Leni Reifenstahl da China.
Mas as críticas de Xi a Zhang em 2007 mostram que Zhang não necessariamente conta com o respeito dos líderes chineses. E Zhang disse que não vê a si mesmo como uma voz do governo.
De fato, Zhang criticou o sistema caprichoso pelo qual um filme é selecionado como representante do país no Oscar. Essa escolha é feita pelo poderoso órgão regulador da indústria cinematográfica. “Deveria ser o trabalho de um comitê de especialistas em cinema, para que o filme artisticamente superior fosse recomendado”, disse Zhang.
Quanto à censura Zhang disse que o roteiro e montagem final de “The Flowers of War” tiveram que ser aprovados pelas autoridades, assim como qualquer filme doméstico que deseje ser exibido nos cinemas.
“Não pode ser mudado e estará lá no futuro”, disse Zhang. “É meu desejo pessoal que o processo se torne cada vez mais tolerante à medida que a sociedade e a economia chinesas se desenvolvam, para permitir cada vez mais espaço para as pessoas criativas.”
O dirigente do Partido Comunista que deverá ser o próximo líder da China, Xi Jinping, sentou-se para jantar há quatro anos com o embaixador dos Estados Unidos aqui e conversou sobre cinema.
Xi disse ao embaixador na época, Clark T. Randt Jr., que gostava de filmes de Hollywood sobre a Segunda Guerra Mundial, segundo um cabograma do Departamento de Estado divulgado pelo WikiLeaks. Esses filmes são “grandiosos e verdadeiros” e “os americanos têm uma visão clara de valores e separam nitidamente o bem e o mal”, disse Xi.
Em comparação, “A Maldição da Flor Dourada”, um filme de 2006 de Zhang Yimou, o diretor mais proeminente da China, se concentrava demais nas “coisas ruins nos palácios imperiais”, ele acrescentou. “Alguns cineastas chineses negligenciam os valores que deviam promover”, disse Xi, segundo o cabograma.
Agora, Zhang apresenta seu próprio filme passado na Segunda Guerra Mundial, um espetáculo de US$ 94 milhões com uma linha clara entre o bem (civis chineses em fuga e um americano os ajudando) e o mal (os invasores japoneses). O filme, “The Flowers of War” (Flores da Guerra), que estreou no mês passado em toda a China e em algumas poucas salas nos Estados Unidos, é a versão de Zhang do Massacre de Nanquim. O governo chinês estima que os soldados japoneses mataram 300 mil pessoas, muitas delas civis e prisioneiros de guerra, no massacre de seis semanas que teve início em dezembro de 1937.
O filme é estrelado por Christian Bale como um coveiro que trabalha com 13 prostitutas tentando resgatar um grupo de alunas preso em uma igreja.
Até terça-feira, o filme tinha arrecadado cerca de US$ 82 milhões na bilheteria chinesa e é o candidato oficial da China para o Oscar. No momento, nenhum outro produto cultural ou artista personifica a avidez do Estado chinês e de seus cidadãos por criar cultura que possa atrair estrangeiros, reforçando a projeção do “poder suave” da China pelo mundo.
E isso exige uma espécie de equilibrismo delicado para Zhang, uma figura polarizadora, ávida em permanecer nas graças das autoridades chinesas e de alguma forma preservar a credibilidade artística internacional que conquistou como uma pessoa de fora do establishment político da China.
“Eu me sinto afortunado neste ano pelo governo chinês ter recomendado meu filme”, disse Zhang, 60 anos, em uma entrevista. “Mas isso não me torna um representante. Também não significa que serei recomendado de novo no futuro.”
Na primeira parte de sua carreira, Zhang fez belos filmes de arte situados na China rural e que foram proibidos pelos censores daqui. Na segunda parte, ele fez belos épicos históricos que alienaram muitos daqueles que inicialmente o apoiavam, que dizem que as narrativas de Zhang agora seguem a linha do partido.
Então ele foi designado para dirigir a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008. Foi um momento de orgulho para muitos chineses e para o próprio Zhang, apesar de alguns críticos terem dito que ele se tornou a Leni Reifenstahl da China.
Mas as críticas de Xi a Zhang em 2007 mostram que Zhang não necessariamente conta com o respeito dos líderes chineses. E Zhang disse que não vê a si mesmo como uma voz do governo.
De fato, Zhang criticou o sistema caprichoso pelo qual um filme é selecionado como representante do país no Oscar. Essa escolha é feita pelo poderoso órgão regulador da indústria cinematográfica. “Deveria ser o trabalho de um comitê de especialistas em cinema, para que o filme artisticamente superior fosse recomendado”, disse Zhang.
Quanto à censura Zhang disse que o roteiro e montagem final de “The Flowers of War” tiveram que ser aprovados pelas autoridades, assim como qualquer filme doméstico que deseje ser exibido nos cinemas.
“Não pode ser mudado e estará lá no futuro”, disse Zhang. “É meu desejo pessoal que o processo se torne cada vez mais tolerante à medida que a sociedade e a economia chinesas se desenvolvam, para permitir cada vez mais espaço para as pessoas criativas.”
Apesar de “The Flowers of War” ter sido o filme chinês de maior bilheteria em 2011, ele ficou atrás de “Transformers: O Lado Oculto da Lua” e “Kung Fu Panda 2” aqui.
Muito foi escrito sobre a ascensão de Zhang de raízes humildes para a proeminência. Seus primeiros empregos foram como trabalhador rural, em sua província natal de Shaanxi durante a Revolução Cultural, e como operário de uma fiação de algodão. Ele ingressou na Academia de Cinema de Pequim quando ela reabriu após a morte de Mao, e foi diretor de fotografia de “Huang Tu Di” (Terra Amarela), de seu colega de classe Chen Kaige, antes de fazer seus próprios filmes.
A ideia para o mais recente projeto de Zhang veio quando ele leu “As 13 Mulheres de Nanquim”, de Yan Geling.
Zhang queria um ator de ponta de Hollywood e seu amigo Steven Spielberg sugeriu Bale. Tanto Zhang quanto Bale disseram que trabalharam bem juntos no set. Mas não se sabe o que Zhang pensou da tentativa de Bale, após a estreia do filme aqui, de ir com uma reportagem da “CNN” tentar visitar Chen Guangcheng, um defensor de direitos cego que está sob prisão domiciliar.
Bale, o astro dos mais recentes filmes de “Batman”, teve que se defender de guardas hostis. (A entrevista com Zhang foi feita um dia antes da viagem de Bale.)
O principal financiamento para “The Flowers of War” veio de uma empresa privada, a New Pictures, que tomou empréstimos junto a um banco estatal, disse Zhang. Várias empresas estatais estão distribuindo o filme aqui.
O tema da guerra com o Japão e o Massacre de Nanquim é comum na televisão e no cinema, reforçando a hostilidade em relação aos japoneses, e a visão de Zhang mantém as descrições-padrão de brutalidade. “Isso é inegável, assim como o Holocausto”, disse Zhang.
As críticas nos Estados Unidos não foram gentis. “The Hollywood Reporter” disse que “transcorre como um simulacro”. Há dúvidas sobre se será este filme que ajudará a China a conquistar o status de superpotência cultural, mesmo que Zhang reconheça a importância dessa meta.
“Nós vimos muitos incidentes nos quais as pessoas sentem que perderam a espiritualidade, quando a cultura é sobrepujada demais pela economia”, ele disse. “Eu acho que é necessário que a cultura se desenvolva no mesmo ritmo que a economia, caso contrário o mundo verá a China como uma vizinha rica que não tem cultura.
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