Pesquisadores que investigam as imagens oficiais e listas de pessoas presentes ao velório de Kim Jong-il na Coreia do Norte perceberam duas ausências notáveis: dos dois irmãos mais velhos de Kim Jong-un, o herdeiro nomeado.
Eles também vêm falando sobre a aparição de Kim Ok, uma das auxiliares mais próximos de Kim Jong-il, que serviu como primeira-dama de fato da Coreia do Norte desde que a mãe de Kim Jong-un morreu em 2004. Ela apareceu na quarta-feira durante a cobertura de imprensa sobre o velório no mausoléu Kumsusan em Pyongyang, capital do país, onde o corpo de Kim Jong-il está exposto num caixão de vidro desde o anúncio oficial de sua morte na segunda-feira.
Identificar os presentes e ausentes na sociedade mais fechada do mundo é uma das poucas formas disponíveis para os estrangeiros tentarem resolver o mistério da atual sucessão em Pyongyang. Eles estão buscando qualquer pista sobre se Kim Jong-un, segundo filho da terceira mulher de Kim Jong-il, será capaz de estabelecer o controle sobre a ditadura monolítica estabelecida pelo seu pai e seu avô.
Questões semelhantes pairavam sobre Kim Jong-il quando ele foi anunciado líder da Coreia do Norte em 1994. Mas a intriga é muito mais profunda desta vez por causa da pouca idade de Kim Jong-un, de sua inexperiência, e das relações conturbadas na família Kim.
A forma como a Coreia do Norte realizará o funeral oficial, marcado para 28 de dezembro, poderá fornecer mais pistas sobre quem está ascendendo ou decaindo – especialmente entre os parentes imediatos de Kim Jong-un.
O trabalho de inteligência é em grande parte um jogo de adivinhação de separar os fatos do mito em relação às vidas dos filhos que Kim Jong-il teve com três mulheres diferentes. Acredita-se que Kim Jong-un tenha um irmão, uma irmã, um meio-irmão e pelo menos uma meia-irmã.
Mas esta não é uma família conhecida por sua união. A primeira mulher de Kim Jong-il, mãe do filho mais velho de Kim, Kim Jong-nam, caiu em desgraça e morreu sozinha em Moscou, sofrendo de depressão e diabetes.
Kim Jong-il mais tarde deixou sua segunda mulher, que teve uma filha e nenhum filho, para viver com Ko Young-hee, uma estrela da ópera de Pyongyang e mãe de Kim Jong-un. Antes de ela morrer, a mídia sul-coreana divulgou reportagens não confirmadas de que Ko estivera por trás de um esquema para assassinar Kim Jong-nam enquanto ele viajava pela Europa porque ele poderia ser um rival para seus filhos.
Kim Jong-chol, 30, foi o primeiro filho de Kim Jong-il com Ko. Mas seu pai o considerava muito feminino para liderar o regime militarista do Norte, disseram acadêmicos de Seul que estudam a Coreia do Norte.
E de acordo com um chef de sushi japonês que em 2003 publicou uma memória sobre sua experiência trabalhando para a família Kim, o filho favorito era Kim Jong-un, que lembra muito seu avô, Kim Il-sung, o presidente fundador da Coreia do Norte e uma figura endeusada pelos norte-coreanos.
Desde pequeno, Kim Jong-un gostava de usar uniforme militar e mostrava hostilidade em relação ao Japão, país que colonizou a Coreia, disse o chef.
O home que poderia ter sido o maior concorrente de Kim Jong-un – seu meio-irmão Kim Jong-nam, 40 – agora vive num exílio no enclave chinês de Macao. Em entrevistas ocasionais para a imprensa, ele pareceu distante ou, mais recentemente, crítico em relação à sucessão da dinastia em Pyongyang.
Desde a morte de Kim Jong-il, Kim Jong-nam não fez nenhuma aparição pública. Seu nome não estava na lista dos 232 norte-coreanos proeminentes que organizaram o funeral estatal. E não só os paparazzi estão atrás dele. Oficiais de inteligência deixaram em aberto a possibilidade de que, se o jovem e inexperiente Kim Jong-un não atender às expectativas dos generais linha-dura de Pyongyang, poderão convocar Kim Jong-nam para o país, criando uma intriga na qual a violência não pode ser descartada.
"Se eu fosse Kim Jong-nam, eu não viria para o funeral do pai; para Kum Jong-un, ele é muito mais um inimigo político do que um meio-irmão", disse Choi Jing-wook do Instituto Coreano para Unificação em Seul. "Este é um momento precário para seus irmãos. Eles precisam ficar na deles; num momento crítico como este, há pessoas muito ansiosas para provar sua lealdade ao novo rei, removendo qualquer pessoa que pareça ameaçadora". Mesmo que os irmãos viagem para o funeral do pai, o regime provavelmente os manteria fora da vista do público para evitar que eles roubassem a atenção de Kim Jong-un, dizem os analistas. Se seu irmão consolidar o poder, na melhor das hipóteses, eles terão permissão para viver uma vida confortável, com títulos de honra no país ou servindo como embaixadores no exterior.
De acordo com Baek Seung-joo, do Instituto Coreano para Análises de Defesa em Seul, um indicador chave nos próximos meses será se Kim Jong-un assumirá os cinco principais títulos que seu pai carregava – de secretário geral do Partido dos Trabalhadores, presidente da Comissão Militar Central do partido, membro do Politburo, presidente da Comissão de Defesa Nacional e supremo comandante do Exército do Povo. O filho é agora um general de quatro estrelas e vice-presidente da Comissão Central Militar.
Na quinta-feira, o principal jornal do partido do Norte, Rodong Sinmun, disse que o "grande sucessor" Kim Jong-un honraria os "últimos desejos" de seu pai, dando continuidade à política de "songun", ou "prioridade militar", que prioriza o exército na distribuição de recursos.
Outros dois parentes são peças essenciais no jogo de poder que está se desenrolando: a tia de Kim Jong-un, Kim Kyung Hee, e seu marido, Jang Song Taek, ambos com 65 anos. "Com a morte de seu pai antes do esperado, Kim Jong-un terá que depender de sua tia e tio e ouvi-los mais do que nunca", disse Baek.
A tia, que é membro do Politburo e ministra do setor de luz, e o tio, que é vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa, foram fundamentais para estabelecer a posição oficial de Kim Jong-un desde que Kim Jong-il sofreu um derrame em 2008.
Agora doente, a tia é provavelmente um dos poucos familiares em quem Kim Jong-un pode confiar. Ela foi uma integrante leal da família que ficou ao lado do irmão nos anos 70 enquanto ele tramava contra seus meio-irmãos e um poderoso tio. O tio, Jang, é outra história.
Jang é visto pelos analistas como um astuto negociador de influência que atraiu generais e oficiais do partido para seu lado. Kim Jong-il o expulsou duas vezes antes de readmiti-lo em resposta aos apelos de sua querida irmã, disse Choi.
Se Jang vai se aposentar depois de ver seu sobrinho no poder ou se cultivará sua própria ambição é um dos temas favoritos para especulação entre os observadores da Coreia do Norte.
"Ele pode ser um interlocutor esperto e estabilizador entre facções rivais enquanto espera-se que Kim Jong-un utilize um conselho de mentores sênior antes de estabelecer seu próprio poder", disse Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos Norte-Coreanos em Seul.
Sohn Kwang-joo, pesquisador da família Kim no Instituto de Pesquisa Gyeonggi, disse que o destino dos irmãos de Kim Jong-un e Jang pode ser previsto pelo tratamento que pai dava a seus próprios meio-irmãos e tio. Depois que Kim Jong-il consolidou o poder nos anos 70, ele forçou seu meio-irmão, Pyong-il, a viver num exílio permanente como embaixador norte-coreano em vários países europeus. Seu tio Kim Young-ju, que antes era poderoso, foi banido da capital antes de receber um cargo sem nenhuma autoridade em Pyongyang.
"Kim Jong-nam terá que passar o resto de sua vida no exterior", disse Sohn. "Jang Song Taek, o mais necessário agora, se tornará o primeiro a ser descartado com um cargo vazio uma vez que Kim Jong-un estiver confortável no poder. Ele sabe que é assim que funciona o jogo de poder em Pyongyang."
"Mas se você quiser saber como Jang reagirá a esse futuro, terá que ler um livro", acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário