Toshiharu Ota, um produtor de arroz na prefeitura de Miyagi, no nordeste do Japão, sobreviveu ao terremoto, ao tsunami e ao desastre nuclear no ano passado. Mas seus campos foram devastados pelos depósitos de sal que restaram quando as águas do tsunami recuaram.
Os danos causados pelo sal podem reduzir pela metade o rendimento de uma plantação de arroz.
Agora, para ajudar agricultores como Ota, uma equipe de pesquisadores trabalha para desenvolver uma variedade de arroz tolerante ao sal.
"Com a variedade de arroz que estamos desenvolvendo, deveríamos ver a produção cair apenas 20%", disse Tomoko Abe, da organização de pesquisa Riken. "Também deveremos ter um arroz menos fragmentado."
As ondas do tsunami, com até 40 metros de altura, atingiram a linha costeira ao redor da cidade de Ishinomaki, onde vive Ota, devastando centenas de milhares de vidas e arrasando áreas inteiras de cidades e campos agrícolas. A prefeitura de Miyagi estimou o custo dos prejuízos à terra e instalações agrícolas em US$ 4,6 bilhões, o que a torna uma das áreas mais duramente atingidas pelo desastre do ponto de vista econômico.
O arroz é tradicionalmente uma das principais plantações no nordeste do Japão. A colheita de Miyagi em 2010 rendeu US$ 818 milhões. Mas, no ano passado, a área colhida de arroz ficou abaixo da meta de 4.600 hectares. Ao todo, 11% das terras agrícolas da prefeitura foram danificadas.
Ota, que colheu 11 hectares de arroz, disse que quase a metade desse total estava inundada. Os trabalhadores locais tinhamj se esforçado para retirar o sal do solo no ano passado.
"Mesmo com a dessalinização, a produção caiu", afirmou Ota, 56.
Depois que o sal se dissolve no solo, é muito difícil removê-lo. Ele tende a aderir a outros elementos e só sai quando as raízes das plantas emitem um ácido que decompõe os minerais (incluindo o cloreto de sódio), que serão absorvidos pela planta, explicou Ota.
O projeto do arroz tolerante ao sal envolve uma tecnologia de feixes de íons pesados desenvolvida pela Riken.
Usada principalmente na física nuclear e também em aplicações médicas como o tratamento de câncer, a tecnologia de feixes de íons pesados foi aplicada pela primeira vez pela Riken para acelerar mutações em plantas em 1989. Abe, diretor do grupo de pesquisa e aplicações de acelerador na Riken, ajudou a desenvolver a primeira variedade de arroz tolerante ao sal do mundo, baseada na variedade Nipponbare, em 2006.
Para o projeto atual, grãos de duas variedades muito usadas de arroz, Hitomebore e Manamusume, foram expostas a feixes de íons pesados gerados por um acelerador de partículas.
"Tivemos sucesso ao desenvolver uma variedade de arroz resistente ao sal, mas seu sabor não é ótimo", afirmou Abe.
Existem apenas seis aceleradores de feixes de íons para a criação de plantas no mundo e quatro deles estão no Japão.
No ano que passou desde o tsunami, cerca de 5.250 hectares de terras agrícolas na prefeitura de Miyagi foram dessalinizados, incluindo plantações de arroz. A prefeitura pretende limpar mais 4.100 hectares este ano e os últimos 3.650 hectares em 2013.
As variedades de arroz tolerantes ao sal também poderão ajudar a região a enfrentar o rebaixamento da terra. Miyagi e as terras agrícolas costeiras ao seu redor hoje enfrentam um risco maior de danos causados pela água salgada, dizem especialistas, porque o deslocamento sísmico do terremoto afundou grandes partes do nordeste do Japão.
As terras de Miyagi afundaram cerca de 80 centímetros. Mais perto do epicentro, o afundamento é maior. A península de Oshika, a uma curta distância de Miyagi, foi o local mais próximo do epicentro do terremoto em alto-mar. A terra ali afundou 1,20 m e deslizou horizontalmente para leste 5,30 m, segundo a Autoridade de Informação Geoespacial do Japão.
"Não estamos enfrentando apenas a água do mar, mas também enchentes e tempestades", disse Ota. "Temos um grande aumento de águas pluviais que permanecem nas terras agrícolas por longo tempo."
A capacidade de produzir uma variedade de arroz tolerante ao sódio poderá determinar se alguns agricultores continuarão na agricultura. Porém, Takashi Endo, um pesquisador na prefeitura de Miyagi, disse que poderá levar dois anos para desenvolver uma variedade resistente ao sal e mais dois anos para plantar sementes suficientes para atingir a escala comercial.
"Esperamos que os resultados de nossa pesquisa sejam um alívio para os agricultores afetados pelo desastre", disse Endo.
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