O governo de coalizão da Índia recentemente celebrou três anos do seu mandato com um banquete que não poderia acontecer em pior hora: a rupia, moeda indiana, está em queda, os investimentos mínguam, a inflação sobe, e os deficit estão corroendo os cofres públicos.
Os problemas da Índia esfriaram a esperança de que o país, junto com a China e outras economias emergentes, poderia contribuir para uma recuperação econômica global, como aconteceu depois da crise financeira de 2008. Agora, os ocupantes de cargos eletivos precisam tomar decisões difíceis e impopulares, sob pena de agravarem os problemas.
"Quando a Índia estava sendo comparativamente bem administrada, em 2008, eles pareciam encarar esses choques externos do ponto de vista financeiro", disse Glenn Levine, economista do Moody's Analytics, em Sydney, Austrália.
"Acho que as pessoas estão começando a questionar a história indiana no longo prazo."
As dificuldades da Índia surgem num momento precário para a economia global. A Europa está às voltas com sua dívida. Os EUA ainda não geram empregos suficientes. O crescimento da China desacelerou, com uma reversão do mercado imobiliário e estagnação nas exportações, e economias emergentes como a do Brasil estão esfriando.
De acordo com um relatório governamental de 31 de maio, a economia da Índia cresceu 6,5% no ano fiscal encerrado em março, abaixo dos 8,4% do ano anterior, refletindo o mau desempenho de setores como indústria, mineração e agricultura. O relatório também apontou forte queda na atividade econômica no primeiro trimestre de 2012, com um crescimento de 5,3%, contra 9,2% no mesmo período de 2011.
A desaceleração é motivo para fortes críticas ao governo. Líderes empresariais indianos, investidores estrangeiros e analistas dizem que os trunfos da Índia estão sendo solapados por disfunções políticas: as tendências populistas dos políticos locais, a inação dos líderes e as acusações de corrupção que abalam a autoridade dos tomadores de decisões.
A Índia busca desesperadamente investimentos em mineração, estradas, portos, habitação urbana e outros setores, mas as empresas locais e os investidores estrangeiros fogem. Corporações indianas incapazes de obterem autorização governamental para projetos preferem investir no exterior. O investimento estrangeiro em títulos e ações da Índia totalizou apenas US$ 16 bilhões no último ano fiscal, contra US$ 30 bilhões no ano anterior.
A tendência se acelerou nos últimos meses, depois de o Ministério das Finanças, tentando conter o deficit público, propor diversos impostos novos e retroativos sobre instituições estrangeiras, para perplexidade das companhias internacionais.Analistas dizem que a fuga de capitais é uma das razões para a desvalorização de 13% na rupia desde fevereiro. "Uma discreta crise de confiança está se formando", disse Pratap Bhanu Mehta, presidente do Centro para a Pesquisa Política, em Nova Déli. "Não há certeza sobre o regime regulatório. Não há certeza sobre o regime tributário."
Os indianos há muito tempo crescem na adversidade, muitas vezes ao subverter as regras de modo criativo.
Empresas farmacêuticas, de tecnologia da informação e de bens de consumo, que não precisam de muitas licenças e aprovações oficiais, estão prosperando. Mas setores ligados ao governo, como mineração, construção e indústria, sofrem.
No centro das incertezas, está o enfraquecimento do partido Congresso Nacional Indiano, que comanda a coalizão. Desde 2004, o governo opera sob uma heterodoxa parceria entre Sonia Gandhi, presidente do partido e da coalizão de governo, e Manmohan Singh, o primeiro-ministro escolhido a dedo por ela.
Embora a parceria tenha inicialmente funcionado, analistas dizem que há contradições sendo expostas. Singh detém o cargo politicamente mais importante do país, mas reluta em ceder poderes e muitas vezes precisa buscar a aprovação de Gandhi para questões administrativas. Ela supervisiona um conselho consultivo composto basicamente por ativistas sociais, visto por críticos como um governo paralelo.
O resultado é a falta de uma pauta clara, segundo analistas e líderes empresariais, permitindo que a burocracia recaia na tradicional resistência a tomar decisões. Quando as autoridades agem, muitas vezes mudam de rumo diante da oposição dos políticos. Em dezembro, disputas políticas levaram ao cancelamento de um acordo para a instalação do Walmart na Índia.
Kaushik Basu, assessor econômico do governo, admitiu que o governo tem cometido erros. Mas disse que o pessimismo não se justifica. "É um estágio difícil", afirmou. "Mas continuo muitíssimo otimista. Em seis meses iremos nos reerguer."
Enquanto uma nova onda de austeridade deixa muitas companhias financeiras em dificuldades mundo afora, suas homólogas do golfo Pérsico também foram forçadas a se retrair.
Em um ambiente no qual os mercados domésticos oferecem volumes de negócios cada vez menores e com um ritmo frustrante de transações, alguns dos mais importantes bancos de investimentos da região estão passando por mudanças drásticas.
É um contraste gritante com o humor da última década, quando os bancos de investimentos internacionais e regionais se inchavam para buscar negócios em todoo o Oriente Médio.
As transações no Mercado Financeiro de Dubai despencaram a um nível diário de US$ 48,5 milhões em 2011, 89% a menos do que em 2007, segundo dados da Coldwell Banker.
Essa queda acentuada dizima a receita das corretoras de valores. O volume médio de negócios na Bolsa de Abu Dhabi também diminuiu.
"Quando os mercados ficam tão voláteis, pode ser difícil convencer os investidores de varejo a permanecer em longo prazo, mesmo que as oportunidades existam", disse Nick Tolchard, diretor local da empresa de gestão de capitais Invesco.
A Shuaa Capital, empresa com 30 anos de história, é uma das várias companhias da região fazendo mudanças radicais para cortar custos.
"Tudo o que poderia dar errado já aconteceu conosco, e ainda estamos aqui", disse o xeque Maktoum al Hasher Maktoum, 35, recém-empossado presidente-executivo da Shuaa, que é uma das maiores empresas de investimentos dos Emirados Árabes Unidos. Ele é sobrinho do xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum, governante de Dubai.
Após o recuo do mercado, a Shuaa planeja reduzir seus custos em 71% até meados do ano. Ela fechou suas operações na Jordânia e no Egito e reduziu seu pessoal na filial saudita, segundo Maktoum.
O Qatar, por outro lado, está em ascensão como potência regional, prosperando graças aos dividendos do petróleo e do gás natural.
A qatariana Qinvest está colocando US$ 250 milhões em troca de uma participação de 60% nas unidades de corretagem, consultoria e gestão de fortunas do banco de investimentos EFG Hermes, que foi muito afetado pelas turbulências no mundo árabe. No ano passado, o EFG Hermes teve uma redução de 81% no seu lucro, que ficou em US$ 22 milhões.
A Rasmala Investments, de Dubai, reduziu sua unidade de corretagem nos Emirados Árabes, segundo Ali al Shihabi, fundador e ex-presidente da empresa. Ela agora está focada em unidades geradoras de receita. A empresa reduziu fortemente suas operações na Arábia Saudita.
Da mesma forma, a Rasmala Investments reduziu seus custos em 50% em 2011 e eliminou seu departamento de pesquisas de investimentos.
"Como empresa privada, fomos capazes de cortar custos de forma impiedosa", disse Al Shihabi.
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