Os partidos populistas europeus são amplamente vilificados em casa. Profundamente desconfiados do euro, suspeitando extrema e abertamente dos imigrantes muçulmanos e virulentamente contrários ao ideal multicultural do centro-esquerda, eles são vistos como pouco mais que encrenqueiros perigosos no cenário político. Com frequência, eles se unem a grupos neonazistas ainda mais à direita.
No exterior, entretanto, particularmente entre os políticos de direita israelenses e colonos da Cisjordânia, eles costumam ser vistos de modo mais favorável. Na quinta-feira (5), representantes de vários partidos europeus de direita se juntaram aos líderes dos colonos, políticos israelenses de segundo escalão, líderes judeus ortodoxos e vários líderes de clãs palestinos na casa do xeque Farid al Jabari, em Hebron. Eles se reuniram com a meta de criar uma alternativa para o processo de paz entre israelenses e palestinos, de criação de dois Estados.
“Primeiro e acima de tudo, nós estamos interessados em conseguir uma coexistência pacífica na região. Eu acho que essa precisa ser a meta de todos os esforços”, disse Heinz-Christian Strache, chefe do Partido da Liberdade (FPÖ) populista de direita da Áustria, para a “Spiegel Online”. “Para isso é importante dar início a um diálogo. Eu estou convencido de que uma solução pode ser encontrada no futuro próximo, que seja aceitável para todos os lados.”
Strache não pôde participar da reunião de quinta-feira (5), mas seu partido, principalmente seu confidente, David Lasar, um membro do FPÖ do governo de Viena, teve um papel central na sua organização. Junto a Lasar em Hebron estavam Filip Dewinter, um parlamentar flamengo do partido de direita Vlaams Belang, e Kent Ekeroth, dos semelhantes Democratas Suecos.
Não foi a primeira dessas reuniões entre o xeque Jabari e líderes dos colonos - representados mais proeminentemente por Gershon Mesika, chefe do Conselho Regional de Shomron, que administra 30 assentamentos na Cisjordânia - intermediadas por populistas de direita europeus. Ela ocorre após uma reunião realizada na sede do Parlamento Europeu em meados de maio por Fiorello Provera, um membro do partido italiano anti-imigrantes Liga Nord e vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento Europeu. Apesar da reunião não ter sido um assunto parlamentar oficial, ela, todavia, teve valor simbólico ao ser realizada do modo como foi em Bruxelas.
“A sociedade palestina é cheia de nuances. Há o Hamas e há a Organização para a Libertação da Palestina. Mas também há pessoas comuns que pensam e agem de modo diferente do que eles”, disse Provera para a “Spiegel Online” em uma entrevista. “Os colonos também não são apreciados por todos em Israel, eles são considerados extremistas. Mas eles precisam ser entendidos. Quantas pessoas esperam construir um acordo de paz sem ouvir todos os vários grupos de israelenses e palestinos?”
A pergunta de Provera é reveladora. Os populistas de direita europeus passaram boa parte dos últimos dois anos desenvolvendo relações com políticos israelenses conservadores e colonos na Cisjordânia. O próprio Provera visitou a Cisjordânia neste ano, seguindo os passos de vários líderes populistas antes dele, incluindo Strache.
A maioria visitou Israel com a profunda convicção de que o país - dada sua presença na linha de frente do conflito com o Islã, como Strache disse no ano passado à “Spiegel Online” - merece maior apoio da Europa. A maioria voltou com uma desconfiança ainda maior da Autoridade Palestina e a preocupação de que a solução de dois Estados poderia apenas resultar em mais um Estado radical muçulmano às portas de Israel. O ceticismo deles em relação à Primavera Árabe - como um levante do fundamentalismo muçulmano - apenas reforça esses temores.
É uma posição, é claro, estreitamente paralela a dos principais parceiros populistas em Israel: os políticos conservadores do partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, parlamentares do partido religioso ultraconservador Shas e colonos, que temem que a solução de dois Estados os forçariam a abandonar seus lares e suas reivindicações a parte do que consideram a pátria judaica.
Além disso, os flertes em andamento da Autoridade Palestina com o Hamas na Faixa de Gaza e a contínua relutância em reconhecer Israel como um Estado judeu, como exigido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, frustram o governo israelense. De fato, em seu discurso no Congresso americano em 2011, Netanyahu alegou dissimuladamente que, se a Autoridade Palestina apenas dissesse “Nós reconhecemos Israel como um Estado judeu”, isso bastaria para colocar um fim ao conflito.
Apesar de parte da insatisfação com o processo de paz com dois Estados ser diferente entre alguns palestinos, líderes de clãs como o xeque Jabari chegaram a uma convicção semelhante de que uma visão alternativa deve ser buscada. Jabari está profundamente frustrado com o que descreve como uma Autoridade Palestina corrupta que fez muito pouco por sua nativa Hebron. Além disso, ele está convencido de que os palestinos não podem aceitar uma solução de dois Estados, devido às prerrogativas religiosas que proíbem os muçulmanos de desistir de reivindicarem o que consideram como terras muçulmanas.
“Nós não queremos viver sob ilusões”, disse Jabari para a “Spiegel Online”. “A criação de um Estado palestino é impossível. É contra nossos princípios religiosos porque não podemos abrir mão das terras. A ideia é natimorta.”
Como alternativa, Jabari vê um Estado único dentro do qual os palestinos viveriam legalmente e em paz com seus vizinhos judeus. E ele tem dado passos significativos para tornar essa visão uma realidade. Por vários anos, Jabari cultivou contatos com líderes judeus em Hebron e promoveu várias reuniões visando, como ele diz, “eliminar o ódio desenvolvido nas gerações recentes”.
Alguns na direita israelense veem os esforços dele como uma tentativa promissora de criação de um parceiro de negociação alternativo à Autoridade Palestina. “Há um entendimento comum de que a Autoridade Palestina fracassou em cumprir a visão do processo de paz de Oslo”, disse David Haivri, porta-voz de Mersika, o administrador de assentamentos, para a “Spiegel Online”. “Há muitos que não consideraram a alternativa. Mas eu vejo Jabari como uma possível solução para o problema.”
A Autoridade Palestina, é claro, está profundamente preocupada com o esforço, e particularmente com o envolvimento de políticos europeus, qualquer que seja sua inclinação política. Em maio, o Ministério das Relações Exteriores emitiu uma forte condenação ao convite de Mesika aos membros visitantes do Parlamento Europeu, o chamando de um terrorista e expressando sua esperança de que isso “não represente uma nova abordagem no trato da Questão Palestina”.
Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores destacou para a “Spiegel Online” que a Autoridade Palestina continua sendo a parceira oficial da comunidade internacional. “Não é qualquer um que pode representar o povo palestino”, ela disse. Além disso, a Autoridade Palestina considera todos os assentamentos na Cisjordânia como sendo uma violação da lei internacional, uma posição apoiada oficialmente pela Europa.
Dada que a posição da Autoridade Palestina é em grande parte espelhada na da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, não está claro quão frutífero o diálogo nascente pode vir a ser. Todos os presentes na quinta-feira prometeram se encontrar de novo no futuro próximo e o otimismo era abundante. Ainda assim, mudar décadas de política de paz, sem contar encontrar um meio-termo comum entre dois grupos que acreditam em seus direitos históricos e religiosos de reivindicar a Cisjordânia, promete ser difícil.
E apesar da disposição deles de elevar suas credencias em política externa visando sair das margens políticas em casa, o papel que os partidos populistas de direta da Europa exercerão no Oriente Médio continua uma questão em aberto. Apesar de Haivri ter dito que tinha expectativas limitadas, ele também disse que, “ao nos convidarem para ir a Bruxelas e nos receberem (na quinta-feira, 7), os europeus estão facilitando o diálogo”. Ele acrescentou: “Nós estamos cientes da ideologia histórica da qual eles são provenientes e esperamos que o relacionamento deles com os lados judeu e árabe seja um verdadeiro sinal de que abandonaram o racismo”.
Mas Jabari parecia mais disposto a ignorar a proveniência de seus mediadores. “Não é um problema conversar com os políticos de direita da Europa, porque eles são diretos e honestos”, ele disse. “O fato de terem vindo aqui e nos visitado é prova de que levam o assunto a sério.”
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