Por causa da crise cambial decorrente das sanções americanas e europeias, autoridades dizem que um crescente número de iranianos está enchendo caminhões com rials desvalorizados e levando-os para o vizinho Afeganistão, onde o mercado cambial é livre.
As sanções reduziram o vital faturamento iraniano com o petróleo e isolaram o país dos mercados financeiros. O rial perdeu metade do seu valor em relação ao dólar e as transferências bancárias internacionais e o câmbio de divisas se tornaram mais difíceis. Empresas e indivíduos, desesperados por evitarem mais prejuízos, trocam seu dinheiro e o mandam para fora. Ao mesmo tempo, o governo tenta encontrar alternativas para trazer divisas.
No Afeganistão, após anos de ajuda ocidental, o dólar funciona como uma segunda moeda. A fiscalização financeira é tão precária que bilhões de dólares em espécie deixam o país a cada ano. Os iranianos estão "basicamente usando o nosso próprio dinheiro, e estão contornando o que tentamos impor", disse um funcionário americano. Autoridades dizem ser impossível estimar valores.
O Afeganistão virou o sonho dos contrabandistas, com uma enorme economia do ópio e com a corrupção disseminada no governo.
Por si só, o afluxo de dinheiro iraniano dificilmente será suficiente para atrapalhar as sanções. Mas está claro que as autoridades americanas estão preocupadas. No mês passado, o presidente Barack Obama discretamente endureceu as sanções ao autorizar o Departamento do Tesouro a punir quem comprar dólares ou metais preciosos em nome do governo iraniano.
Agentes de câmbio no Afeganistão dizem ter sido alertados neste mês por autoridades americanas a não fazerem transações com o afegão Arian Bank, pertencente a dois bancos iranianos, que estaria sendo usado pelo governo iraniano para movimentar dinheiro de e para o Afeganistão.
Autoridades ocidentais e afegãs, e também operadores de câmbio no Afeganistão, dizem que vários iranianos começaram a buscar dólares e euros para trocar por rials depois do endurecimento das sanções no último ano. Essas transações são parte dos esforços das classes média e alta do Irã para proteger suas poupanças e lucros empresariais, transferindo-os para o exterior. Mas, como as transferências legítimas para fora do Irã estão praticamente impossíveis devido às sanções, eles convertem o dinheiro no Afeganistão, e então o transferem para bancos do golfo Pérsico e outros lugares.
"A classe média está em pânico sobre o que fazer agora" disse Djavad Salehi-Isfahani, economista da Virginia Tech e especialista em economia iraniana.
O mais perturbador, aos olhos das autoridades ocidentais, é que o governo iraniano está buscando reforçar suas reservas de dólares, euros e metais preciosos para estabilizar suas taxas de câmbio e pagar suas importações. Em 2011, o Irã tinha US$ 110 bilhões de reservas em divisas estrangeiras e metais preciosos, e acredita-se que o valor esteja em queda.
Os cambistas afegãos oferecem taxas vantajosas na troca dos seus dólares por rials, que circulam em muitas partes do oeste afegão.
Hajji Najeeb Ullah Akhtary, presidente de uma entidade que congrega "hawalas" (empresas tradicionais de câmbio e transferência de valores), disse que a classe notou no último ano um aumento constante no número de iranianos que trazem dinheiro para o Afeganistão. Isso se soma às transferências rotineiras feitas por afegãos que moram e trabalham no Irã, incluindo mais de 1 milhão de refugiados. O dinheiro "chega em caminhões", disse ele, em transferências organizadas por intermediários afegãos, que cobram comissões de 5% a 7%.
O operador de "hawala" Hajji Ahmed Shah Hakimi disse que as sanções são vistas como um problema dos americanos, e que por isso alguns afegãos não veem inconveniente em contrabandear dinheiro para os iranianos.
Em 2011, estimados US$ 4,6 bilhões, equivalente a cerca de um terço do PIB afegão, saíram do país pelo aeroporto de Cabul em voos comerciais, a maioria com destino a Dubai, segundo o Banco Central.
Ninguém sabe quanto saiu do Afeganistão por terra, em caminhões, ou nos dois voos semanais de Kandahar (sul) para Dubai, segundo um funcionário afegão que monitora transações financeiras suspeitas. "Kandahar?", disse ele. "Não temos nem ideia do que está acontecendo lá."
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