segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nos últimos dias o número de prisões aumentou no Irã, mas, em vez de atingir a oposição e os reformistas, como costuma acontecer, elas têm visado os círculos do governo conservador. Faezeh Hachemi Rafsandjani, a filha do ex-presidente iraniano, que continua a exercer um papel importante na vida política de seu país, foi presa em sua casa e levada à temida prisão de Evin. A jovem, próxima do movimento de protestos de junho de 2009, havia sido condenada a uma pena de seis meses de prisão, mas até hoje permanecera em liberdade. No dia 24 de setembro, o irmão de Faezeh, Mehdi Hachemi, foi preso, um dia após chegar ao aeroporto de Teerã, voltando de três anos passados em Londres. Ele também é acusado de ser um instigador das manifestações do "movimento verde", que havia protestado nas ruas contra a controversa reeleição de Mahmoud Ahmadinejad já no primeiro turno das eleições presidenciais. O envolvimento dos filhos de Rafsandjani com o movimento verde e os protestos de 2009 não foi o verdadeiro motivo dessas prisões, concordam os comentaristas iranianos, que veem ali muito mais uma "mensagem" dirigida ao insubmergível Ali Akbar Hachemi Rafsandjani, velha raposa da política iraniana. Presidente entre 1989 e 1997, Rafsandjani teve de abrir mão de suas ambições presidenciais depois de sua amarga derrota em 2005 para Ahmadinejad, que destacou cruelmente sua falta de base popular. Depois de seu - tímido - distanciamento do regime, após a repressão de 2009, concluiu seu exilo. Mas continuou sendo um homem de influência, à frente de uma imensa fortuna e do Conselho de proteção dos interesses do regime. Nas últimas semanas, Rafsandjani fez sua volta ao cenário político iraniano: cada vez mais presente na mídia, ele chegou até a ser visto sentado ao lado do Líder supremo Ali Khamenei durante a cúpula dos Não-Alinhados no final do mês de agosto, em Teerã. Com a aproximação da eleição presidencial de 2013, essa visibilidade não deixa de preocupar alguns dos clãs no poder, que temem a aura desse homem pragmático, que havia encarnado a reconstrução do país após a guerra contra o Iraque e a morte do aiatolá Khomeini. Submetido a rigorosas sanções financeiras por causa de seu programa nuclear, o Irã está vendo o rial afundar e sua economia correr para a falência: Rafsandjani, ou um de seus aliados, poderia encarnar uma saída para a crise. Prendendo seus filhos, quiseram avisá-lo que ele deveria se manter à distância. Outra vítima dessas purgas preventivas é o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que concluirá em 2013 seu segundo mandato e por isso não poderá se candidatar novamente. Mas ele não esconde sua vontade de ver como sucessor seu fiel braço direito, Esfandiar Rahim Machai. Um homem execrado pelos religiosos e pelo círculo do Líder supremo, o verdadeiro homem forte da República Islâmica, por suas opiniões sacrílegas sobre o xiismo.
Enquanto estava em Nova York para assistir à Assembleia Geral da ONU - sua última -, Mahmoud Ahmadinejad soube da prisão de seu assessor de imprensa, Ali Akbar Javanfekr, também diretor da agência oficial de notícias Irna, na última quarta-feira (26), em Teerã, para cumprir sua pena de seis meses de prisão por "insulto ao Líder supremo" pronunciada em fevereiro de 2012. Ali também a mensagem foi transparente: Ahmadinejad não deve esperar colocar em seu lugar um dos seus. Essa onda de prisões, à qual convém acrescentar a ordem de fechamento contra o principal jornal moderado do país, "Shargh", é o primeiro sinal tangível da batalha subterrânea que está se dando neste momento visando a eleição presidencial de 2013. A sucessão de Mahmoud Ahmadinejad está em aberto, sabendo-se que a ala reformista está fora de jogo, uma vez que seus dois principais líderes, Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, se encontram em prisão domiciliar. Bernard Hourcade, diretor de pesquisas no CNRS e especialista em Irã, vê ali "uma competição meio anárquica, onde os diferentes partidos próximos do governo estão bloqueando uns aos outros diante do olhar do Líder supremo, cuja autoridade perdeu muita força com os protestos de 2009". Durante a semana que se passou, Mohammad Bagher Ghalibaf, o popular prefeito de Teerã, lançou um ataque virulento contra a corrupção e a má gestão do governo Ahmadinejad. Ao mesmo tempo, Haddad Adel, deputado e sogro do filho de Ali Khamenei, Mojtaba, não escondeu sua intenção de participar da corrida presidencial. Outro suposto pretendente: Said Jalili, o representante especial do Líder supremo para as negociações sobre a questão nuclear. "Esse jogo de massacre continuará até a eleição", prevê Bernard Hourcade. "Cada um tem interesse em destruir os outros candidatos, mas nem por isso se declaram, para poderem surgir no último minuto". Veladamente, também está sendo preparada a sucessão do próprio líder. A habitual e acirrada luta pelo poder dentro da ala ultraconservadora ainda tem outras questões. Seu resultado terá influência sobre o resultado das negociações em andamento sobre o programa nuclear, infrutíferas até o momento, e sobre a guerra regional por tabela entre a Síria e o Irã de um lado, e o Qatar, a Arábia Saudita e a Turquia de outro.

Nenhum comentário: