segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Por toda a Índia, pequenos auto-riquixás de três rodas transportam pessoas e bens de um lugar para outro, andando em meio ao tráfico ao lado de ônibus, carros, táxis, caminhões e motos em Nova Déli. Em janeiro, os primeiros auto-riquixás movidos a hidrogênio do mundo tomaram as ruas internas de Pragati Maidan, o amplo centro de exposição no leste da capital. Os 15 auto-riquixás azuis adaptados, que antes usavam uma fonte de energia convencional, ainda proporcionam a mesma viagem barulhenta e ventosa -e em uma recente volta, o motorista buzinando por reflexo produzia orgulhosamente o mesmo barulho de doer os ouvidos que pode ser escutado por toda a Índia. Mas há diferenças críticas. O escapamento emite vapor de água, calor e quase nenhuma outra emissão. O corpo é adaptado para transportar um tanque de gás hidrogênio; o motor e seu sistema de injeção foram modificados, e um sistema de controle eletrônico foi instalado, desenvolvido pelos pesquisadores do Instituto Indiano de Tecnologia, em Déli. Mesmo assim, eles se reabastecem em um posto da mesma forma que os auto-riquixás comuns se abastecem com gás natural comprimido, por meio de bombas e mangueiras com bicos especiais. O uso do hidrogênio para transporte está em sua infância, mas muitos esperam que esses auto-riquixás sejam um passo para a redução da dependência de combustíveis fósseis nos países em desenvolvimento, onde os veículos motorizados contribuem para a poluição do ar. Hidrogênio limpo, eficiente e naturalmente abundante tem o potencial de "facilitar a transição para um futuro de baixo carbono, da mesma forma que o petróleo e o motor de combustão interna tomaram o lugar do carvão e do motor a vapor", disse o Centro Internacional para Tecnologias da Energia do Hidrogênio, um projeto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e do governo turco. Também há a promessa de segurança em energia. Segundo um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos, "o hidrogênio oferece o potencial de longo prazo de um sistema de energia que produz quase nenhuma emissão e é baseado em recursos domesticamente disponíveis". Os auto-riquixás a hidrogênio de Déli são o resultado de um projeto de três anos envolvendo uma série de parceiros, incluindo a agência de desenvolvimento da ONU, que financiou metade do custo de mais de US$ 1 milhão. Contribuições em espécie vieram de parceiros como a fabricante indiana de veículos automotivos Mahindra, que forneceu os auto-riquixás, e a Air Products, uma empresa de energia com sede na Pensilvânia que forneceu uma bomba de reabastecimento de hidrogênio no centro de exposição e know-how técnico.
Apesar de a frota inicial ser modesta, até um milhão de veículos a hidrogênio podem ser colocados nas ruas da Índia até 2020, disse Bibek Bandopadhyaya, um conselheiro do Ministério das Energias Novas e Renováveis indiano. Essa meta parece altamente ambiciosa, diante dos desafios para expansão mundial da tecnologia, ainda mais na burocrática Índia. Ainda assim, diante da demanda urgente por energia -movida pelo crescimento econômico, aumento do número de veículos e piora da poluição do ar- a Índia está explorando todas as opções de energia alternativa e renovável, com vários graus de sucesso. A necessidade por energia limpa está pressionando a Índia, onde as grandes cidades estão envoltas em uma poluição sufocante. A Índia ficou 125º lugar entre 132 países pesquisados para o Índice de Desempenho Ambiental 2012 das universidades de Yale e Colúmbia nos Estados Unidos, que mede a poluição do ar e outros indicadores. O país foi o terceiro maior emissor do mundo de gases do efeito estufa no ano passado. O hidrogênio é considerado uma espécie de santo graal dos combustíveis, mas há desafios substanciais para o seu desenvolvimento. "Carros a célula de combustível e hidrogênio seriam uma revolução, e as revoluções precisam de fortes motivadores. Ainda não existem fortes motivadores, mas se os preços do petróleo subirem o suficiente, eles podem surgir", disse John Heywood, professor emérito de engenharia mecânica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que é especializado em motores de combustão interna. Os maiores obstáculos para a expansão são o acesso a hidrogênio suficiente, falta de uma rede de distribuição e o custo relativamente alto em comparação a outros combustíveis. Apesar de o hidrogênio ser naturalmente abundante, ele deve ser separado de outros elementos por meio de processos atualmente caros, intensivos em energia. É feito para fins industriais, como a produção de fertilizante ou refino de combustível, mas não é produzido para consumo em massa. Há pouca infraestrutura para transportá-lo e os postos de abastecimento são poucos. O hidrogênio também carrega um estigma de risco associado ao desastre do dirigível Hindenburg de 1937 e à bomba de hidrogênio. Mas na verdade ele é mais seguro que a gasolina se manipulado de modo apropriado, disse Nicolas Lymberopoulos, diretor de projetos e programas da agência da ONU e do centro de energia de hidrogênio: mais leve que o ar, ele se dispersa rapidamente e tende a queimar em vez de explodir, o tornando mais seguro que o gás natural, ele disse. No centro em Déli, os motoristas dos auto-riquixás a hidrogênio foram treinados especificamente em técnicas de segurança e reabastecimento e os veículos de três rodas foram adaptados com sensores especiais para detecção de vazamentos. "Os aspectos técnicos foram resolvidos", disse L.M. Das, professor do Centro para Estudos de Energia do Instituto de Tecnologia, que pesquisa o hidrogênio há 25 anos e está desenvolvendo os auto-riquixás a hidrogênio há cinco. "O principal desafio é a viabilidade econômica." A tecnologia de hidrogênio é baseada na de célula de combustível, mas as células de combustível não são práticas para países em desenvolvimento, porque suas partes são caras, assim como o hidrogênio puro que elas precisam. A experiência de Déli mostra que mesmo os humildes auto-riquixás podem rodar com hidrogênio de menor qualidade -apesar de emitirem alguns traços de óxido de nitrogênio. Agora, serão necessárias restrições à poluição ou conversão obrigatória dos veículos para hidrogênio para que ele ganhe impulso na Índia, disse Lymberopoulos. "O hidrogênio tem um papel, não apenas nos países desenvolvidos, mas também em economias em desenvolvimento como a Índia", disse Kandeh K. Yumkella, diretor geral da ONU. "Não é apenas para veículos de luxo e ônibus, mas também para aplicações práticas pé no chão, como os riquixás."

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