Toda quarta-feira, num bar no centro de Tóquio, várias pessoas se encontram atrás de um novo relacionamento.
Há bebidas e olhares tímidos. No entanto, esses jovens não procuram um namoro.
"Quero conhecer gente com mentalidade semelhante -basicamente, pessoas que entendam a internet", disse Shingo Hiranuma, 29, ex-engenheiro de smartphones da Toshiba que recentemente lançou um aplicativo de mapas, o Sanpo.
"E eu não vou me contentar com qualquer um."
Embora em pequeno número, uma nova geração de empreendedores de tecnologia japoneses está recorrendo a algumas incubadoras e até ao financiamento do Vale do Silício. E os chamados "encontros de start-ups" ajudam possíveis colaboradores a se conhecerem
"Há muita incerteza no Japão atualmente, e isso tornou os jovens japoneses mais dispostos a assumir riscos e a experimentar novas ideias", disse Hiro Maeda, 26, que trabalhou em várias start-ups nos EUA antes de voltar ao Japão para criar a Open Network Lab, uma incubadora de Tóquio.
A empresa já financiou cinco levas de start-ups desde sua criação, em 2010. Maeda disse ter recebido quase cem solicitações na última rodada, neste ano -mais do que o dobro do que em 2011.
O Japão precisa desesperadamente de uma infusão de sangue empreendedor. Com uma economia estagnada e uma população que envelhece rapidamente, o país despencou para a 25a colocação no ranking de inovação global da ONU, deixando o "top 20" pela primeira vez desde o início dessa pesquisa, em 2007.
Está cada vez mais claro que as grandes fábricas japonesas de produtos eletrônicos não serão o motor da inovação. Essas empresas, com sua competitividade solapada pelo iene forte, acumulam enormes prejuízos e estão sendo assumidas por concorrentes estrangeiros.
Mas os empreendedores tecnológicos do Japão precisarão superar muita coisa para ter sucesso onde os grandes fracassaram.
A sociedade japonesa continua venerando a lealdade vitalícia à empresa e penalizando o risco e o fracasso. O governo criou complicadas regras que atrapalham os recém-chegados, e os investidores não assumem riscos.
"Seja falando em guiar a inovação ou criar novos empregos, está claro que o Japão precisa tentar algo novo", disse Taizo Son, um dos fundadores do Yahoo! no Japão, em 1996, e hoje diretor do fundo de investimentos Movida Japan. "Mas as probabilidades ainda estão contra as pessoas que ousam tentar."
Segundo o Centro de Empreendimento de Risco, de Tóquio, o valor dos investimentos feitos pelos cerca de 50 membros do seu fundo de capital de risco subiu 35% de 2010 para 2011, chegando a US$ 316 milhões.
Mas isso é pouco diante dos US$ 12,6 bilhões em capital de risco arrecadado no mesmo ano por empresas do Vale do Silício, segundo a Ernst & Young.
A proporção de trabalhadores japoneses envolvidos com o empreendedorismo no Japão era de 3,3% em 2010, um dos menores índices do mundo industrializado, de acordo com o portal InternationalEntrepreneurship.com.
Parte do problema é que não há um acompanhamento real das aquisições de start-ups no Japão, o que significa que empreendedores tecnológicos só podem se desfazer de um investimento por meio de uma oferta pública inicial -uma meta ambiciosa demais para a maioria das empresas.
Mas um crescente número de japoneses mais velhos e experientes está deixando seus empregos para criar suas próprias companhias, e isso ajuda a galvanizar o ambiente local das start-ups, segundo Taku Harada, diretor da PeaTiX, uma start-up de gestão de eventos que permite que os usuários criem convites e ingressos para atividades.
Harada, que trabalhou na Sony, Apple e Amazon antes de criar a PeaTiX, em 2009, diz que está mais fácil cooptar talentos de grandes empresas. Em sua start-up, que tem 20 funcionários, a média de idade é superior a 30 anos.
"Mais histórias de sucesso poderiam inspirar mais gente em posições graduadas nas corporações a fazer o salto", disse Harada.
No entanto, muitos profissionais lhe dizem que, no Japão, o fracasso ainda acarreta repercussões grandes demais para a reputação.
"Se você fracassa", disse Harada, "não recebe muitas chances depois".
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