segunda-feira, 12 de novembro de 2012


A poluição é sufocante, o trânsito congestionado e os problemas com alimentos variam de brotos de feijão tóxicos ao uso de óleo de sarjeta nos restaurantes. Sem contar que este Estado de partido único tem um histórico ruim de direitos humanos e nenhuma liberdade de imprensa. Então, por qual motivo a China está se transformando rapidamente em um dos locais mais desejáveis para os estrangeiros viverem? A resposta é dinheiro. Neste mês, a China ficou em 7º lugar no levantamento anual Expat Explorer Economics de 2012 do HSBC, em comparação ao 19º lugar no ano passado. O levantamento mede a renda disponível, qualidade de vida e os desafios de criar filhos no exterior (para os quais não há dados disponíveis para a China), entre outras coisas, conversando com estrangeiros de quatro continentes. Quase metade dos estrangeiros entrevistados tinha a expectativa de que ganharia mais na China. Eles não ficaram desapontados. Para 64%, houve uma melhoria acentuada no status financeiro do seu lar após chegarem ao país. As pessoas atentas à pesquisa podem ser executivos bem remunerados. Mas também há jovens se mudando para a China, levados pelo desemprego em casa e atraídos pelas oportunidades de trabalho e viagem na Ásia, somadas aos custos de vida mais baixos. Eu faço parte desse grupo. Em 2009, eu me formei no principal curso de pós-graduação em jornalismo do Reino Unido e me deparei com uma recessão. Era difícil encontrar emprego, algo agravado pela turbulência no setor de mídia. Naquele ano, me ofereceram um estágio na revista “Time Out” em Pequim, que eu aceitei. A decisão foi simples: a China parecia o futuro. A Europa, apesar de toda sua beleza, história e cultura, está emperrada. O desemprego era, e continua sendo, desesperador. Foi a decisão certa; meu estágio logo se transformou em um emprego em tempo integral. Eu não sou a única. Pelo menos quatro amigos do mesmo programa de jornalismo acabaram trabalhando na China em algum momento nos últimos três anos –ajudados, é claro, por um país que continuamente produz algumas das melhores histórias. Meus amigos europeus trabalham em arquitetura, organizações sem fins lucrativos, moda, finanças e cinema. De forma bizarra, apesar de toda sua censura, a China é um ambiente no qual tipos criativos, de arte a design, parecem prosperar. Acima de tudo, a China oferece não apenas trabalho, mas uma chance de saltar alguns degraus na carreira. Veja o exemplo do meu colega de quarto espanhol (que não quis que eu usasse seu nome). Ele veio de Barcelona para Pequim em outubro do ano passado, após ser demitido de seu emprego de pesquisa de mercado depois de seis anos. Aos 34 anos, ele decidiu recomeçar em um país de 1,3 bilhão de habitantes, onde ele só conhecia uma pessoa. Após um ano de bicos enquanto ele vivia de suas economias, meu amigo agora tem um emprego em Xangai em uma empresa estrangeira. Ele se sente afortunado: ele não apenas encontrou trabalho, mas também responsabilidades que nunca lhe dariam em casa. Ele está muito melhor do que estaria se tivesse permanecido na Espanha, onde os jovens foram reduzidos a revirar as latas de lixo à procura de comida. É claro, os mais de 1 milhão de estrangeiros que vivem na China são muito mais diversos do que executivos bem remunerados e europeus excessivamente qualificados fugindo da recessão. Comerciantes da África estão chegando à cidade de Cantão, no sul, em grande número; muitos russos trabalham no nordeste do país; sul-coreanos correspondem a uma grande parcela da população estrangeira em Pequim. Os estrangeiros que entram na China aumentaram em 10% ao ano desde 2000, segundo o vice-ministro da segurança pública. A vida para os estrangeiros europeus assistindo de longe o colapso da economia de seus países de origem é agridoce. Miguel Espigado, um professor de língua e literatura espanhola na Universidade de Pequim, chegou à China em 2008, à procura de “aventura, dinheiro, uma experiência cultural e exótica”. Quatro anos depois, ele sente que não pode voltar para casa na Espanha, pois haveria pouco o que fazer lá. Para mim, viver na China vale a pena pela energia, otimismo e espírito empreendedor que vem com o crescimento da economia. Isso também se espalha para a vida fora do trabalho. Apesar de suas rebarbas, Pequim está a caminho de se transformar em uma cidade internacional. Aqui é possível comer em restaurantes franceses elegantes ou experimentar a culinária local, como os sabores florais delicados de Yunnan, no sul, por apenas US$ 8 por pessoa. Os brasileiros que conheço balançam a cabeça espantados com a baixa criminalidade. Os táxis, apesar de cada vez mais difíceis de encontrar, continuam baratos, e viajar pelo país –para o vasto e fascinante interior da China– é sempre um prazer. Hoje, a poluição atingiu o nível de “perigoso”. Um manto de fumaça cinza cobre a cidade; eu mal consigo ver o outro lado da rua. Para alguns veteranos na China, os riscos à saúde somados ao poder sempre presente do Partido Comunista no dia a dia é suficiente para fazê-los voltar para casa. Quanto a mim, eu vou ficar onde os empregos estão.

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