Após a turbulência diplomática em torno das Ilhas Diaoyu/Senkaky, reivindicadas tanto pela China quanto pelo Japão, as montadoras nipônicas estão avaliando suas perdas no maior mercado mundial.
Entre as três grandes japonesas presentes na China, a grande perdedora se chama Nissan. Na terça-feira (6), a parceira da Renault divulgou resultados decepcionantes, recuando 2,8% no primeiro semestre (abril-setembro), para 1,78 bilhão de euros (cerca de R$ 4,6 bilhões).
Para o ano fiscal que termina no dia 31 de março de 2013, a montadora estima um lucro líquido de somente 3,2 bilhões de euros, contra os 4 bilhões esperados até agora. Além do iene forte e da crise na Europa, o grupo confirma o impacto da queda de suas vendas na China, para onde ele escoa mais de um quarto de seus carros: em 2012-2013, ele agora espera registrar ali 1,175 milhão de veículos, ou seja, 175 mil a menos que o previsto.
A Honda também está em recuo. No final de outubro, a montadora revisou suas previsões anuais de lucro, passando de 4,7 bilhões para 3,75 bilhões de euros (R$9,75 bilhões). Na China, ela espera por uma queda de 20% no número de unidades vendidas.
Somente a Toyota permanece no azul. Na segunda-feira, o grupo revisou para cima sua previsão de lucro anual, de 7,4 bilhões para 7,6 bilhões de euros (R$ 19,76 bilhões). E isso graças à forte recuperação do mercado japonês e à sua volta ao primeiro plano na América do Norte, após uma forte queda em 2011.
Para a principal montadora japonesa, “o efeito das atuais relações entre o Japão e a China sobre as vendas ainda não está claro”, ainda que ela antecipe uma queda de 200 mil vendas no último trimestre de 2012 e no primeiro trimestre de 2013, ou seja, uma perda de 292 milhões de euros (R$ 759 milhões).
No entanto, a ascensão do sentimento antinipônico junto a consumidores chineses desde o final do verão triunfou sobre a meta de produção de 10 milhões de veículos em 2012 que o grupo estabeleceu para si no início do ano. A partir de agora, a Toyota não está mais “focada nesse número”.
Desde setembro, nada mais tem dado certo para as montadoras japonesas na China. As vendas da Toyota caíram 48,9% em setembro, as da Honda 40,5% e as da Nissan 35,3%.
Segundo John Zeng, diretor das previsões para a região Ásia-Pacífico da LMC Automotive, as montadoras japonesas deixaram de fazer 110 mil vendas potenciais em setembro, ou seja, US$ 2 bilhões (cerca de R$4 bilhões) em faturamento, enquanto as manifestações estavam em seu auge nas grandes cidades chinesas. “As próprias empresas não podem fazer nada quanto a isso porque é uma questão política, tudo depende da capacidade das duas partes de se entenderem”, constata Zeng.
Durante o verão, fotos de carros de marcas japonesas virados e às vezes em chamas circularam pelo Weibo, o Twitter chinês, alimentando a fúria mas também despertando um debate, uma vez que os veículos em questão são produzidos localmente por operários chineses.
No mês passado, o riquíssimo empresário Chen Guangbiao adquiriu 43 automóveis da marca Geely para dá-los aos chineses cujos veículos tivessem sido danificados, “como prova de seu patriotismo”. Cercado por bandeiras da República Popular, durante uma cerimônia ele alardeou ter gasto 5 milhões de yuans (quase R$ 1,63 milhão) na operação.
Nesse contexto, as montadoras japonesas tiveram de desacelerar o ritmo de suas cadeias de produção. A Nissan fechou suas fábricas durante os feriados em torno da festa nacional chinesa do 1º de outubro, e a produção só voltou no dia 8 de outubro, em um ritmo limitado. A Toyota, que possui nove fábricas na China, havia reduzido pela metade sua produção no início de outubro antes sua queda de 30%, em relação a seu ritmo normal no resto do mês.
Às diferenças diplomáticas se sobrepõem os erros estratégicos das montadoras japonesas na China. Enquanto a Volkswagen e a General Motors apresentam continuamente modelos especificamente idealizados para os motoristas chineses, os japoneses oferecem aos consumidores locais veículos pensados para... americanos ou europeus. Foi o que aconteceu com o Toyota Yaris, lançado em 2008 e cujas vendas nunca decolaram. A 11 mil euros, uma fortuna para o chinês médio, seu design lembra mais a frugalidade do que a ascensão social à qual aspiram os chineses.
“A Honda e a Toyota foram muito conservadoras em sua abordagem da China”, acredita Steve Man, analista do setor automobilístico chinês do Banco Nomura. No entanto, Man não inclui a Nissan, que adaptou seus modelos aos desejos chineses.
Segundo ele, o desacordo sobre as terras no Mar da China oriental jogou as vendas japonesas para seu nível mais baixo em outubro, mas o impacto deverá ser sentido com ainda mais força nos próximos quatro meses, para depois diminuir.
Resta saber quem ocupará o espaço nesse mercado agora ultracompetitivo. A coreana Hyundai se gabou de vendas recordes em setembro – 127.800 unidades - , assim como a Ford com seu Focus, com 33 mil unidades vendidas.
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