Folha de São Paulo Terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Teerã prende 14 jornalistas e reaviva temor de repressão
Profissionais são acusados de cooperar com mídia estrangeira pró-oposição
País é um dos que têm mais jornalistas presos; cerco à mídia cresceu após a eleição de 2009, supostamente fraudada
País é um dos que têm mais jornalistas presos; cerco à mídia cresceu após a eleição de 2009, supostamente fraudada
SAMY ADGHIRNIDE TEERÃ
O governo do Irã prendeu no fim de semana pelo menos 14 jornalistas,
entre eles um conhecido editor-chefe, sob acusação de cooperar com
veículos de mídia estrangeira favoráveis à oposição.
A operação espalhou pânico no meio jornalístico iraniano. Muitos
profissionais temem uma escalada repressiva no período prévio à eleição
de junho, que encerrará a Presidência de Mahmoud Ahmadinejad, impedido
por lei de concorrer novamente.
Agentes à paisana com mandado de prisão invadiram redações de quatro
jornais, uma revista e uma agência de notícias para efetuar as capturas,
que consolidam a presença do Irã entre os países com maior número de
jornalistas presos (45, sem contar a ação do fim de semana).
A Folha ouviu relatos de que funcionários das redações tentaram impedir à força a prisão dos colegas, gerando tumulto e nervosismo.
Um dos detidos é Javad Daliri, editor-chefe do jornal reformista
"Etemaad", que já havia sido preso por suposta colaboração com a
oposição.Não estão claros a situação jurídica dos jornalistas e seu
paradeiro após a captura.
Só foi divulgada pela mídia oficial a acusação de que passavam notícias a
órgãos de mídia "antirrevolucionários" que divulgam informações no
idioma local farsi, aparente referência à BBC Persian e à Voice of
America.
As duas emissoras, financiadas por Reino Unido e EUA respectivamente,
são banidas no Irã. Mas suas transmissões de rádio e TV são amplamente
acessadas por parabólicas clandestinas, tornando-se a principal fonte de
notícia para milhões de iranianos críticos de seu governo.
Com programação claramente antirregime, a BBC Persian e a VOA são vistas
por Teerã como instrumento de propaganda para derrubar as fundações
ideológicas da Revolução Islâmica de 1979.
As prisões ocorrem uma semana após o procurador-geral da república
islâmica, Gholam Hossein Mohseini Ejehi, ter ameaçado punir jornalistas
com ligações à "mídia estrangeira hostil".
Repórteres iranianos ouvidos pela Folha especulam que os detidos abastecessem órgãos baseados no exterior devido às restrições locais.
"A eleição está chegando e há informações importantes que não podem
circular aqui. Alguns repassam a colegas no exterior", disse um deles,
acrescentando que as redações da BBC Persian e da VOA são essencialmente
compostas por iranianos exilados.
O Irã apertou o cerco à imprensa após a última eleição presidencial, em
2009, quando uma onda de revolta contra a reeleição supostamente
fraudulenta de Ahmadinejad se alastrou pelo país.
Um dos jornalistas também enxergou possíveis motivações financeiras. "A
situação econômica no Irã está péssima. Eu mesmo estou com salário
atrasado. Pode ser tentador para alguns receber um dinheiro extra em
dólar para repassar informações."
Nenhum comentário:
Postar um comentário