Quando Bonnie Ras, 54, imigrou para Israel em 2010 o
Muro das Lamentações era para ela símbolo da união entre os judeus de todo o
mundo. Ao chegar ao país vinda dos Estados Unidos, porém, ela concluiu que o
lugar mais sagrado do judaísmo significaria a segregação. Ras foi detida na
semana passada, ao lado de outras quatro mulheres, sob a acusação de desordem e
de não respeitar as tradições do lugar. Elas irão à corte no dia 24 deste mês.
Entre os fatores que causaram indignação aos judeus chamados haredim (ultraortodoxos),
que controlam acesso ao local, estava o fato de elas vestirem xales de reza e
filactérios (faixas com inscrições religiosas). São apetrechos reservados aos
homens. Os ultraortodoxos não são contra a presença de mulheres no local, mas à
forma como o grupo de Ras, o Mulheres do Muro, reza. "[O Muro das
Lamentações] está sendo administrado de uma maneira inaceitável para a maioria
dos judeus", afirma Ras à Folha. "Respeito os haredim, mas eles não
podem dizer que não somos bons judeus porque nós não somos iguais a eles."
O debate das Mulheres do Muro, além do feminismo, esbarra no conflito entre os
setores conservadores e aqueles mais liberais no país. Os haredim são minoria
em Israel, cerca de 10%. Para Ras, os benefícios desse grupo, incluindo o que
ela chama de "ditadura" sobre os rituais, estão relacionados à
presença dos ultraortodoxos em coalizões do governo. "Foi o preço que
pagamos pelo nosso sistema político." Eles não fazem parte da coalizão
atual, o que pode significar que terão papel reduzido nos próximos anos. Os
ultraortodoxos afirmam que se incomodam com práticas religiosas como ler a Torá
(livro sagrado) em voz alta, pois a voz feminina é vista como distração. O
grupo de mulheres discorda e afirma que tem como único interesse continuar a
orar, como fazem desde sua fundação, há 25 anos. "Nós não acordamos tão
cedo para protestar", diz Ras. "Essa é uma questão de liberdade de
culto."
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