O presidente
Mahmoud Ahmadinejad não vai sair de cena tranquilamente.
A poucos meses
de encerrar seu segundo e último mandato presidencial, ele tem causado uma
série de polêmicas para, segundo especialistas, transformar sua imagem pública
e assegurar que o seu candidato, Esfandiar Rahim Mashaei, tenha o apoio de
iranianos urbanos insatisfeitos.
Tudo isso é
parte de uma disputa de poder com vistas à eleição de junho, que opõe a facção
de Ahmadinejad a uma coalizão de tradicionalistas, a qual inclui muitos
comandantes da Guarda Revolucionária e clérigos radicais.
Com o fim do movimento
de protesto surgido após a última eleição presidencial, em 2009, Ahmadinejad e
seus partidários têm aparecido no improvável papel da oposição. Eles agora
estão lutando contra os tradicionalistas que, entre outras coisas, assumem uma
postura mais dura nas negociações com o Ocidente sobre o programa nuclear do
Irã e gostariam de abolir a Presidência.
Na complexa
política iraniana, essas disputas costumam ser travadas sob o olhar atento do
líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, que decide em última instância
os vencedores e perdedores da disputa.
Se o presidente
e seus partidários fracassarem, perderão qualquer possibilidade de imunidade
judicial e ficarão à mercê não só do Judiciário, mas também das forças de
segurança, da TV estatal e dos influentes líderes das preces das sextas-feiras
-todas elas instâncias controladas pelos tradicionalistas.
Promotores já
avisaram publicamente que podem processar auxiliares de Ahmadinejad por
corrupção, delitos administrativos e desvios em relação ao islamismo.
Não que
Ahmadinejad tenha tido uma epifania que o deixasse aberto a abraçar a
democracia ocidental. Mas, nos últimos meses, ele tem surpreendido seus
críticos do Ocidente ao desafiar seus inimigos.
Em fevereiro,
durante sessão parlamentar transmitida pela TV, ele mostrou um vídeo gravado
secretamente em uma reunião de um aliado seu com Fazel Larijani, o mais jovem
de cinco influentes irmãos estreitamente ligado aos tradicionalistas, que
Ahmadinejad disse estar propondo negócios fraudulentos.
Apesar de ter
anteriormente defendido o papel do islamismo nos assuntos cotidianos, o
presidente agora se posiciona como um paladino dos direitos do cidadão. Em
discursos, ele prefere os termos "nação" e "povo" no lugar
de "ummah", a comunidade dos crentes, que é a palavra preferida pelos
clérigos, constantemente na defensiva contra qualquer retomada do nacionalismo
pré-islâmico. Ele também já disse estar disposto a dialogar com os EUA.
Ahmadinejad
habitualmente aborda a questão da corrupção e insinua que outros funcionários
acumularam riquezas e poderes em razão dos seus cargos.
Em seus
discursos, ele também tem usado o lema "vida longa à primavera", o
que alguns interpretam como uma alusão às revoltas da Primavera Árabe.
"Na
prática, o presidente criou uma nova corrente no establishment político
iraniano", disse Reza Kaviani, analista do Instituto Porsesh, alinhado ao
ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, um oponente moderado de
Ahmadinejad.
"Ele se
organizou e colocou burocratas em posições-chave. Ele vai sobreviver para além
dos seus dois mandatos, assim como seus amigos. Mas como ele vai permanecer, e
a qual custo, não está claro por enquanto."
O apoio de
Ahmadinejad a Mashaei, seu mentor espiritual e consogro, é particularmente
provocativo para os conservadores. Em suas mensagens, Mashaei propaga a
importância da nação acima do islamismo.
Aiatolás e
comandantes militares de alto escalão dizem que Ahmadinejad foi
"enfeitiçado" por Mashaei, 52, um homem alto e sem barba, a quem eles
chamam de "maçom", "espião estrangeiro" e
"herege". Eles acusam Mashaei de tramar a derrubada da geração de
clérigos que governa o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.
A disputa entre
facções pode ser uma prévia do que está por vir nos próximos meses. O primeiro
momento crítico pode acontecer se o Conselho Guardião, que faz uma triagem de
candidatos a cargos eletivos, rejeitar a candidatura de Mashaei. Khamenei, por
enquanto, tenta acalmar a situação, alertando as facções sobre os riscos aos
interesses nacionais. Embora os dois grupos digam ter o apoio do aiatolá, a
posição dele não está clara, e muitos especialistas consideram que isso é
deliberado.
"Se
Ahmadinejad evitar discursos engajados e declarações grandiloquentes depois da
possível desqualificação de Mashaei pelo Conselho, há uma chance de que o líder
o autorize a concorrer usando um decreto estatal", disse o cientista
político Ehsan Rastgar. "Se não, podemos testemunhar agitação."
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