Um ano após o
escândalo que levou à desgraça política e à prisão do dirigente Bo Xilai, um
novo episódio envolvendo assassinato, poder e dinheiro intriga os chineses.
O cenário é o
mundo dos bilionários chineses e suas operações nos labirintos de uma economia
controlada pelo Estado. No centro da trama está Liu Hang, CEO da Hanlong, que
desapareceu deixando poucos vestígios.
A mídia estatal
deu pistas vagas, noticiando que Liu foi detido por esconder o irmão, acusado
de triplo homicídio.
A polícia de
Chengdu, cidade onde Liu vive, limitou-se a dizer que ele foi detido por
"graves infrações".
A abrupta saída
de cena de Liu compromete uma série de aquisições negociadas pelo grupo Hanlog,
um gigante com operações em mais de 15 setores, como mineração, construção,
vinho, alimentos e infraestrutura.
O caso também
levanta dúvidas sobre a capacidade de empresas chinesas concretizarem
ambiciosas expansões.
Entre as negociações
estava a compra da mineradora australiana Sundance pelo equivalente a R$ 2,8
bilhões, uma novela que se arrastava por quase dois anos e foi enterrada com a
prisão de Liu.
O alvo era um
projeto de minério de ferro na fronteira de Camarões e República do Congo, na
África central.
O plano parecia
ter respaldo político, já que estava em sintonia com o desejo do governo de
reduzir a dependência de mineradoras estrangeiras, como a brasileira Vale. Mas,
na negociação, os interesses se desencontraram.
Primeiro, a
Hanlong teve dificuldades incomuns para obter financiamento do Banco de
Desenvolvimento da China (BDC). Depois, veio a prisão de Liu, fortalecendo a
suspeita de rompimento.
Empreendedores
que lucraram com a abertura econômica da China, como Liu, dependem de boas
relações com o governo. Negócios no exterior precisam da aprovação estatal,
além de financiamentos como o do BDC.
Isso é um fator
de instabilidade para empresas estrangeiras. Há vários grupos de interesse no
governo e os investidores precisam saber qual a relação política dos parceiros
potenciais com o sistema, explicou à agência de notícias Bloomberg o professor
Ronald Wan, da Universidade Popular da China.
A nova
liderança, empossada em março, declarou a luta contra a corrupção uma de suas
prioridades. A prisão de Liu é interpretada como um recado de que dinheiro não
dá imunidade.
No ano passado,
a transição política foi marcada pelo escândalo Bo Xilai, dirigente em ascensão
que foi preso por suspeitas de corrupção e assassinato de um britânico.
A vida de Liu
Hang, 47, parece um roteiro policial. Dono de uma fortuna de R$ 1,7 bilhão,
escapou de uma tentativa de assassinato em 1997, segundo ele de um rival. Em
rara entrevista, em 2010, chegou em uma Ferrari, de casaco de pele, e deu uma
definição de si mesmo que pode ter perdido a validade: "Liu Hang, o único
sobrevivente".
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