quinta-feira, 2 de maio de 2013



Um ano após o escândalo que levou à desgraça política e à prisão do dirigente Bo Xilai, um novo episódio envolvendo assassinato, poder e dinheiro intriga os chineses.
O cenário é o mundo dos bilionários chineses e suas operações nos labirintos de uma economia controlada pelo Estado. No centro da trama está Liu Hang, CEO da Hanlong, que desapareceu deixando poucos vestígios.
A mídia estatal deu pistas vagas, noticiando que Liu foi detido por esconder o irmão, acusado de triplo homicídio.
A polícia de Chengdu, cidade onde Liu vive, limitou-se a dizer que ele foi detido por "graves infrações".
A abrupta saída de cena de Liu compromete uma série de aquisições negociadas pelo grupo Hanlog, um gigante com operações em mais de 15 setores, como mineração, construção, vinho, alimentos e infraestrutura.
O caso também levanta dúvidas sobre a capacidade de empresas chinesas concretizarem ambiciosas expansões.
Entre as negociações estava a compra da mineradora australiana Sundance pelo equivalente a R$ 2,8 bilhões, uma novela que se arrastava por quase dois anos e foi enterrada com a prisão de Liu.
O alvo era um projeto de minério de ferro na fronteira de Camarões e República do Congo, na África central.
O plano parecia ter respaldo político, já que estava em sintonia com o desejo do governo de reduzir a dependência de mineradoras estrangeiras, como a brasileira Vale. Mas, na negociação, os interesses se desencontraram.
Primeiro, a Hanlong teve dificuldades incomuns para obter financiamento do Banco de Desenvolvimento da China (BDC). Depois, veio a prisão de Liu, fortalecendo a suspeita de rompimento.
Empreendedores que lucraram com a abertura econômica da China, como Liu, dependem de boas relações com o governo. Negócios no exterior precisam da aprovação estatal, além de financiamentos como o do BDC.
Isso é um fator de instabilidade para empresas estrangeiras. Há vários grupos de interesse no governo e os investidores precisam saber qual a relação política dos parceiros potenciais com o sistema, explicou à agência de notícias Bloomberg o professor Ronald Wan, da Universidade Popular da China.
A nova liderança, empossada em março, declarou a luta contra a corrupção uma de suas prioridades. A prisão de Liu é interpretada como um recado de que dinheiro não dá imunidade.
No ano passado, a transição política foi marcada pelo escândalo Bo Xilai, dirigente em ascensão que foi preso por suspeitas de corrupção e assassinato de um britânico.
A vida de Liu Hang, 47, parece um roteiro policial. Dono de uma fortuna de R$ 1,7 bilhão, escapou de uma tentativa de assassinato em 1997, segundo ele de um rival. Em rara entrevista, em 2010, chegou em uma Ferrari, de casaco de pele, e deu uma definição de si mesmo que pode ter perdido a validade: "Liu Hang, o único sobrevivente".


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