Depois de sair do trabalho, Abdul Wahid caminha 16 quilômetros por
trilhas nas montanhas do norte do Afeganistão para embarcar num ônibus
que o leva até um instituto de formação de professores em Salang. Ele
volta para casa muito após o anoitecer, subindo a montanha a pé
novamente, e descansa para encarar seu emprego no dia seguinte.
Em sua determinação de conseguir a formação de professor, Wahid, 33,
simboliza muitos dos avanços conquistados recentemente na educação no
Afeganistão. Mas sua situação também simboliza a distância que ainda
falta ser percorrida.
Wahid é o diretor da escola de ensino médio de seu povoado, Unamak.
Embora ele próprio só tenha o diploma do ensino médio, é o professor
mais instruído com que contam seus 800 alunos.
A demanda por melhor ensino para os afegãos -e da oportunidade de
frequentar a escola, especialmente no caso de meninas- chegou ao ponto
mais alto em décadas. Mas há receios de que muitas das promessas de
melhora não estejam sendo cumpridas e de que problemas importantes
estejam ficando sem solução.
Muitas das escolas estão operando três turnos diários, o que significa
que os alunos só têm três horas de aula por dia. De acordo com
estatísticas da Unicef, a maioria dos professores do Afeganistão não é
qualificada pelas leis do país. Em muitas áreas rurais, se veem
professores que estudaram apenas até a nona série.
Quase metade das escolas do país funciona em barracas de lona ou à
sombra de uma árvore. Em um país marcado por extremos climáticos no
inverno e no verão, isso quer dizer que muitos dias letivos são
perdidos.
O sistema escolar público afegão cresceu tremendamente nos últimos anos,
reforçado por assistência internacional. A Agência dos EUA para o
Desenvolvimento Internacional (Usaid) teria doado US$ 934 milhões nos
últimos 12 anos para programas educacionais no Afeganistão.
O ministro da Educação, Farouk Wardak, insiste que há 10,5 milhões de
alunos matriculados neste ano, 40% dos quais meninas. Em 2001, sob o
governo do Taleban, havia apenas estimados 900 mil, entre os quais quase
não havia meninas. Muitos consideram essas cifras sem fundamento.
Documentos do Ministério da Educação listam 252 mil estudantes
matriculados na província de Khost no ano passado. Mas Kamar Khan
Kamran, do departamento de Educação da província, disse que os números
são radicalmente inflados: "Acho que mal vamos conseguir matricular 20
mil a 25 mil alunos neste ano".
Mesmo assim, a situação do ensino melhorou de modo marcante na última década.
Um exemplo de sucesso é o da escola feminina de ensino médio Sardar Kabuli, na capital.
No ano passado, mais de 290 meninas se formaram na escola, mais de um
terço do número das alunas matriculadas neste ano para o primeiro ano.
Mais de metade das que se formaram foram aprovadas nos exames de
admissão de universidades.
Dois anos atrás, a escola consistia em 38 tendas e havia três turnos
escolares. Hoje suas 6.600 alunas estudam em dois turnos (todas têm suas
próprias carteiras) e cada livro didático é dividido por não mais que
duas alunas.
O ministro da Educação tem orgulho do que já foi conquistado, mas se
mostra defensivo ao falar da qualidade do ensino. "Tenho US$ 70 para
gastar por ano com cada aluno", explicou. "Nos EUA se gastam US$ 20 mil,
no Paquistão, US$ 130.."
Na escola Sayid Ismail Balkh, na capital, 8.000 alunos estudam em turnos
de três horas diárias, em construções inacabadas. Em um dia dado, os
5.400 alunos estavam apertados: três diante de cada carteira, 40 em cada
sala de aula, com dez livros didáticos por classe. Lonas formavam um
teto improvisado. "Quando chove, não há aula", disse o diretor, Barat
Ali Sadaqi.
Os banheiros e as instalações de água ainda não estão prontos, e o odor
de esgoto permeia a escola. O fornecimento de eletricidade é
intermitente. Há apenas seis computadores para todos os alunos da
escola. "Isso é o desenvolvimento após dez anos em Cabul", disse Sadaqi.
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