Os partidários do presidente egípcio deposto Mohamed Mursi se mostraram
neste domingo (28) decididos a prosseguir com sua mobilização, apesar
das ameaças do poder de dispersar pela força suas concentrações no
Cairo, um dia após a morte de 72 pessoas em confrontos com a polícia.
Por sua vez, as forças de segurança egípcias mataram dez pessoas nas
últimas 48 horas na península do Sinai, segundo a agência de notícias
oficial Mena.
Durante a noite, foram registrados episódios violentos no país,
principalmente em Port Said (nordeste), onde várias pessoas ficaram
feridas.
"Há sentimentos de tristeza e de raiva, mas também uma grande
determinação" no grupo dos partidários de Mursi, afirmou à AFP um
porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el Hadad.
Hadad rejeitou qualquer compromisso que signifique confirmar a
deposição de Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no país,
em junho de 2012.
A Irmandade Muçulmana, de onde Mursi surgiu, exige sua reincorporação como condição prévia a qualquer discussão.
"Aceitamos qualquer iniciativa desde que se baseie na restauração da
legitimidade e anule o golpe de Estado. Não negociaremos com o
exército", disse.
Nos arredores da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, os
vários milhares de pró-Mursi que estão acampados há quase um mês
passaram uma nova noite em meio a barracas, rodeados de cartazes com a
imagem do presidente islamita deposto.
Ignorando a ameaça das autoridades de desmantelar o acampamento pela
força "muito em breve", alguns gritavam "Sissi, deixe o poder!", contra o
chefe do exército e novo homem forte do país, o general Abdel Fatah
al-Sissi.
O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, prometeu uma intervenção "no
âmbito da lei" com "o menor número de perdas possível" e pediu que os
manifestantes abandonem o local "para evitar um derramamento de sangue".
Os 72 mortos registrados nos confrontos da manhã de sábado no Cairo constituem o balanço mais elevado de falecidos desde a deposição de
Mursi pelo exército, no dia 3 de julho.
Os confrontos, pelos quais os dois grupos se acusam mutuamente,
explodiram horas após a realização na sexta-feira de grandes
manifestações dos simpatizantes do exército e da Irmandade Muçulmana.
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que seu país está
profundamente preocupado pelo "derramamento de sangue e pela violência"
das últimas horas, que elevaram a 300 o número de mortos em um mês de
distúrbios políticos.
A organização Human Rights Watch denunciou um "desprezo criminoso" das autoridades pela vida humana.
Estes mortos demonstram "uma vontade chocante por parte da polícia e de
certos (responsáveis) políticos de aumentar a violência contra os
manifestantes pró-Mursi", estimou Nadim Houry, diretor da HRW para o
Oriente Médio e o Norte da África.
Por outro lado, diversos confrontos explodiram na noite de sábado em
vários locais do país, especialmente em Port Said, na entrada norte do
canal de Suez, onde 15 pessoas ficaram feridas em confrontos entre os
partidários e opositores de Mursi, segundo a Mena.
Uma fonte médica do hospital Al-Amiri confirmou à AFP ter visto "cinco
feridos, dois deles em estado crítico, com ferimentos de bala no pescoço
e no tórax".
Na península do Sinai, as forças de segurança egípcias mataram 10
"terroristas" armados e capturaram outros 20 nas últimas 48 horas,
informou a Mena.
"Operações de segurança levadas adiante pelas forças armadas e pela
polícia no norte do Sinai para prender terroristas armados terminaram
com a morte de 10 destes elementos terroristas armados", disse a agência
citando fontes de segurança.
A sede local da Irmandade Muçulmana em Menufeya, no delta do Nilo, foi
incendiada durante a noite depois de terem sido registrados incidentes
entre os dois grupos, informou a imprensa.
Para o ministério do Interior, a forte resposta ao chamado do general
Sissi a protestar na sexta-feira para conceder a ele um mandato para
"acabar com o terrorismo" demonstra que o povo "deseja a estabilização
do país sob a proteção do exército".
Neste mesmo dia os islamitas também se mobilizaram nas ruas para apoiar
Mursi, detido em um local secreto pelo exército desde sua queda e alvo,
desde sexta-feira, de uma ordem de prisão preventiva por parte de um
tribunal egípcio.
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