Trinta e cinco anos depois de o livro pioneiro "Orientalismo", do
crítico cultural e literário Edward W. Said, ter redefinido o termo,
esse conceito ainda frequente em grandes exposições. É o caso, agora, da
mostra "1001 Faces do Orientalismo", no museu Sakip Sabanci.
Edward Said via o orientalismo como uma mentalidade perigosa que
abraçava pressupostos falsos e "preconceitos eurocêntricos" em relação
às culturas asiáticas e do Oriente Médio, sendo essa visão perpetuada em
parte por imagens romantizadas difundidas por exploradores, diplomatas e
escritores ocidentais. As traduções europeias dos contos folclóricos
"1001 Noites", por exemplo, contribuíram muito para difundir uma visão
do Oriente como um lugar de intrigas sexuais povoado por gênios e
ladrões.
A exposição no museu Sabanci desloca o foco da atenção para as
influências orientalistas sobre a arquitetura, o turismo e a moda,
influências essas que continuam fortes até hoje. Enquanto os europeus
veem banhos, tendas e mesquitas como sendo "turcos", a exposição explica
que alguma das estruturas neoislâmicas em Istambul foram inspiradas, na
realidade, por edificações europeias que tinham reciclado detalhes
complexos de um palácio mouro séculos mais velho -o Alhambra, na
Espanha- e de construções islâmicas indianas.
Para o orientalismo, a maior referência arquitetônica é "a mesquita
otomana genérica, com domos e minaretes finos e altos", disse Zeynep
Celik, professora de arquitetura no Instituto Nova Jersey de Tecnologia,
em Newark.
Um eco contemporâneo do orientalismo pode ser encontrado na planta do
controvertido plano de reconstruir um quartel militar ao estilo da era
otomana, com domos em formato de cebola, na praça Taksim, em Istambul.
"O quartel em questão talvez seja a versão mais 'Disney' do orientalismo
otomano", disse Celik.
Em escala mais ampla, disse ela, a arquitetura islâmica foi levada ao
mundo ocidental pela primeira vez na Feira Mundial de 1867 em Paris.
À medida que o orientalismo foi percorrendo o mundo, as pessoas passaram
a viajar em busca da "experiência oriental". O nome "Expresso do
Oriente" suscitava fantasias de aventuras emocionantes em um trem.
A exposição também trata da moda orientalista, cujas influências ainda
são visíveis hoje, segundo Celik, no trabalho de estilistas como Gonul
Paksoy e Karl Lagerfeld.
A distância existente entre a percepção ocidental e a realidade oriental
foi exemplificada pelas reações à pintura a óleo de 1860 "Visita,
Interior de Harém", de Henriette Browne. Diferentemente dos artistas
orientalistas homens, Browne conheceu um "haremlik" quando visitou Fatma
Sultan, filha do sultão Abdulmecid, num palácio no Bósforo. Sua tela
mostra um grupo de mulheres bem vestidas e cheias de dignidade. Não há
cenas de banhos ou concubinas nuas. De acordo com as notas da exposição,
quando o quadro foi exposto em Paris, em 1861, o público se
decepcionou.
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