Suas páginas são repletas de haicais (forma de poesia japonesa), artigos
sobre a atividade inocente da pesca com vara e exortações a seus
leitores para que façam boas ações. Soa como um enfadonho boletim de
igreja, mas "Yamaguchi-gumi Shinpo" é a recém-lançada revista oficial da
mais poderosa organização criminosa do Japão.
A publicação não está à venda para o público; consta que vem sendo
distribuída entre os 27.700 membros regulares do grupo Yamaguchi-gumi,
num esforço para elevar o moral deles em meio à promulgação de leis mais
duras contra gangues e à onda de publicidade negativa que cerca a
Yakuza, como é chamada a máfia japonesa.
O Yamaguchi-gumi, com quartel-general na cidade portuária de Kobe, ainda
é o maior e mais temido grupo da Yakuza, apesar de ter perdido 3.300 de
seus membros no ano passado, segundo estimativas da polícia.
A primeira página da revista, que ostenta o já conhecido logotipo em
formato de diamante da Yakuza, traz um artigo do chefão Kenichi Shinoda
instruindo seus membros mais jovens da organização a se pautar pelos
valores tradicionais da instituição, incluindo a lealdade e a
disciplina.
"A revista é a tentativa do Yamaguchi-gumi de mostrar que não é um monte
de bandidos violentos. O grupo enviou a revista apenas a seus membros
regulares, mas sabia que as informações sobre ela acabariam vazando",
diz Jake Adelstein, especialista em Yakuza e autor de um livro de
memórias sobre o período que passou como repórter policial em Tóquio.
Em sua coluna, Shinoda reconhece que, com as novas leis antigangues,
ficou mais difícil para o grupo ganhar dinheiro e se sustentar.
Ser membro da Yakuza não é ilegal, mas as atividades da organização o são.
A máfia está envolvida em extorsão, agiotagem, crime organizado e
chantagem, mas recentemente vem agindo também com crimes do colarinho
branco, montando empresas de fachada num esforço para sobreviver ao
cerco a suas atividades.
A pressão sobre as finanças do grupo foi intensificada no ano passado,
quando o governo dos Estados Unidos disse que começaria a congelar os
ativos do Yamaguchi-gumi no país e proibi-lo de fazer negócios com
americanos. A iniciativa foi tomada depois de o Departamento do Tesouro
ter dito que o grupo estava ganhando bilhões de dólares com tráfico de
drogas e de pessoas, lavagem de dinheiro e outras atividades
internacionais.
Em 2012, o total de membros da Yakuza era de 62.300, 7.100 menos que no
ano anterior, segundo a agência policial nacional. O Yamaguchi-gumi é
responsável por 40% desse total.
A revista pode não conseguir recrutar membros novos, mas pelo menos
proporciona alguma diversão leve àqueles que já vivem a vida do crime.
Ao lado dos diários das pescarias recentes dos membros mais velhos, há
uma seção dedicada a haicais satíricos e artigos sobre os jogos
estratégicos de tabuleiro "go" e "shogi".
A aplicação de penalidades a pessoas físicas e jurídicas que se associam
a grupos criminosos vem tendo impacto negativo sobre o mercado antes
forte das fanzines da Yakuza, e os mangás detalhando as proezas de
yakuzas notórios perderam espaço nas livrarias, diz Adelstein.
"Com o trabalho de relações públicas da Yakuza enfraquecido, parece que
esta revista é uma tentativa de preencher esse espaço", afirma o
jornalista.
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