segunda-feira, 9 de setembro de 2013


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Daisuke Terai interpreta um dos personagens mais conhecidos da história da ficção científica, mas poucos fãs já viram o rosto do ator. Isso é porque o Terai coloca uma roupa prateado e vermelho brilhante de borracha vermelha antes de entrar num set feito de árvores e edifícios em miniatura para lutar como o super-herói cósmico Ultraman.
Em uma tarde recente, o personagem de Terai estava preso num combate mortal para defender a Terra de um dinossauro extraterrestre gigante com olhos brilhantes e escamas pontiagudas chamado Grande Rei. Quando as câmeras fazem uma pausa, Terai, 36 anos, suando, tira a parte superior de sua roupa de Ultraman, enquanto ajudantes removem as escamas de espuma de Grande Rei para revelar um zíper na parte de trás da fantasia de 30 quilos.
Durante décadas, os estúdios japoneses fascinaram, aterrorizaram e divertiram o público global com filmes de monstros e programas de televisão com atores em roupas de borracha devastando maquetes de Tóquio, ou duelando sobre miniaturas do Monte Fuji. O gênero, conhecido no Japão como "tokusatsu", ou "filmagem especial", ajudou a globalizar a indústria cinematográfica japonesa com a criação de criaturas lendárias como Godzilla e Mothra, abrindo caminho para outros gêneros de fantasia como o animé.
Mas agora, numa época em que efeitos digitais realistas tornam o uso de pequenos modelos e atores fantasiados parecer antiquado e kitsch, o tokusatsu está rapidamente se tornando uma coisa do passado. O último filme Godzilla rodado neste estilo, apropriadamente intitulado "Guerras Finais de Godzilla", foi lançado há quase uma década, depois de um período de meio século no qual a criatura apareceu em 28 filmes, às vezes uma vez por ano.
Apenas duas companhias ainda usam efeitos tokusatsu: a Tsuburaya Productions, criadora do Ultraman, e a Toei , que produz "Kamen Rider" e "Super Sentai" (conhecido nos Estados Unidos como Power Rangers). Todos são séries de televisão para crianças, de baixo orçamento, que apresentam super-heróis gigantes. A Tsuburaya também faz cinema, e seu filme mais recente, "Ultraman Ginga", será lançado este mês no Japão.
Agora, quando Hollywood faz filmes inspirados no tokusatsu – como "Pacific Rim", com seus robôs gigantes, ou num filme de Godzilla que será lançado – usa efeitos de computação gráfica vistosos.
"Um dia, olhamos ao redor e percebemos que quase ninguém mais está fazendo usando tokusatsu", disse Shinji Higuchi, um entre vários diretores japoneses que ainda têm experiência no gênero, tendo dirigido três filmes na década de 90 com a tartaruga gigante que respira fogo Gamera. "Não queremos que esta técnica simplesmente desapareça em silêncio sem ao menos um reconhecimento do quanto devemos a ela."
Em resposta, Higuchi está tentando, se não reavivar o tokusatsu, pelo menos contar sua história para as gerações mais jovens. No ano passado, ele ajudou a organizar o Museu de Efeitos Especiais Tokusatsu, uma exposição itinerante que apresenta a história do tokusatsu, voltando às suas origens nos filmes de propaganda da época da 2ª Guerra Mundial com aeromodelos tão realistas que agentes de inteligência americanos achavam que os filmes eram filmagens de combates reais.
O homem que fez aquelas imagens, Eiji Tsuburaya, mais tarde criou o Godzilla original no filme preto-e-branco de 1954 que se tornou um sucesso mundial e deu início ao gênero tokusatsu. A exposição, que está pasasndo por um circuito de museus de arte no Japão, mostra a câmera de Tsuburaya, que também criou o Ultraman, além de adereços, incluindo um enorme pé de Godzilla, usado para esmagar prédios minúsculos, e modelos fantasiosos de naves espaciais, submarinos e armas de raios utilizados em dezenas de filmes de monstros e super-heróis.
"Nós tínhamos que improvisar e fazer tudo parecer real na tela", disse Haruo Nakajima, o ator que interpretou Godzilla no filme original e em dezenas de filmes subsequentes.
Agora com 84 anos, ele lembra como o criador de Godzilla, Tsuburaya, que morreu em 1970, teve que lutar para encontrar borracha suficiente, látex e algodão para fazer a fantasia durante o períorodo de escassez do pós-guerra. "Você não aprende isso num livro ", disse ele, "mas fazendo. Não há nenhuma chance de aprender isso agora."
A Agência de Assuntos Culturais do governo central ajudou a criar a exposição, reunindo adereços e modelos que estavam em posse de assistentes de cena aposentados ou nos armários dos estúdios. Tomonori Saiki, que lidera pesquisa sobre filmes na agência, diz que o Japão só passou a apreciar tardiamente o significado cultural do tokusatsu, que ele chama de um produto de uma era após a derrota na guerra, quando um Japão ainda em recuperação retomou suas tradições de artesanato e trabalhos em miniatura, visto em bonsais de tamanhos de vasos, para competir com os grandes filmes norte-americanos de orçamentos maiores.
"Nossa esperança é que a exposição ajude as gerações mais jovens a encontrar inspiração para levar o tokusatsu a uma nova direção", disse Higuchi, 47.
Aqui no set de "Ultraman Ginga", a versão mais recente para a televisão do herói de meio século, a maioria dos que trabalham são veteranos com seus 50 e 60 anos de idade, que arranjam os galhos de árvores no set para parecerem uma floresta em miniatura, ou colocam explosivos de fogos de artifício na roupa de espuma do Grande Rei para que explodam quando ele é atingido pelo Ultraman.
O diretor, Yuichi Abe, disse que esse uso de atores reais, modelos e até explosivos deu ao tokusatsu um nível de realismo que não é possível com computação gráfica, ou CG.
"A CG só pode fazer o que o programador determina, então não há surpresas", disse Abe, 49, que dirigiu meia dúzia de filmes e séries de TV do Ultraman. "Com o tokusatsu, cada tomada é diferente. Você nunca sabe como ela vai sair, assim como no mundo real."
Ainda assim, Abe diz que ele também depende cada vez mais de efeitos de computador, misturando-os com as cenas em tokusatsu. Um exemplo são as aeronaves voando, que antes eram modelos em miniatura, mas agora são totalmente digitais.
Uma cena, em que o Grande Rei arremessa seu companheiro robótico gigantesco chamado Jan Nine em Ultraman, exigiu colocar um grande colchão atrás dos atores, fora do campo de visão da câmera. Quanto as gravações estavam prestes a começar, o ator Terai vestiu sua máscara prateada e assumiu uma postura dramática de artes marciais. Assistentes de palco acionaram uma pequena chave em sua roupa para acender a luz em seu peito.
"Pronto!", gritou Abe, dando instruções numa mistura de japonês e Inglês. "Comecem!"
Com a deixa, o ator que interpretava Jan Nine saltou na direção de Terai, derrubando a ambos sobre uma esteira de ginástica.
"Corta!"
"Este é um efeito que você não consegue com a CG", disse Terai mais tarde, esfregando o ombro. "Dor verdadeira."
Terai, que interpreta o Ultraman há 16 anos e assistia ao programa do personagem quando era criança, disse que há outro benefício em ser um ator real: a possibilidade de apertar as mãos dos seus jovens fãs.
"As crianças sabem a CG é falsa ", disse ele. " Eles querem um Ultraman humano".
Mas a falta de jovens trabalhando no set, além dos atores, aponta para uma tendência preocupante, disseram Abe e outros. À medida que eles se aposentam, não haverá ninguém que tenha aprendido as habilidades de fazer cenários, modelos em miniatura e fantasias para assumir seus lugares.
Shinichi Oka, presidente da Tsuburaya Productions, a companhia fundada por Tsuburaya, disse que a revolução digital tornou a mudança inevitável, embora o uso de modelos e miniaturas continue com um papel reduzido. O maior motivo foi uma nova geração de espectadores, que passou a esperar os efeitos especiais digitais fascinantes de Hollywood.
"Claro, eu adoraria continuar fazendo tokusatsu, mas a realidade é que a CG agora é mais barata, mais rápida e pode fazer mais coisas", disse Oka , que trabalhou como cinegrafista e diretor de nove filmes de Ultraman. "Se Eiji Tsuburaya ainda estivesse vivo, ele usuaria CG. Nós não temos escolha."

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