Em meio à safra de campeões de bilheteria importados do Ocidente, dois filmes nacionais sobre quatro amigas obcecadas por moda em uma universidade de Xangai chegaram inesperadamente ao topo das paradas chinesas neste verão (no Hemisfério Norte).
O primeiro, "Tiny Times 1", faturou mais de US$ 43 milhões (R$ 96,7
milhões) na primeira semana. A sequência, "Tiny Times 2", que estreou
em agosto, arrecadou US$ 47 milhões (R$ 105,8 milhões) nas primeiras
três semanas.
As vendas de ingressos os qualificam como os maiores sucessos
cinematográficos do país. Os filmes, feitos pelo jovem diretor Guo
Jingming e baseados em uma série de TV de grande sucesso, tornaram-se
um para-raios no debate sobre as mudanças de visão na China sobre a
cultura jovem.
Muitos comentaristas culturais chineses estão furiosos com a franca
celebração do materialismo nessas obras. Essa raiva provocou um
contra-ataque surpreendentemente dos muitos fãs jovens dos filmes.
Os críticos descreveram o primeiro "Tiny Times" como uma mistura de "O
Diabo Veste Prada" com "Sex in the City" (mas sem o sexo).
O chinês Raymond Zhou desqualificou o "Tiny Times" no "Beijing Evening
News" e no programa da Televisão Central da China "Crossover" por seu
materialismo "grosseiro" e de "mau gosto".
Outros saíram em defesa do filme e de seu diretor.
O editor do "Global Times", Hu Xijin, chamou Guo de "super-homem",
enquanto o crítico Teng Jimeng, falando no "Crossover", elogiou "Tiny
Times" como um "filme feminista".
Os livros de Guo são cheios de marcas famosas no Ocidente, como Chanel
e Gucci, e de frases de efeito. ("A classe econômica me mata!" e "Odeio
Pequim!")
Os filmes são "como uma peça publicitária", disse o diretor de cinema e
ópera Chen Shi-Zheng, cujos créditos incluem a versão chinesa de "High
School Musical". "Guo Jingming é uma marca para a juventude chinesa."
Os sucessos do cinema enfocam a crescente influência cultural das
mudanças sociais e econômicas no país. A população urbana aumentou de
19%, em 1979, para 53% hoje. "Tudo é medido pelo dinheiro", disse Chen.
"Trinta anos atrás, tínhamos ideologia, mas hoje as pessoas são criadas
com materialismo. A cultura de consumo é o que vale para elas."
Na opinião de Chen, parte da controvérsia sobre "Tiny Times" vem da
novidade da cultura jovem na China. "As pessoas não sabem como
encará-la", disse ele. "A China está se equiparando ao resto do mundo."
Como o país tem cerca de 450 milhões de pessoas com menos de 25 anos, e
a idade média do público de cinema é de 21,1, essa equiparação
provavelmente será rápida.
Guo, 30, afirma que estudou os "comentários tecnicamente úteis", mas
"quando se trata de 'Tiny Times', sinto que vou manter minhas próprias
ideias. Afinal, eu sou a pessoa que melhor entende 'Tiny Times'."
A discussão não terminou: "Tiny Times 3" deve ser lançado no ano que vem.
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