Folha de São Paulo
Domingo, 8 de setembro de 2013
Empresas ocidentais driblam sanções para fazer negócio no Irã
Companhias europeias criam escritórios no Oriente Médio para manter contratos com Teerã
Até americanas, como Coca e Pepsi, conseguem manter unidades no país, graças a acordos com empresas locais
Até americanas, como Coca e Pepsi, conseguem manter unidades no país, graças a acordos com empresas locais
SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ
O holandês Hans Stuker, diretor de empresa de máquinas industriais, faz
viagens de negócio ao Irã há dez anos. De início ocasionais, as visitas
se tornaram mensais em 2013. Agora, prepara-se para passar ainda mais
tempo no país.
"Conseguimos novos contratos. O Irã é cada vez mais importante para
nós", diz Stuker, da CNP Holding, presente em várias cidades da
república islâmica.
Para se aproximar dos clientes iranianos sem violar sanções comerciais e
financeiras internacionais, a empresa está abrindo um escritório em
Dubai, a uma hora e 30 minutos de voo de Teerã.
"Com pessoa jurídica fora da União Europeia, temos muito mais liberdade para tratar com o Irã", diz Stuker.
A CNP Holding faz parte das empresas ocidentais determinadas a manter
negócios no Irã apesar do acirramento das sanções americanas e europeias
ao programa nuclear nos últimos anos.
Sob pressão dos EUA, multinacionais como Peugeot e Ernst & Young
cortaram laços com o Irã. Praticamente todas as petroleiras europeias
congelaram operações no país conhecido pela falta de demarcação entre
setores público e privado.
A fabricante austríaca de guindastes Palfinger interrompeu vendas ao
país depois que uma ONG americana anti-Irã denunciou que as máquinas
eram usadas em enforcamentos públicos.
Empresas ocidentais que escolheram manter exportações ou investimentos
no Irã precisam recorrer a um contorcionismo jurídico e financeiro para
driblar sanções sem cair na ilegalidade.
A rede francesa de supermercados Carrefour investe --e prospera-- no
país por meio de uma joint venture com a MAF, empresa dos Emirados
Árabes Unidos.
Graças a uma filial regional, a francesa Orange está criando para a
operadora de celular iraniana MCI um serviço destinado a empresas.
A alemã Porsche fechou sua loja em Teerã, mas continua exportando todo
ano centenas de veículos para clientes iranianos via Dubai.
"Vendemos milhões de euros ao Irã e ainda estamos longe do potencial de
negócios", diz o vendedor de uma empresa espanhola de remédios.
A venda de Airbus ao Irã é banida devido à onipresença de componentes
americanos no sistema eletrônico dos aviões. Mas modelos de segunda mão
da alemã Lufthansa, por exemplo, acabam comprados por empresas áreas
iranianas graças a intermediários não europeus.
"O Irã é atraente para quase todas as indústrias [e representa] um
mercado que não poder ser ignorado", diz Cyrus Razzaghi, da consultoria
Ara Enterprise.
O potencial do Irã, um país rico, estável e populoso, transcende até a ausência de contato político.
O país que teve a maior alta nas vendas para o Irã em 2012 foi o Reino
Unido --que, mesmo sem embaixada em Teerã, exportou 184% a mais do que
no ano anterior.
Já os EUA, apesar da histórica inimizade com Teerã, permitem a
exportação de alimentos, remédios e, a partir deste ano, alguns
eletrônicos.
Há ao menos 6,5 milhões de usuários de produtos Apple no Irã, que também importa grãos da americana Cargill.
O investimento americano é, em tese, banido pelo Tesouro de Washington.
Mas Coca-Cola e Pepsi mantêm grandes fábricas no país, graças a acordos
com empresas locais.
"O Tesouro intimida europeus para se afastar do Irã, mas permite que
empresas dos EUA atuem no país", critica Rocky Ansari, da consultoria
Cyrus Omron International.
PAGAMENTOS
Empresas que optam por permanecer no Irã sofrem com a dificuldade de receber pagamentos e transferir receitas para a matriz.
Sanções impostas em 2012 baniram bancos iranianos do sistema financeiro
mundial e bloquearam fundos do Irã no exterior. Punições também geram
inflação e empobrecimento da população.
"Queremos ficar, mas está cada vez mais difícil", diz o funcionário de uma multinacional europeia.
A chegada à Presidência do pragmático Hasan Rowhani gera a expectativa de possível acordo nuclear capaz de aliviar sanções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário