Folha de São Paulo
Segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Japão quer recuperar protagonismo na Ásia
Em visita ao Brasil, chanceler vai discutir reforma do Conselho de Segurança da ONU
JULIANO MACHADO
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO
O ministro das Relações Exteriores do Japão, Fumio Kishida, chega hoje ao Brasil para uma visita de três dias.
Sua tarefa é tentar mostrar a imagem de um país que voltou a ter
relativa estabilidade política com o premiê conservador Shinzo Abe,
passa por recuperação econômica e, por isso, quer retomar um papel de
protagonismo no cenário internacional, posto hoje ocupado na Ásia pela
China.
No encontro com o novo chanceler brasileiro, Luiz Alberto
Figueiredo, Kishida reforçará a posição japonesa a favor da reforma no
Conselho de Segurança da ONU. Os dois países, junto com Alemanha e
Índia, formam o Grupo dos Quatro (G4) e buscam assento permanente no
órgão. Os chanceleres do G4 devem se reunir durante a Assembleia da
ONU, no fim do mês, para tratar do assunto.
Em entrevista à Folha, Kishida afirmou que outro objetivo da
visita é "transmitir com clareza nosso modo de considerar as questões
da promoção da paz e prosperidade mundial, inclusive no que concerne à
região da Ásia e do Oceano Pacífico".
Desde que assumiu, em dezembro de 2012, Abe tem adotado um discurso
externo agressivo, para tentar fazer contrapeso à ascensão da China na
área de influência japonesa. Os rivais travam uma disputa territorial
pelo arquipélago de Senkaku (Diaoyu, para os chineses), que possui
reservas de gás.
Para Kishida, "o desenvolvimento da China é algo que deve ser
celebrado" porque traz relevância à região. No entanto, o chanceler
disse ter percebido, em encontros com autoridades estrangeiras, que "as
expectativas dos outros países com relação ao Japão estão se elevando".
Para corresponder a essa expectativa, o país busca mostrar força.
Abe aumentou os gastos militares pela primeira vez em 11 anos, e uma de
suas ambições é reformar a Constituição para permitir que o Japão possa
ter tropas de ataque ""desde a Segunda Guerra Mundial, o país se
comprometeu a ter apenas forças de autodefesa.
Qualquer emenda constitucional precisa de dois terços dos votos nas
Câmaras Alta e Baixa do Parlamento. O partido Liberal Democrático, de
Abe, possui maioria nas duas Casas, mas não absoluta. Com isso, não há
como reformar a Carta por ora, mas o controle do Legislativo dá
estabilidade a Abe, num país que vem tendo a média de um premiê por ano
desde 2006.
De Brasília, Kishida vai para São Paulo, onde se encontra com empresários e líderes da comunidade japonesa ""a maior do mundo fora do Japão, com 1,5 milhão de pessoas.
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