Esgoto sem tratamento inundou ruas de um bairro do sul da Cidade de Gaza
nos últimos dias, ameaçando provocar um desastre de saúde pública,
depois que a escassez de energia elétrica e do diesel barato que vinha
do Egito ter levado o governo do Hamas a fechar a única usina de geração
de energia elétrica de Gaza, provocando a inundação de uma estação de
bombeamento.
Mais três estações de tratamento de esgoto da Cidade de Gaza e outras 10 situadas em várias localidades da Faixa de Gaza estão quase transbordando, disseram as autoridades sanitárias locais, e 3,5 milhões de metros cúbicos de esgoto não tratado estão têm vazado para o Mar Mediterrâneo diariamente. Em breve, é possível que o departamento de saneamento não seja mais capaz de bombear água potável para as residências dos moradores de Gaza.
"Cada dia que passa sem uma solução para esse problema tem efeitos desastrosos", Farid Ashour, diretor de saneamento da Empresa de Tratamento de Água dos Municípios Costeiros de Gaza, disse em entrevista concedida na última terça-feira. "Nós ainda não enfrentamos uma situação tão perigosa quanto a atual".
A crise do esgoto é a mais grave de uma série de problemas que tem afetado Gaza desde que o movimento islâmico Hamas, que governa o território, desligou a usina de geração de energia em 1º de novembro passado, quatro meses depois de o novo governo do Egito, apoiado pelos militares, ter fechado os túneis por onde passava contrabando e que eram usados para o transporte de aproximadamente um milhão de litros de diesel para Gaza todos os dias. O Hamas se recusou a importar diesel israelense devido aos impostos cobrados pela Autoridade Palestina.
Depois de ter se acostumado a anos de apagões programados, quando geralmente a população ficava oito horas sem eletricidade em dois de cada três dias, o 1,7 milhão de habitantes de Gaza estão atualmente enfrentando quedas de energia diárias de 12 ou até mesmo 18 horas.
As empresas locais reduziram sua produção, os hospitais estão racionando energia elétrica para manter os sistemas de hemodiálise e suporte cardíaco em funcionamento, os estudantes estão fazendo pesquisa na internet no meio da madrugada e as vendas de baterias estão aceleradas. Em toda parte, o zumbido dos geradores se mistura com o odor das lâmpadas de querosene.
Nema Hamad, que tem 64 anos e sofre de apneia do sono, tem se esforçado para não sufocar. Em algumas noites, seus filhos conectam fios improvisados a casas de vizinhos que têm energia elétrica para manter a máscara respiradora a pressão de Hamad funcionando. Em três ocasiões, eles pagaram US$ 100 para que Hamad dormisse em um hospital particular. Certa vez, ela acordou com falta de ar quando a energia elétrica caiu de forma inesperada e correu para a rua, buscando desesperadamente por oxigênio.
"Isso não é vida", diz Hamad sentada em um colchão, iluminada pela fraca luz de velas. "Às vezes, eu temo seja a última vez que vou me deitar para dormir". Gaza necessita da 400 megawatts de energia elétrica por dia para manter as luzes acesas em tempo integral, de acordo com a autoridade do setor de energia, administrada pelo Hamas. Durante décadas, o território comprou 120 megawatts de Israel por meio de cabos diretos. Durante a presidência de Mursi no Egito, que durou um ano e cuja Irmandade Muçulmana gerou o Hamas, Gaza recebia 30 megawatts diretamente do Egito, além de diesel suficiente através dos túneis de contrabando para gerar 85 megawatts por meio de sua usina geradora de energia.
A usina, inaugurada em 2002, era capaz de produzir até 140 megawatts por dia antes de Israel bombardeá-la após o sequestro, em 2006, do soldado israelense Gilad Shalit. Depois disso, a geradora ficou ociosa durante sete meses e nunca mais voltou a funcionar a plena capacidade.
Mas as autoridades do Hamas dizem que a escassez generalizada de energia elétrica piorou, passando de 40% antes Mursi ser deposto para 65% atualmente – e vai aumentar ainda mais à medida que o inverno se aproximar.
Por isso, Omar al-Khouli cortou pela metade a produção de pão de sua padaria aqui de Gaza. Ele liga um gerador quando a eletricidade acaba apenas para poder terminar a fornada de pães que está assando. Ele pretende começar a fechar sua loja durante a manhã, quando não há eletricidade.
"Eu culpo Israel, o governo de Ramallah e o Hamas pela crise", disse al-Khouli, referindo-se à sede da Autoridade Palestina. "Eles deveriam trabalhar juntos e encontrar uma solução para isso, pois são as pessoas que estão pagando o preço".
Algumas pessoas compraram caros inversores fabricados na China que fornecem corrente suficiente para acender uma lâmpada ou duas e para recarregar celulares.
Yasmeen Ayyoub, estudante de psicologia da Universidade Islâmica de Gaza, disse que quando falta energia durante o dia, ela é obrigada a estudar entre a meia-noite e as 6 horas da manhã "às custa das minhas horas de sono".
E no bairro de Sabra, perto da estação de bombeamento Zeitoun, que inundou três vezes desde domingo, o cheiro de esgoto pairava sobre as poças de água parada nas ruas. Os mosquitos eram abundantes e, segundo os moradores, seus filhos estavam vomitando e sofrendo de diarreia.
"Todos os dias, nós ligamos para a empresa de energia elétrica e eles dizem, 'Não é nossa responsabilidade'", reclamou Thabet Khatab, dono de mercearia de 56 anos que estava ocupado empilhando sujeira em frente de sua casa para evitar que o esgoto entrasse no interior de seus estabelecimento um segunda vez. "Nós ligamos para o município, mas eles dizem: 'Traga diesel para que nós possamos colocar o gerador da estação de bombeamento para funcionar".
A vizinha de Khatab, Nahla Quzat, mãe de oito filhos, disse: "Eles dizem que não há diesel para o gerador, mas os carros do governo não parecem estar sofrendo de escassez de diesel".
Mais três estações de tratamento de esgoto da Cidade de Gaza e outras 10 situadas em várias localidades da Faixa de Gaza estão quase transbordando, disseram as autoridades sanitárias locais, e 3,5 milhões de metros cúbicos de esgoto não tratado estão têm vazado para o Mar Mediterrâneo diariamente. Em breve, é possível que o departamento de saneamento não seja mais capaz de bombear água potável para as residências dos moradores de Gaza.
"Cada dia que passa sem uma solução para esse problema tem efeitos desastrosos", Farid Ashour, diretor de saneamento da Empresa de Tratamento de Água dos Municípios Costeiros de Gaza, disse em entrevista concedida na última terça-feira. "Nós ainda não enfrentamos uma situação tão perigosa quanto a atual".
A crise do esgoto é a mais grave de uma série de problemas que tem afetado Gaza desde que o movimento islâmico Hamas, que governa o território, desligou a usina de geração de energia em 1º de novembro passado, quatro meses depois de o novo governo do Egito, apoiado pelos militares, ter fechado os túneis por onde passava contrabando e que eram usados para o transporte de aproximadamente um milhão de litros de diesel para Gaza todos os dias. O Hamas se recusou a importar diesel israelense devido aos impostos cobrados pela Autoridade Palestina.
Depois de ter se acostumado a anos de apagões programados, quando geralmente a população ficava oito horas sem eletricidade em dois de cada três dias, o 1,7 milhão de habitantes de Gaza estão atualmente enfrentando quedas de energia diárias de 12 ou até mesmo 18 horas.
As empresas locais reduziram sua produção, os hospitais estão racionando energia elétrica para manter os sistemas de hemodiálise e suporte cardíaco em funcionamento, os estudantes estão fazendo pesquisa na internet no meio da madrugada e as vendas de baterias estão aceleradas. Em toda parte, o zumbido dos geradores se mistura com o odor das lâmpadas de querosene.
Nema Hamad, que tem 64 anos e sofre de apneia do sono, tem se esforçado para não sufocar. Em algumas noites, seus filhos conectam fios improvisados a casas de vizinhos que têm energia elétrica para manter a máscara respiradora a pressão de Hamad funcionando. Em três ocasiões, eles pagaram US$ 100 para que Hamad dormisse em um hospital particular. Certa vez, ela acordou com falta de ar quando a energia elétrica caiu de forma inesperada e correu para a rua, buscando desesperadamente por oxigênio.
"Isso não é vida", diz Hamad sentada em um colchão, iluminada pela fraca luz de velas. "Às vezes, eu temo seja a última vez que vou me deitar para dormir". Gaza necessita da 400 megawatts de energia elétrica por dia para manter as luzes acesas em tempo integral, de acordo com a autoridade do setor de energia, administrada pelo Hamas. Durante décadas, o território comprou 120 megawatts de Israel por meio de cabos diretos. Durante a presidência de Mursi no Egito, que durou um ano e cuja Irmandade Muçulmana gerou o Hamas, Gaza recebia 30 megawatts diretamente do Egito, além de diesel suficiente através dos túneis de contrabando para gerar 85 megawatts por meio de sua usina geradora de energia.
A usina, inaugurada em 2002, era capaz de produzir até 140 megawatts por dia antes de Israel bombardeá-la após o sequestro, em 2006, do soldado israelense Gilad Shalit. Depois disso, a geradora ficou ociosa durante sete meses e nunca mais voltou a funcionar a plena capacidade.
Mas as autoridades do Hamas dizem que a escassez generalizada de energia elétrica piorou, passando de 40% antes Mursi ser deposto para 65% atualmente – e vai aumentar ainda mais à medida que o inverno se aproximar.
Por isso, Omar al-Khouli cortou pela metade a produção de pão de sua padaria aqui de Gaza. Ele liga um gerador quando a eletricidade acaba apenas para poder terminar a fornada de pães que está assando. Ele pretende começar a fechar sua loja durante a manhã, quando não há eletricidade.
"Eu culpo Israel, o governo de Ramallah e o Hamas pela crise", disse al-Khouli, referindo-se à sede da Autoridade Palestina. "Eles deveriam trabalhar juntos e encontrar uma solução para isso, pois são as pessoas que estão pagando o preço".
Algumas pessoas compraram caros inversores fabricados na China que fornecem corrente suficiente para acender uma lâmpada ou duas e para recarregar celulares.
Yasmeen Ayyoub, estudante de psicologia da Universidade Islâmica de Gaza, disse que quando falta energia durante o dia, ela é obrigada a estudar entre a meia-noite e as 6 horas da manhã "às custa das minhas horas de sono".
E no bairro de Sabra, perto da estação de bombeamento Zeitoun, que inundou três vezes desde domingo, o cheiro de esgoto pairava sobre as poças de água parada nas ruas. Os mosquitos eram abundantes e, segundo os moradores, seus filhos estavam vomitando e sofrendo de diarreia.
"Todos os dias, nós ligamos para a empresa de energia elétrica e eles dizem, 'Não é nossa responsabilidade'", reclamou Thabet Khatab, dono de mercearia de 56 anos que estava ocupado empilhando sujeira em frente de sua casa para evitar que o esgoto entrasse no interior de seus estabelecimento um segunda vez. "Nós ligamos para o município, mas eles dizem: 'Traga diesel para que nós possamos colocar o gerador da estação de bombeamento para funcionar".
A vizinha de Khatab, Nahla Quzat, mãe de oito filhos, disse: "Eles dizem que não há diesel para o gerador, mas os carros do governo não parecem estar sofrendo de escassez de diesel".
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