No bairro de Shahrak-e Gharb, na zona oeste de Teerã, Porsches,
Toyota Land Cruisers e Mercedes-Benz de dois lugares sobem e descem a
rua com a música troando dos alto-falantes, cujo volume é rapidamente
abaixado quando passam carros de polícia.
O Irã, onde a gasolina custa cerca de US$ 0,50 o litro, tem uma próspera
cultura automobilística, com jovens passeando e exibindo seus veículos.
Quanto mais vistoso o carro, mais olhares e flertes receberá o
motorista. Recentemente, o brilhante Paykan cor de berinjela 1972 de
Saeed Mohammadi chamou toda a atenção.
Usando óculos Ray Ban Aviator e um chapéu preto típico dos gângsteres
iranianos da década de 1970, Mohammadi, 21, reluzia sua autoconfiança,
recebendo todos os olhares e sorrisos das motoristas mulheres e gritos
dos rapazes para seu Paykan. "Veja o Paykan", disse uma jovem da janela
de um carro. "Eu costumava ser levada à escola em um deles."
Oito anos depois de ter saído de produção, o antigo carro nacional do
Irã, o Paykan, está voltando à cena. Não que muitas pessoas se
interessem especialmente por dirigi-lo, com seu volante e câmbio
manuais, suspensão dura e cheiro de gasolina. Mas a ascensão de sua
popularidade -ele é tema de um documentário e duas exposições de arte-
parece representar o anseio por um passado mais simples.
"Todo iraniano tem lembranças desse carro", disse Shahin Armin, 37,
engenheiro de design iraniano-americano que já trabalhou na Chrysler e
na Honda em Detroit. "Talvez nem sempre boas, mas nós somos um povo
romântico. Quando as pessoas veem um Paykan hoje, lembram-se de um tempo
em que tínhamos menos opções e levávamos vidas mais simples."
Armin, que é moderador de um site dedicado a esse automóvel
(Paykanhunter.com), voltou a seu Irã natal no ano passado e se viu
apanhado no que chama de "renascimento Paykan". "Acho que hoje, quando
os tempos estão novamente difíceis, o carro nos lembra de nossa
sobrevivência como povo", disse Armin.
Para muitos iranianos, o Paykan foi o primeiro passo de ascensão na
vida, quando o dinheiro do petróleo começou a escorrer para a população
durante o regime do xá Mohamed Reza Pahlevi. Lançado em 1967 e baseado
no britânico Hillman Hunter -que era um produto da indústria
automobilística britânica em dificuldades no pós-guerra-, ele tinha
para-choques extrafortes para suportar o trânsito caótico do Irã.
Para os líderes iranianos, o carro foi de início uma evidência de que o
país estava em ascensão no mundo e, mais tarde, um símbolo
revolucionário de resistência às pressões externas.
Os iranianos médios têm outra visão. "Nós vemos nele nossa própria
adaptabilidade e flexibilidade em relação a tempos e ideologias
diferentes", disse Armin. "O que quer que tenha acontecido naqueles
dias, o carro estava lá e continua sendo visto nas ruas, assim como,
aconteça o que acontecer, as pessoas continuarão aí. De uma maneira
retorcida, o Paykan é uma fonte de inspiração."
Mohammadi disse que as pessoas não se impressionam mais com carros de luxo importados.
"Esta é uma de nossas poucas fontes de orgulho", disse ele sobre seu Paykan. "Só agora as pessoas começam a apreciá-lo."
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