terça-feira, 21 de janeiro de 2014



Kenji e Hiromasa Ozawa, pai e filho em férias na ilha de Oahu, passaram a manhã caminhando por Diamond Head, pico vulcânico que tem amplas vistas da praia de Waikiki.
Sua próxima parada foi o Clube de Tiro Real Havaiano -localizado em um shopping center elegante, logo acima das lojas Cartier e Hermès. "Nós adoramos atirar, eu adoro armas", disse Kenji Ozawa, 52, que veio de Chiba, Japão. "É uma experiência muito excitante."
A lei de armas do Japão é uma das mais restritivas do mundo, especialmente se comparadas às leis americanas.
A Lei de Controle de Armas de Fogo e Espadas do Japão, de 1958, proíbe seus cidadãos de possuir a maioria das armas de fogo. Algumas são permitidas -como espingardas de caça, armas de pressão e armas para competição-, mas os japoneses devem passar por uma série de testes, assim como verificações da ficha policial.
Para alguns turistas japoneses como os Ozawa, uma viagem ao Havaí inclui sol, surfe e armas semiautomáticas.
"Não podemos disparar armas no Japão. Somos proibidos de possuí-las", disse Ozawa pai, antes de resumir o direito da Segunda Emenda a portar armas e acrescentar: "Esta é a América que eu conheço".
Embora os japoneses não viajem necessariamente ao Havaí (um voo de aproximadamente sete horas) com o objetivo de atirar nos clubes de Waikiki, os que se interessam por Berettas, por exemplo, muitas vezes veem o tiro um pouco como o surfe -uma atração divertida para quem visita os EUA.
"Na maioria dos países, a mídia torna as armas desejáveis. Isso também acontece no Japão", disse Philip Alpers, professor na escola de saúde pública da Universidade de Sydney, na Austrália, e especialista em evitar ferimentos com armas de fogo.
O Havaí, segundo ele, "é o lugar que responde aos anseios da cultura de armas do Japão".
Taka Maruyama, 52, de Tóquio, que saía do clube de tiro Swat um dia desses com dois de seus filhos, explicou: "Viemos aqui só para nadar, jogar golfe e atirar".
Indicando seu filho Tomo, 17, que segurava orgulhosamente um alvo de papel cheio de buracos de balas perto do centro, Maruyama riu e disse: "Toda vez que ele visita um lugar ele atira. É um atirador profissional".
Há pelo menos quatro clubes de tiro particulares no raio de um quilômetro nessa faixa de Honolulu lotada de hotéis e lojas turísticas, e um campo de tiro público fica na ponta sudeste da ilha.
Os clubes anunciam com cartazes em inglês e japonês em shopping centers elegantes e contratam homens para distribuir folhetos (também em inglês e japonês) ao longo das calçadas movimentadas de Waikiki.
Jeff Tarumi, gerente do Clube de Tiro Real Havaiano, estima que 90% de seus clientes são estrangeiros, sendo a maioria do Japão. Ele disse que todos os empregados do clube devem falar pelo menos um pouco de japonês.
"Acredite ou não, o conhecimento de armas não é tão importante, porque você pode treinar seus funcionários durante o expediente. Porém, para trabalhar aqui, é preciso falar japonês", disse. "O mercado americano é um pouco mais difícil, porque as pessoas vêm aqui e dizem: 'Bem, eu posso atirar de graça no meu quintal'."
Os clubes, onde os visitantes podem atirar com tudo, desde um AK-47 a Glocks 9 mm, são especialmente atraentes para os turistas japoneses.
David B. Kopel, autor de "The Samurai, the Mountie, and the Cowboy: Should America Adopt the Gun Controls of Other Democracies?" [O samurai, a cavalaria da polícia e o caubói: os EUA devem adotar os controles de armas de outras democracias?], disse: "Os únicos cidadãos japoneses que possuem armas legalmente são esportistas altamente motivados".
Em 2012, quase 1,5 milhão de japoneses visitaram o Havaí, o que os torna o terceiro grupo de visitantes em gastos e dias de visita, segundo o relatório anual da Autoridade de Turismo do Havaí.
"Quantas pessoas viriam para o Havaí e acabariam indo aos clubes de tiro? Dezenas de milhares", disse Harvey F. Gerwig, presidente da Associação Havaiana do Rifle. "É uma enorme atração."
O Havaí dificilmente é o Velho Oeste das armas de fogo. O Estado tem regulamentos de armas mais estritos do que muitos outros no continente e recebeu a classificação B+ por suas leis de armas pelo Centro Legal de Prevenção à Violência das Armas.
Os clubes de tiro fornecem proteção para olhos e ouvidos e possuem instrutores treinados em segurança de armas. Eles não permitem que pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas entrem nos campos de tiro.
Mas, se comparado ao Japão, visitar os clubes de tiro daqui ainda é relativamente fácil, e os japoneses não são os únicos que incluem em seus itinerários de férias uma hora ou duas no campo de tiro. Turistas de outros países com regulamentos de armas mais rígidos -como Austrália, Canadá e Nova Zelândia- também podem ser encontrados nos clubes de tiro de Waikiki.
Os pacotes básicos custam a partir de US$ 25. Uma opção mediana no Clube de Tiro Havaí -um total de cinco armas com 52 tiros- custa cerca de US$ 70.
Recentemente, Marcia Murphy, 58, e Bethany Parr, 38, mãe e filha da Austrália em férias no Havaí, foram à manicure e pedicure antes de rumar para o Clube de Tiro Real Havaiano.
"Nunca toquei em uma arma na vida", disse Murphy, ainda contente depois de saber que é uma boa atiradora, para uma novata. Parr estava igualmente entusiasmada. "Foi um barato total."
As duas atiraram com seis armas e se saíram muito bem, mas Murphy atingiu um pouco mais os alvos que Parr.
Voltando-se para a filha, Murphy não pôde conter seu orgulho. "Vou contar para todos, querida", disse com um sorriso.
Ozawa também fez elogios. "Estamos desfrutando os EUA."

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