A concorrência para levar aos internautas chineses os últimos filmes
e séries está se intensificando, apesar das dificuldades como a pouca
disposição do público em pagar para ver filmes no computador e o caráter
imprevisível da censura.
A líder chinesa das redes sociais,
Tencent, já oferece aos seus seguidores a possibilidade de assistir
online e em total legalidade os grandes sucessos locais e
internacionais. Segundo o "Financial Times" da última segunda-feira
(28), o peso-pesado da internet agora estaria trabalhando junto com os
estúdios de Hollywood para oferecer na Web alguns de seus filmes menos
de duas semanas após seu lançamento nas salas de cinema dos Estados
Unidos.
A Warner Bros. possui uma participação minoritária nesse
serviço de "streaming" (transmissão de dados sem download) por uma
assinatura de custo relativamente baixo: 15 yuans por mês nos três
primeiros meses, depois 20 yuans (R$ 7). O blockbuster "300: A Ascensão
de um Império", cuja estreia mundial nas salas de cinema foi no início
de março, já está disponível nessa plataforma, a Hollywood VIP.
Há muito tempo os internautas chineses geram um dilema para as
grandes produtoras: por que entrar na China se a população não está
disposta a pagar, mas por que não entrar, já que, independentemente do
que aconteça, seus internautas não hesitarão em piratear esses
conteúdos?
Assim, o Google havia lançado em 2009 uma plataforma
de download legal e gratuito de música, em acordo com a Warner, EMI,
Universal e Sony, baseando-se em uma aposta: contentar-se com receita
publicitária, ainda melhor que nada, para enfrentar o download ilegal.
Esse serviço foi suspenso em setembro de 2012, após a constatação de
resultados decepcionantes.
O crescimento do número de
internautas chineses, 618 milhões no final do ano de 2013, o advento da
internet móvel e da banda larga nos lares tornaram essas questões ainda
mais atuais. A Tencent já havia anunciado em setembro de 2013 um acordo
com a Disney para disponibilizar filmes de seus estúdios, bem como com a
Pixel e a Marvel em seu serviço Hollywood VIP.
Neste momento em que a internet chinesa vem se fechando em torno de
três grandes protagonistas – Tencent, que se originou de um serviço de
mensagens instantâneas; Alibaba, número um do comércio eletrônico; e
Baidu, motor de busca – , todos querem ampliar seu mercado para os
vídeos online.
O Alibaba anunciou, no dia 11 de março, a
aquisição majoritária da ChinaVision, uma empresa com sede em Hong Kong
que produz séries de sucesso e detém os direitos na internet móvel
chinesa da Premier League de futebol inglês para as três próximas
temporadas. É um trunfo enorme, uma vez que os fãs de futebol chinês,
decepcionados com o nível das equipes locais, acompanham com entusiasmo o
campeonato britânico.
Na segunda-feira (28), o grupo do
ambicioso Jack Ma ultrapassou mais uma etapa ao adquirir 16,5% do site
de vídeos em streaming mais popular da China, o Youku Tudou, ele mesmo
resultado da fusão em 2012 de plataformas de vídeos online.
No entanto, permanece a incógnita sobre a atitude que será adotada pelo
governo chinês em relação a essas plataformas de streaming que são uma
febre, já que Pequim controla o número de filmes estrangeiros que são
exibidos nos cinemas do país impondo cotas rígidas.
Hoje o
limite está em 34 produções estrangeiras por ano, ainda que os
espectadores chineses consigam encontrar todos os filmes estrangeiros na
internet, ilegalmente, ou na esquina, nas muitas lojas de DVDs piratas.
Só que o governo ainda não especificou se pretende submeter as novas
plataformas de difusão legal na Web a seu regime de cotas.
Por fim, a outra incerteza diz respeito à censura e sua arbitrariedade.
Depois de já ter retirado determinadas licenças na semana passada do
portal Sina, acusado de ter publicado conteúdo pornográfico, as
autoridades novamente surpreenderam os internautas, durante o fim de
semana de 26 e 27 de abril, ao ordenar a suspensão do streaming de
quatro séries americanas: "The Big Bang Theory", "The Practice", "The
Good Wife" e "NCIS". Tudo isso sem justificativa nenhuma, sendo que a
televisão estatal CCTV prosseguia, no domingo (27), com a transmissão da
série do canal americano HBO "Game of Thrones", um dos programas mais
populares do momento no Ocidente, que contém muitas cenas de sexo e de
violência.
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