Folha de São Paulo
Domingo 18 de maio de 2014
Artista retrata jovens árabes em Israel
Fotógrafo judeu registra adolescentes na idade em que a distância entre os povos do Oriente Médio se acentua
Em ensaio, Natan Dvir quer mostrar as tensões e o abismo existentes entre esses dois grupos que ocupam o país
Em ensaio, Natan Dvir quer mostrar as tensões e o abismo existentes entre esses dois grupos que ocupam o país
DIOGO BERCITODE JERUSALÉM
Um jovem árabe olha, de dentro de seus 18 anos, para a lente do
fotógrafo. Registrado em um clique, ele agora observa o espectador da
coleção de fotos "Eighteen" (dezoito), expostas pelo artista israelense
Natan Dvir, 41.
As imagens parecem capturar, entre diversos elementos, a desconfiança e o
atrito entre fotógrafo e fotografado. Dvir é judeu, e seus personagens,
árabes, o que os coloca em meio a um antigo conflito pela posse do
território hoje sob o controle de Israel.
"É óbvio que há tensão", se irrita Dvir, em entrevista à Folha.
Ele acha que é desnecessário explicar por que há atrito "na natureza da
nossa relação". "Eu sou judeu e eles são árabes", resmunga.
O Estado de Israel foi criado em 1948 e, desde então, está em conflito
com as populações árabes no Oriente Médio. O país travou guerras
violentas com os vizinhos Egito, Jordânia, Síria e Líbano e ocupa a
Cisjordânia até hoje com seu aparato militar.
O governo israelense enfrenta, na população árabe que permaneceu dentro
de suas fronteiras como cidadã, um desafio social e demográfico,
enquanto luta para definir em termos legais que Israel é um "Estado
judeu".
Parte da proposta de Dvir, quando entrou na vida de jovens árabes para
retratá-los, era trabalhar com essa tensão. Ele também quis conhecê-los
mais a fundo, já que a infância no país não lhes garantiu proximidade,
em meio ao conflito e à separação no país. "Meu projeto é sobre o
respeito pela cultura deles."
Apesar das histórias de convivência entre árabes e judeus, em Israel,
ambas as populações vivem em contextos distintos e, na prática, pouco
interagem. "Eu tive contato com árabes, quando era jovem, mas não
conhecia seus valores", afirma Dvir.
O projeto "Eighteen" é, assim, a maneira que o fotógrafo encontrou de
construir um mundo em comum entre a sua cultura e aquela de seus colegas
de cidadania, os árabes. Dvir diz acreditar que, se ele foi capaz de
fazê-lo, outros israelenses também poderão.
O fotógrafo conta que "alguns dos árabes fotografados estavam muito
amigáveis depois do processo". Foram 64 personagens registrados entre
2009 e 2010. Cada um levou, em média, metade de um dia para as fotos.
Todos eles foram fotografados aos 18 anos, a partir da ideia de que essa
é a idade em que a separação entre judeus e árabes é mais acentuada, em
Israel. Judeus são alistados, mas a maioria dos árabes não participa do
serviço militar obrigatório ali.
Assim, as imagens de Dvir registram a falha tectônica entre esses dois
grupos. Apesar de ambos serem cidadãos em Israel, eles vivem culturas
diferentes. E a distância, afirma o fotógrafo, cresce.
"Esta geração de árabes tem mais orgulho de suas raízes palestinas", diz
Dvir. "E os jovens judeus estão se tornando mais radicais, com parte
deles acreditando que os árabes-israelenses deveriam ser privados de
seus direitos como cidadãos."
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