domingo, 11 de maio de 2014

Folha de São Paulo
Populares no Japão, bares com petiscos diferentes e muito saquê agitam SP
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Pode ficar no alto de um arranha-céu, só luxo e vidro, com vista para o concreto infinito de Tóquio. Pode ficar em um beco escuro embaixo de uma linha de trem, as garrafas balançando à passagem de cada vagão.
Pode parecer um restaurante, com mesas, menu moderno, garçons. Também pode não ter cadeiras, só quatro ou cinco clientes espremidos em pé, espaço para mais nada e uma velhinha atendendo aos fregueses de sempre.
Pode ter de tudo. Ou pode ser especializado em um tipo de comida. Pode ter uma extensa carta de saquês. Pode nem ter saquês, só destilados.
Nipo Botequins

No mundo da gastronomia, poucas palavras são tão democráticas e abrangentes quando izakaya (pronuncia-se izakayá). Em tradução aproximada, "lugar para beber saquê". Por extensão, simplesmente "lugar para beber". É o botequim japonês.
No Japão, os izakayas são onipresentes. Nas áreas residenciais, nos bairros loucos de néons e telões gigantes em super HD, nos prédios altíssimos, nos sobrados feios das regiões mais tranquilas.
Em torno das estações de metrô —e também dentro delas: a estação Shinbashi, no bairro de Ginza, tem um corredor infinito com um izakaya ao lado do outro, onde se bebe até cair sem que seja necessário sair à rua.
Em comum entre os vários estilos de izakayas no Japão, a boa oferta de bebidas, os pratos servidos em pequenas porções (como as tapas espanholas) e a ausência de sushi.
O bolinho de arroz com peixe cru pede uma estrutura própria, que os izakayas ortodoxos não têm condições de oferecer.
Nos últimos anos, o "conceito" de izakaya se espalhou pelo mundo. De Miami a Bancoc, de Los Angeles a Yangon (principal cidade de Mianmar): onde existe comunidade japonesa, lá estão os izakayas. Nos bairros nipônicos, nas Liberdades do planeta, eles são no esquema "old school". Nas áreas turísticas e/ou modernas, seguem linha mais contemporânea.
Alguns deles —heresia das heresias!— até servem sushi, o que no Japão seria inaceitável.
São Paulo, a maior cidade japonesa fora do Japão, tem uma razoável oferta de izakayas. Na tradicional Liberdade, na moderninha Vila Madalena, em Pinheiros (cada vez mais gastronômico) e no Jardim da Saúde, fora de rota gastronômica, mas de forte e histórica presença nipônica.
Não são lugares baratos, mas estão longe dos preços assustadores praticados pela gastronomia paulistana do século 21.
Começa aqui nossa jornada nipoetílica por São Paulo. Kanpai!
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YAKITORI-YA
Missão impossível: encontrar um ocidental jantando aqui. Especializado em espetinhos de frango, o Yakitori-Ya, do chef Takaaki Yasumoto, atende principalmente a executivos e "salarymen" japoneses de passagem pelo Brasil, com suas indefectíveis calças pretas e camisas sociais brancas.
Espetos sempre saborosos de várias partes do frango —e também de quiabo e de shishito (uma pimenta japonesa)— são o destaque. Vale também tentar os oden (cozidos) de nabo e inhame. Tem um discreto balcão de sushis, que só pede quem não entende do riscado. Também serve cerveja, saquês, sochu e "nama-biru" (chope), bem comum no Japão.
Av. dos Carinás, 93, Indianópolis, região sul, tel. 5044-7809. 60 lugares. Seg. a sáb.: 12h às 14h30 e 18h às 23h. Dom.: 12h às 14h30 e 18h às 22h (fechado todo primeiro dom. do mês). Menu-executivo: R$ 29 a R$ 35 (almoço de seg. a dom.). Valet (R$ 20).
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IZAKAYA ISSA
Melhor anfitriã da gastronomia paulistana, Margarida Haraguchi, a dona Margarida, deu vida a esse local que era um izakaya havia muitas décadas, mas que só a comunidade japonesa conhecia.
Prove os picles japoneses, peixes cozidos e grelhados, massas e também muitas coisas que não estão no cardápio, mas que a ultraconectada Margarida obtém diretamente do Japão e você só vai saber que há se perguntar a ela.
Quando um japonês se muda para São Paulo, logo vai ao Issa. É um jeito de começar a se enturmar na cidade, ao mesmo tempo em que se sente em casa. A Unesco deveria tombar esse lugar.
R. Br. de Iguape, 89, Liberdade, região central, tel. 3208-8819. 35 lugares. Seg. a sáb.: 18h30 às 23h30. Dom.: 18h às 23h. Preço: R$ 10 (cerveja Original - 600 ml). a r n w
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MINI BUENO
Ao lado de um escritório de advocacia. Nenhuma placa. Na porta de vidro escuro, um adesivo orienta: "empurre". Faça isso, e você estará no Japão.
Da mesma turma do Bueno —que já foi um botequim na Liberdade e hoje é um respeitável restaurante na alameda Santos—, o Mini Bueno oferece as madrugadas mais japonesas de São Paulo.
Compõem o cardápio língua bovina grelhada, arroz com ovo, vegetais e pimenta coreana e muitas outras iguarias. A partir da meia-noite, japoneses certinhos perdem a linha, e transformam o pequeno izakaya em um ensurdecedor karaokê. Curiosidade: Kuroda-san, lutador de sumô e dono do pedaço, não curte saquê em izakaya. Serve só cerveja e destilados.
R. Batataes, 380A, Jardim Paulista, r. oeste, tel. 97235-3062. 36 lugares. Seg. a qui.: 19h às 2h. Sex. e sáb.: 19h às 3h. Preço: R$ 13 (cerveja em garrafa Original 600 ml)
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KINTARO
Com a palavra, o amigo e jornalista Paulo César Martin, assíduo do lugar.
"Num corredorzinho, fica este 'izakaya família'. Dona Líria e seus filhos Wagner [Yoshi] e William [Taka], lutadores de sumô, servem cerveja bem gelada, saquês e sochus acompanhados de 'otoshis' (as pequenas porções japonesas).
Destaque para a inesquecível berinjela no missô. E também moela, trouxinha de alga e uma pequena concessão brasileira: coxinha frita na hora. Dona Líria fica sozinha na parte da manhã, quando o Kintarô tem ares mais orientais.
Os filhos chegam no começo da tarde e a coisa fica quente: a mãe vai para a cozinha fazer costelinhas de porco e o famoso chanko nabe, um calórioco ensopado japonês, favorito dos praticantes de sumô."
R. Tomás Gonzaga, 57, Liberdade, região central, tel. 3277-9124. 20 lugares. Seg. a qui.: 7h30 às 23h. Sex.: 7h30 às 24h. Sáb.: 7h30 às 21h. Preço: R$ 9 (Original - 600 ml).
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QUITO QUITO
Visual improvável, localização improvável, donos improváveis, cardápio improvável. Parece uma temakeria da Barra da Tijuca. Fica na Vila Madalena (sem tradição oriental). Mas seus donos são um jovem casal de irmãos japoneses recém-imigrados. E a comida, ótima, é japonesa moderna, sem concessão ao paladar ocidental.
É um mistério por que o Quito Quito não é frequentado por mais "foodies" paulistanos adeptos de comida asiática. Talvez por ser fácil demais de achar. Nas mesas, jovens imigrantes são maioria —praticamente só se fala japonês.
Cavalinha grelhada no missô, sardinha enrolada com ameixa japonesa, conserva de polvo apimentada. A chef Kaori brilha muito na cozinha.
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SANPÔ
No formato do mapa do Chile (estreito e comprido), esse é um típico izakaya de bairro japonês.
Cozinha simples, sem altas pretensões. O cardápio tem semelhanças com o do Izakaya Issa, onde trabalharam alguns dos donos.
A comida não é o foco, porque o Sanpô traduziu literalmente a palavra izakaya: é um lugar para beber saquê.
A oferta é extensa e, melhor ainda, uma das sócias estudou o tema no Japão. Sabe explicar as diferenças entre um "junmai ginjo" e um "junmai dai-ginjo" de um jeito agradável, sem afetação, e sem fritar a orelha do cliente com pomposidades sobre os graus de polimento do arroz e outras filigranas.
R. Fradique Coutinho, 166, Pinheiros, região oeste, s/tel. 30 lugares. Seg. a sáb.: 19h às 23h30. Preço: R$ 7,50 (cerveja Heineken - 300 ml). Reserva p/ sac.sanpo@gmail.com
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JUJU
Não é propriamente um izakaya, por ser coreano, mas tem o mesmo espírito.
Por muito tempo, um enigmático coreano montava seu restaurante na raça, na garagem de uma farmácia.
Kassab limou. Mas agora o oriental e seu assistente Zé estão de volta ao bairro, em um quintal, entre uma boate e um karaokê.
Aqui, não são aceitos desvios pequeno-burgueses como: dizer boa noite, ter cardápio no idioma local, revelar os pratos do dia e limpar a sujeira dos clientes que já saíram.
Da grelha do irascível Zé, saem anchovas úmidas, lulas suculentas e uma costelinha de porco apimentada das melhores da cidade.
Av. Turmalina, 90, Aclimação, região central, s/tel. 20 lugares. Seg. a sáb.: 18h às 3h. Preço: R$ 10 (cerveja Original 600 ml).
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IMAI
Totalmente fora do circuito gastronômico, no Jardim da Saúde, o Imai é frequentando praticamente só pela galera do bairro. Pena, porque a cozinha delicada deRonaldo Imai merece ser mais bem conhecida.
Não tem cardápio, só uma lousa na parede com os pratos do dia. Os nomes das comidas estão em japonês, mas escritos em caracteres ocidentais, o que facilita para quem tem alguma noção. Se você souber que "ika" é lula, "tako" é polvo e "natto" é soja fermentada, já é meio caminho andado.
Se Ronaldo não está (já aconteceu comigo), o atendimento e a comida sofrem.
R. Hipócrates, 139, Jardim da Saúde, tel. 5077-1629. 30 lugares. Ter. a sex.: 11h30 às 14h30 e 18h30 às 21h30. Sáb.: 11h30 às 15h e 18h30 às 21h30. Dom.: 11h30 às 15h. Preço: R$ 9 (Original - 600 ml).

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