terça-feira, 9 de setembro de 2014


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Spa, piscina olímpica, sala de ginástica e suítes conjugadas... O Centro Mohammed-Bin-Nayef, situado no subúrbio de Riad, lembra os palácios situados às margens do Golfo Pérsico. Mas esse complexo aberto em 2013 e batizado com o nome do atual ministro saudita do Interior não abriga nem empresários nem estrelas do show business. Ele é destinado à reabilitação de jihadistas locais, ex-membros da Al Qaeda que foram presos ao saírem de Guantánamo ou em operações antiterroristas dentro do reino.
Esses ex-seguidores de Osama Bin Laden, depois que cumprem sua pena de prisão, precisam passar alguns meses nesse lugar estranho, que é uma mistura de sanatório com centro de recuperação. Entre reuniões de família, aulas de religião, acompanhamento psicológico, oficinas de pintura e práticas de esporte, é feito de tudo para recolocar os residentes no caminho certo.
"Em dois anos, 3.000 ex-terroristas islamitas saíram de nossas prisões e só tivemos 10% de reincidentes", afirma o general Mansour al-Turki, porta-voz da polícia saudita. "Estamos conseguindo desconstruir os fatores sociais, psicológicos e religiosos que levam ao extremismo."
A ideia surgiu em meados dos anos 2000. Era a época em que a monarquia passava por uma onda de atentados e sequestros contra suas forças de segurança ou alvos ocidentais.
Bin Laden, ele mesmo de origem saudita, fazia um apelo para derrubar esse regime "ímpio", aliado dos Estados Unidos. Mohammed Bin Nayef, que era então chefe da inteligência interna, conduziu a contra-insurreição com punho de ferro. Milhares de militantes islamitas ou supostamente islamitas foram pegos, às vezes torturados, e os combatentes que não foram mortos se exilaram no Iêmen ou no Afeganistão.
Ciente de que a truculência não resolveria, o chefe do antiterrorismo deu seu aval à criação de um tratamento mais brando. Era o programa de reabilitação, que acabou se tornando um dos orgulhos do reino.
O convidado que hoje entra no centro Bin-Nayef, ainda que um simples jornalista, é acompanhado do começo ao fim por uma equipe de televisão interna. "Nós recebemos quase 300 personalidades estrangeiras desde 2007", se empolga Mansour al-Qarni, diretor do "Al-Mounassaha" ("o Conselho"), nome oficial do programa. "Até o ministro americano da Justiça veio."
O percurso começa com uma xícara de café amargo em um imenso diwan, salão típico das sociedades árabes do golfo. Depois o visitante é levado para um auditório, onde uma apresentação em Power Point o ajuda a se familiarizar com os métodos da casa.
Em um país tão conservador quanto a Arábia, estes evidentemente são impregnados em grande parte pela religião. Sheiks devidamente selecionados são recrutados para endireitar os fiéis desgarrados.
Durante conversas organizadas no centro, muitos deles se espantam, por exemplo, com o fato de que o jihad afegão contra o Exército soviético, nos anos 1980, tenha sido considerado lícito (halal), enquanto o mesmo engajamento contra os Estados Unidos no Iraque nos anos 2000 foi decretado ilícito (haram), assim como aquele contra o regime sírio de Bashar Assad hoje.
"É bom que os muçulmanos se ajudem, mas existem condições para ser autorizado a fazer o jihad", proclama Sahl al-Otaibi, um dos religiosos do centro. "O líder do país precisa dar seu consentimento e os pais, sua permissão."
Outro tema recorrente de frustração dos residentes é o sentimento de que o Ocidente está conduzindo uma guerra contra o islamismo. "Eu lhes digo que cabe ao rei resolver esses problemas. Depois que um deputado holandês insultou nossa religião, ele ordenou que fossem restringidas as relações econômicas com esse país."
A desradicalização à moda saudita é antes de tudo um recondicionamento, um lembrete das regras nas quais se baseiam o regime de Riad: aos Saud cabe a política, e ao clero wahhabita, a religião.
O programa também se esforça para recriar um verdadeiro casulo em torno dos ex-proscritos. Já na prisão e em um ritmo mais contínuo no centro de reabilitação, eles recebem várias visitas: pai, tio, chefe de tribo, policial, professor de história. São todas figuras de autoridade que cercam os futuros arrependidos, assim como os funcionários do centro, repletos de paternalismo.
"Os recrutas da Al Qaeda se isolam de sua comunidade", analisa o psicólogo Ali al-Afnan. "Nosso objetivo é facilitar a reintegração deles."
Depois do "Mounassaha", Khaled al-Jihani, que combateu em Tora Bora com os talebans antes de passar quatro anos em Guantánamo, foi recebido por Mohammed Bin Nayef. "Sempre me lembrarei de suas palavras: 'Você é nosso filho'. Aquilo me surpreendeu muito. No Afeganistão, haviam me dito que os dirigentes sauditas não eram muçulmanos."
Logo depois ele recebeu das mãos de Bin Nayef um carro novinho em folha e um cheque de US$ 800 (cerca de R$ 1.800), que lhe seria pago todo mês até que ele encontrasse um emprego. O Ministério do Interior também pagou integralmente as despesas de seu casamento. "É um programa patriarcal, adaptado a uma sociedade patriarcal", diz um diplomata estrangeiro.
E não seria o índice de fracasso superior aos 10% apresentados pelas autoridades? No mês de maio, uma suposta célula jihadista foi desmantelada, envolvendo cerca de 60 membros, sendo metade deles reincidente. Em fevereiro, 29 sauditas, suspeitos de pertencerem à Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), haviam sido extraditados para Riad pelas autoridades iemenitas, sendo que alguns deles também tinham passagem pelo centro Mohammed Bin Nayef.
A mistura de "mimo" com doutrinação praticada por essa organização atua sobre perfis como o de Khaled al-Jihani, que foi para o Afeganistão mais pelo gosto de aventura do que por um zelo religioso. Mas, junto aos mais fanáticos, essa abordagem parece menos eficaz. Said al-Chihri, um dos fundadores da AQPA em 2009, morto por um ataque de drone americano quatro anos mais tarde, também havia sido "reabilitado."
Para tratar o câncer jihadista, algumas vozes isoladas têm pedido por uma reforma do sistema de ensino saudita, que é notoriamente arcaico. "É a raiz de nossos problemas", admite Fouad al-Farhan, um blogueiro liberal.
O Ministério da Educação, que por muito tempo esteve dominado por fundamentalistas wahhabitas, recentemente foi confiado a um moderado, Khaled al-Fayçal. Mas levará tempo para mudar a mentalidade das pessoas.
"Meu filho, que tem 10 anos, um dia chegou em casa declarando que música era 'haram'", conta Mansour al-Turki, o porta-voz da polícia, frustrado. "´Foi um de seus professores que lhe colocou essa ideia na cabeça."

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