Os maiores jogadores de videogame da Coreia do Sul são nomes
conhecidos. Milhões de pessoas ligam a televisão para assistir às
competições de jogos eletrônicos. O maior portal sul-coreano da
internet, o Naver, tem uma seção dedicada exclusivamente aos resultados
das competições.
Os torneios de videogame estão crescendo em várias partes do mundo,
atraindo milhares de pessoas para grandes eventos. Mas na Coreia do Sul,
mais do que em qualquer outro lugar, eles já se consolidaram como um
fato cultural. É tão comum casais irem a clubes de games como ao cinema.
Mais uma vez, o país antecipa transformações relacionadas à tecnologia
antes de elas se espalharem pelo mundo, como aconteceu com a ampla
disponibilidade da banda larga e a adoção do smartphone. O país também
lidera as competições de videogames, chamadas em geral de "e-sports",
criando ligas organizadas, treinando equipes profissionais bem
financiadas e lotando estádios gigantes com torcedores ardorosos.
Esse tipo de entusiasmo pôde ser visto em Seul num domingo de outubro,
quando mais de 40 mil torcedores lotaram o estádio de futebol usado na
semifinal da Copa do Mundo de 2002 para acompanhar a competição mundial
da League of Legends, um dos mais populares games no mundo. Num palco,
duas equipes de cinco jogadores se sentaram diante de computadores,
munidos de mouse e teclado para controlar personagens fantásticos em uma
ofensiva contra a base da equipe adversária. Três telões mostravam a
ação.
A clara favorita da multidão era a Samsung White, equipe formada
exclusivamente por coreanos, que acabou conquistando o título e um
prêmio de US$ 1 milhão em dinheiro. A torcida começou a se exaltar logo
no começo, quando um jogador da Samsung White empunhou uma lança para
matar um jogador do Star Horn Royal Club, equipe formada por três
jogadores chineses e dois coreanos.
Embora jogadores e pessoas familiarizadas com o setor tenham diferentes
teorias sobre como os jogos eletrônicos se tornaram populares na Coreia
do Sul, quase todas as versões apontam para o final dos anos 1990.
Naquela época, em resposta à crise financeira asiática, o governo
sul-coreano se concentrou em infraestrutura de internet e
telecomunicações. Por volta de 2000, surgiu uma vibrante comunidade de
fãs de games, em grande parte graças às lan houses, conhecidos aqui como
"PC bangs", que usavam as novas conexões.
O governo também se envolveu, criando a Associação Coreana de E-Sports
para organizar essa atividade. Canais de TV de baixo custo despontaram
nessa época, e foi simplesmente natural que um deles, e depois outros,
se voltasse para os esportes eletrônicos.
Os "PC bangs" continuam sendo, no entanto, um importante espaço para os
jogadores. Numa recente noite, numa área residencial da zona sudeste de
Seul, um clube estava lotado de alunos do ensino médio. Eles se sentavam
em cadeiras diante de PCs, berrando estratégias ou gritando de alegria
ou frustração. Depois de abater um amigo com um fuzil de assalto no jogo
Sudden Attack, Kang Mi-kyung, 15, disse que ia à lan house umas cinco
vezes por semana. "Adoro este jogo, embora eu o ache violento demais",
disse ela.
Há mais ou menos uma década, as empresas começaram a ver que era
promissor patrocinar estrelas de jogos eletrônicos. Em pouco tempo
empresas como Samsung, de tecnologia, e CJ Games, um dos mais
bem-sucedidos desenvolvedores coreanos de games, já patrocinavam equipes
que moravam em repúblicas e treinavam 12 horas por dia.
A monomania dos jogadores causa preocupações sobre a dependência
psicológica e possíveis danos decorrentes de passar tanto tempo jogando
games. De vez em quando, a imprensa noticia a morte de um jogador por
exaustão em um "PC bang", após passar dias jogando. Uma lei determina
que clubes obriguem menores de 18 anos a deixar o local após as 22
horas.
Dias antes do torneio de League of Legends, no hotel onde a Samsung
White treinava, o capitão do time, Cho Se-hyoung, dizia sentir uma
enorme pressão da torcida nacional. Ele deu a entender que, aos 20 anos,
estava pensando em se aposentar. Ao ser perguntado sobre como se
enxergava, ele disse: "Eu sou um atleta".
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