Kazuhiko Kanai utiliza o método tradicional para tingir os elegantes quimonos pelos quais é famosa esta pequena ilha semitropical: ele leva um fardo de seda branca a um arrozal e o joga na lama.
Kanai é um dos últimos praticantes do "dorozome", ou "tingimento na lama", que aproveita o solo da ilha, rico em ferro, para conferir à seda um tom chocolate escuro. Trata-se de um dos passos de um processo que pode levar um ano e que resulta em um quimono da seda mais lustrosa e com os desenhos tecidos mais complexos do Japão. No passado, os quimonos de Amami Oshima eram vendidos por mais de US$ 10 mil cada um.
Mas a longa estagnação econômica do país levou a demanda a cair muito. Nesta ilha de 73 mil habitantes, apenas 500 pessoas ainda trabalham em tempo integral na produção de quimonos. Muitas delas estão na casa dos 70 ou 80 anos. De acordo com a associação de produtores de quimonos da ilha, há uma geração, 20 mil pessoas trabalhavam no setor.
Dos 284.278 quimonos produzidos na ilha em 1972, no auge do boom do pós-guerra, a produção da ilha caiu para 5.340 em 2014.
Amami Oshima também foi prejudicada por uma rede complexa de atacadistas, revendedores e varejistas que distribuem e vendem os quimonos produzidos na ilha. Esse sistema antiquado mantém os quimonos caríssimos e, ao mesmo tempo, reduz os salários pagos aos profissionais.
Pior ainda, as poucas reduções feitas nos preços dos quimonos inevitavelmente recaem sobre os profissionais que trabalham no tingimento e na tecelagem. Assim, enquanto um quimono novo de Oshima ainda custa entre US$ 3 mil e US$ 6 mil, os tecelões dizem que têm sorte se conseguem ganhar mais de US$ 400 por um mês de trabalho cansativo e minucioso.
Muitos temem que em breve não restarão profissionais suficientes na ilha para levar adiante cada uma das 30 etapas necessárias para a produção de um quimono.
"Se perdermos um único elo na cadeia, perderemos nossa capacidade de fabricar quimonos", explicou Kanai, 56, dono de uma oficina de madeira, com chão de terra, onde a seda é tingida em caldeirões borbulhantes e depois pendurada do teto para secar. "Se não pudermos mais produzir quimonos, o que vai restar aqui?"
Kanai disse que apenas o processo de tingimento na lama leva mais de um mês. Primeiro a seda é tingida de um tom roxo, com tintura natural feita da polpa de uma ameixeira local. Para conseguir a tonalidade correta, é necessário repetir 30 vezes o ciclo de tingimento e secagem da seda. Apenas então a seda estará pronta para ser imersa na lama preta, cujo ferro reage com os taninos presentes na tintura da árvore.
Antes de chegar à oficina de Kanai, a seda é tecida para formar um tecido temporário. Depois de esse tecido ter sido tingido na lama, ele é desfeito novamente, para reverter aos fios de seda originais. Nesse momento, cada fio colorido apresenta milhares de listras brancas minúsculas, dos lugares onde ficou sobreposto a outro fio.
Quando os fios são novamente tecidos pelas mulheres da ilha, formando novo tecido de seda, eles revelam desenhos perfeitos que variam desde formas minimalistas até cenas complexas de bambuzais e cegonhas voando.
"A responsabilidade do tecelão é enorme", disse Mifuko Iwasaki, 70, que há 35 anos ensina jovens da ilha a tecer. "Se cometemos um erro, jogamos fora o trabalho longo e árduo de todas as pessoas que prepararam este fio."
O filho de Kanai, Yukihito, 35, emprega as técnicas seculares de tingimento para colorir artigos como camisetas e jeans. "Mesmo as tradições precisam evoluir", diz.
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