Cantos e danças receberam um triunfante Binyamin Netanyahu em Eli, então
um novo assentamento com 959 moradores, pouco depois de ele se tornar
primeiro-ministro de Israel pela primeira vez, em 1996.
"Estaremos aqui permanentemente, para sempre", declarou o premiê na
vizinha Ariel no mesmo dia, prometendo renovar a construção de
comunidades judaicas no território que os palestinos planejavam e
planejam para seu futuro Estado.
Disputando o apoio dos colonos antes da recente eleição em Israel,
Netanyahu voltou em fevereiro a Eli, hoje uma cidade com mais de 4.000
habitantes que se estende por seis colinas entre aldeias e fazendas
palestinas.
Sua presença foi uma declaração. Há dezenas de assentamentos isolados
cuja expansão e fortalecimento ameaçam as perspectivas de uma solução de
dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos, e Eli é um
deles.
O crescimento constante de assentamentos em toda a Cisjordânia ocupada e
Jerusalém oriental, que a maioria dos líderes ocidentais considera
violações do direito internacional, complica ao mesmo tempo a criação de
uma Palestina viável e o desafio de um dia desterrar os israelenses,
que hoje estão criando a segunda e a terceira gerações em áreas
disputadas.
Ao longo da estrada de Eli a Ariel, em uma tarde recente, um palestino
conduzia vacas e adolescentes voltavam da escola para casa. No
assentamento, um centro comunitário de 28 mil m2 e US$ 3,8 milhões
estava em construção. Uma placa dizia: "Eli, um ótimo lugar para
crescer".
Enquanto Netanyahu buscava seu quarto mandato, ele declarou que não
permitiria o estabelecimento de um Estado palestino. Isto pareceu ser
uma tentativa de capturar votos da direita. Depois da vitória, Netanyahu
tentou desmentir sua declaração. "Eu quero uma solução pacífica e
sustentável de dois Estados, mas para isso as circunstâncias têm de
mudar", disse em uma entrevista.
O histórico de Netanyahu sobre assentamentos é um elemento central em
seu relacionamento conturbado com Washington e está no centro das
crescentes críticas europeias a Israel.
Uma análise de dados de planejamento, construção, população e gastos nas
últimas duas décadas mostra que Netanyahu foi um construtor agressivo
em seu primeiro mandato como primeiro-ministro, nos anos 1990, quando a
população de colonos na Cisjordânia aumentou cerca de três vezes mais
que o ritmo total de Israel.
Desde que voltou ao poder, em 2009, ele obteve um registro semelhante ao
de líderes menos conservadores, com os assentamentos inchando duas
vezes mais depressa que Israel como um todo. Netanyahu deu vários passos
que tornam especialmente problemático desenhar um mapa com dois
Estados, e declarou: "Não pretendo desmanchar qualquer assentamento".
Com as negociações estagnadas entre os palestinos e os israelenses, o
número de colonos na Cisjordânia hoje supera 350 mil -incluindo cerca de
80 mil que vivem em assentamentos isolados como Eli e Ofra. Além disso,
outros 300 mil israelenses vivem em partes de Jerusalém que Israel
capturou da Jordânia na guerra de 1967 e que anexou ao seu território,
em um gesto que a maioria do mundo considera ilegal.
"Todos os outros primeiros-ministros que construíram assentamentos
conseguiram aplacar Washington ao participar de algum esforço
significativo para negociar e concluir um acordo de paz com os
palestinos", disse Aaron David Miller, que assessorou seis secretários
de Estado americanos sobre o Oriente Médio. "Netanyahu nada fez nesse
sentido."
Eleito pela primeira vez em 1996 com a promessa de reverter um
congelamento de quatro anos na expansão dos assentamentos em quase todas
as áreas, Netanyahu endossou o conceito de dois Estados ao recuperar o
cargo máximo de Israel em 2009, dizendo em seu famoso discurso na
Universidade Bar Ilan: "Não pretendemos construir novos assentamentos ou
desapropriar mais terras para os assentamentos existentes".
Agora Netanyahu explica suas iniciativas de construção como uma
acomodação inevitável ao crescimento natural e diz que só adicionou
"algumas casas nas comunidades existentes". Ele refuta qualquer sugestão
de que os assentamentos são o núcleo do conflito, notando que árabes e
judeus disputavam essa terra muito antes que eles existissem.
Mas o americano que chefiou a última rodada de negociações fracassadas
entre israelenses e palestinos, Martin S. Indyk, disse que a "atividade
de assentamentos galopante" teve "um impacto drasticamente prejudicial".
Um relatório do grupo antiassentamentos Paz Agora mostrou que o governo
emitiu licitações para a construção de 4.485 unidades em 2014. Dois
terços da construção nos últimos dois anos, como mostra o relatório,
estavam no lado palestino de uma linha traçada pela Iniciativa de
Genebra, grupo de trabalho internacional que produziu um modelo de
acordo em 2003.
A maior parte do crescimento foi em três blocos de assentamentos perto
de Jerusalém e Tel Aviv definidos para trocas de terras com os
palestinos em um futuro acordo de paz. Mas apesar de os líderes
palestinos terem aceitado o conceito de trocas, nunca entraram em acordo
sobre a marcação desses blocos -nem os EUA.
O maior assentamento e de mais rápido crescimento é Modiin Illit, um
enclave ultraortodoxo pouco além da linha de 1967 que se espera de modo
geral que continue em Israel. Hoje ele tem mais de 60 mil habitantes.
Netanyahu declarou diversas vezes que não criou qualquer novo
assentamento, mas isso é uma questão de semântica. Não longe de Eli fica
um pequeno lugar chamado Leshem, que começou há dois anos com 104
famílias. O governo diz que Leshem é um novo bairro do assentamento de
Alei Zahav, que existe há várias décadas na mesma estrada. Há um surto
de construção ainda maior alguns quilômetros a leste, em Bruchin, um dos
três postos avançados legalizados retroativamente em 2012 por
iniciativa do governo.
Um lugar onde há amplo consenso de que os assentamentos continuarão é o
bloco de Etzion, que se estende ao sul de Jerusalém pela Rodovia 60.
Havia comunidades judaicas por lá antes do estabelecimento de Israel em
1948. Mas nessa área também as iniciativas de Netanyahu aprofundaram o
dilema para os emissários da paz. Efrat, com quase 10 mil moradores, é
para os israelenses a capital do bloco de Etzion. Os palestinos, porém,
não a aceitam como parte do bloco, porque fica no lado leste da Rodovia
60 -seu lado no mapa da Iniciativa de Genebra. Mas, nos últimos quatro
anos, foram publicadas licitações para mais 1.100 novas unidades em
Efrat, e a terra preparada estenderia o assentamento ainda mais para
leste.
"O que você está fazendo é na verdade afetar a delimitação dos blocos,
mas de modo unilateral", disse Gilead Sher, que lidera o grupo Futuro
Azul e Branco, que pressiona pelo esvaziamento de alguns assentamentos e
o reforço de outros. Sobre Netanyahu, ele acrescentou: "Ele fala sobre a
solução de dois Estados, mas faz tudo o que está a seu alcance para
deslegitimar essa solução".
São poucos os colonos que veem Netanyahu como um salvador. Dani Dayan,
líder do conselho de colonos, disse que Netanyahu vê os assentamentos
como "uma ferramenta política", não como uma questão de princípios.
No início de seu primeiro mandato, Netanyahu assinou o acordo de Hebron,
retirando israelenses de 80% da cidade bíblica. Mais ou menos na mesma
época, porém, ele aprovou Har Homa, um novo bairro no sul de Jerusalém
que os palestinos -com os EUA e a Europa- contestaram por bloquear o
acesso entre Belém e Jerusalém oriental, que eles reivindicam como sua
futura capital. Har Homa tem mais de 25 mil moradores hoje.
"O que está impedindo uma solução do conflito é a recusa a reconhecer
Israel como o Estado do povo judeu, certamente não a construção em
Gilo", disse Netanyahu em 2013, referindo-se a um bairro de Jerusalém
perto de Har Homa.
Foi o anúncio de 700 novos apartamentos em Gilo em 2014 que fez John
Kerry, o secretário de Estado americano, desistir de sua iniciativa de
paz.
Netanyahu disse, alguns meses depois: "Os franceses constroem em Paris,
os ingleses constroem em Londres e os israelenses constroem em
Jerusalém".
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