Najat Vallaud-Belkacem falava sobre a crise de identidade de jovens
muçulmanos franceses. "Quando esses jovens se sentem frustrados com a
escola, procuram uma identidade em outro lugar e promovem sua identidade
religiosa", disse a imigrante marroquina de 36 anos, a primeira
ministra da Educação mulher da França. "Não é de surpreender que eles
sejam impermeáveis aos valores republicanos."
Vallaud-Belkacem é considerada uma das estrelas em ascensão do Partido Socialista, que governa a França.
Atualmente, as escolas do país promovem um programa para ajudar a sanar
as divisões religiosas e raciais do país, especialmente no rastro do
atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo".
"A escola sempre foi um grande ator em minha jornada pessoal", disse
Vallaud-Belkacem. "Permitiu que eu me abrisse para o mundo, e também me
deu mobilidade social. Permitiu-me enriquecer, ler, aprender e
compreender."
Vallaud-Belkacem recebeu a tarefa de construir pontes para os milhões de
jovens muçulmanos que vivem marginalizados na França. Em janeiro ela
anunciou um plano de 250 milhões de euros para treinar educadores a
discutir o racismo e a transmitir em sala de aula os valores franceses
do convívio, ou "vivre ensemble".
"Não é apenas a família que deve transmitir valores, mas também a escola", disse ela.
Vallaud-Belkacem disse que poderia ter crescido revoltada e descontente,
pois também foi criada na pobreza, no lado excluído da sociedade
francesa.
Ela passou sua infância em Beni Shiker, aldeia no Marrocos, onde falava berbere e cuidava de cabras na fazenda de seus avós.
Seu pai trabalhava na construção civil na França. Quando Najat tinha
quatro anos, ela, sua irmã mais velha e sua mãe foram encontrá-lo. Seus
outros cinco irmãos nasceram na França.
A menina cresceu em um bairro pobre de Abbeville, norte da França, e depois em Amiens.
Em sua família, os homens trabalhavam e as mulheres cuidavam das
crianças. Seu pai era rígido e ela não podia namorar. Os livros
tornaram-se sua escapatória, e a falta de atividades de lazer lhe
forneceu uma oportunidade para se sair bem na escola.
Ela estudou direito e depois no Instituto de Estudos Políticos de Paris
-um campo de treinamento para a elite política francesa-, onde conheceu
seu marido, Boris Vallaud, que hoje é vice-chefe de Gabinete no Palácio
do Eliseu.
As eleições de 2002 foram um ponto de virada. Ela se uniu ao Partido
Socialista e rapidamente subiu na carreira política. Quando François
Hollande disputava a Presidência em 2012, indicou Vallaud-Belkacem como
sua porta-voz.
Depois da vitória de Hollande, ele a nomeou ministra dos Direitos das
Mulheres e principal porta-voz do governo. No ano passado,
Vallaud-Belkacem foi indicada ministra da Juventude e dos Esportes e
chegou a ministra da Educação em agosto.
Os muçulmanos da França a criticaram por apoiar o secularismo francês em
detrimento do islamismo. Ela nega e diz que afrouxou as restrições
sobre as mães muçulmanas que usam lenços na cabeça durante atividades
escolares, como excursões em campo.
Parte da imprensa conservadora também a criticou, chamando-a de
"aiatolá", descreveu sua nomeação como uma "provocação" e previu que ela
islamizaria as escolas francesas. Sua reação foi garantir a aprovação
de leis que refletem o liberalismo secular do Partido Socialista e
medidas para promover a igualdade de gêneros.
"Os debates políticos intermináveis estigmatizaram as famílias muçulmanas", disse ela.
"As escolas precisam ensinar às pessoas que todo mundo faz parte de uma comunidade e que somos todos livres e iguais."
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