O público do auditório Vahdat, em Teerã, ficou de pé e bateu palmas
com entusiasmo para Bob Belden, 58, saxofonista líder da banda
Animation.
"We love you, Bob!", gritou um espectador quando ele terminou a terceira música da noite.
Esse respeitado compositor, jazzista e produtor ganhador do Grammy então disse: "É uma honra absoluta estar aqui, no Irã".
A recente apresentação foi a primeira de um músico americano no Irã
desde a revolução de 1979. Funcionários do Ministério da Cultura e da
Orientação Islâmica estavam sentados na primeira fila do teatro de 1.200
lugares, balançando a cabeça ao ouvir temas de Miles Davis, Herbie
Hancock e do próprio Belden.
O show em Teerã encerrou uma curta e agitada turnê por um país que
oficialmente considera os Estados Unidos como seu inimigo, mas onde as
pessoas se desdobram para agradar estrangeiros, especialmente quando são
americanos.
"Um iraniano chega até mim e me pergunta de onde eu sou. Eu digo
'América'. Ele diz: 'Eu te amo!'", contou Belden. "Digo a ele que eu sou
um músico de jazz. Ele diz: 'Eu amo jazz!'."
Belden e sua banda foram escolhidos para encerrar o festival musical
Fajr, um evento anual. A inclusão se deu por iniciativa de funcionários
culturais do governo do presidente Hasan Rowhani, que busca melhorar as
relações com o Ocidente.
"Estamos muito felizes por eles estarem aqui", disse Farzin Piroozpay,
funcionário do Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica. "O Irã
quer mostrar que aqui não há problemas para estrangeiros e que acolhemos
bem a cultura e as artes."
Antigamente, radicais iranianos refratários a qualquer aproximação com
os Estados Unidos protestariam contra essa diplomacia cultural, mas
atualmente há uma postura mais branda por aqui, pelo menos com relação
aos americanos que desejam visitar o país.
Mehdi Faridzadeh, ex-embaixador cultural do Irã, hoje radicado nos EUA, e
a ONG americana Search for Common Ground [busca por um terreno comum]
ajudaram a organizar a viagem do grupo de Belden.
Durante sua viagem de quatro dias em fevereiro, o músico foi levado a eventos em todo o país.
Ele e seu trompetista, o texano Pete Clagget, 35, estiveram no ginásio
Azadi para a abertura da Copa do Mundo de luta greco-romana, um esporte
popular no Irã e nos Estados Unidos.
Belden e Clagget se juntaram a músicos iranianos para uma apresentação na cerimônia oficial de abertura.
"É mais fácil arrumar um show aqui do que nos EUA", concordaram os músicos.
Quando chegaram, Belden, Clagget e sua comitiva formada por autoridades
iranianas, jornalistas e alguns músicos italianos foram barrados por um
desnorteado segurança antes de serem encaminhados ao seu camarim.
Belden e Clagget se reuniram aos outros músicos na quadra do ginásio. Na
hora da execução de "Ey Iran", hino extraoficial do país, Belden
acompanhou no sax, e Clagget, no trompete. Um telão atrás deles mostrava
imagens da guerra Irã-Iraque.
"Agradecemos à banda iraniano-americana por sua música", disse um
locutor, em inglês fluente. Em seguida, os músicos foram levados de
volta ao auditório Vahdat.
"Próxima parada: Vietnã do Norte", brincou Belden.
Durante o show, que estava sendo gravado para um álbum ao vivo, o
saxofonista agradeceu aos iranianos por sua hospitalidade. "Vocês
realizaram o nosso sonho", disse ele à plateia.
"Visitar o Irã está sendo uma tremenda experiência."
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