Para travar guerra no Iêmen, a Arábia Saudita usou caças F-15 comprados
da Boeing. Pilotos dos Emirados Árabes Unidos bombardeiam o Iêmen e a
Síria com aparelhos F-16 da Lockheed Martin.
Os Emirados devem fechar em breve a aquisição da General Atomics de uma
frota de drones Predator com os quais vão lançar missões de espionagem
na região.
À medida que o Oriente Médio mergulha em guerras por procuração,
conflitos sectários e batalhas contra o terror, os países da região que
formaram arsenais de equipamentos militares americanos agora os usam e
querem mais.
O resultado disso é um boom para fabricantes americanos de armamentos em
busca de negócios no exterior numa era de orçamentos encolhidos em
casa.
Outro resultado, porém, é a perspectiva de uma nova e perigosa corrida
armamentista numa região onde o mapa das alianças foi redesenhado.
Representantes da indústria armamentista disseram ao Congresso
recentemente que aguardam um pedido de países aliados árabes que
combatem o Estado Islâmico -Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos,
Qatar, Bahrein, Jordânia e Egito-de compra de milhares de mísseis,
bombas e outras armas de fabricação americana, reabastecendo um arsenal
que foi reduzido no ano passado.
Os Estados Unidos restringem o tipo de armas que as companhias de defesa
americanas são autorizadas a vender a países árabes; o objetivo é
assegurar que Israel conserve uma vantagem militar sobre seus
tradicionais adversários na região.
Mas, pelo fato de Israel e os Estados árabes agora estarem em uma
aliança "de facto" contra o Irã, a administração Obama vem se mostrando
mais disposta a permitir a venda de armas avançadas ao golfo Pérsico,
com poucas objeções públicas por parte de Israel.
"O cálculo estratégico feito por Israel é simples", disse Anthony H.
Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Os
países do Golfo não representam uma ameaça significativa a Israel, mas
representam um contrapeso significativo ao Irã."
Para Richard L. Aboulafia, analista de defesa junto ao Teal Group, as
Forças Armadas dos países do golfo Pérsico vinham sendo "uma combinação
de alguma coisa entre símbolos de dissuasão e clubes nacionais de
aviação". Mas "agora, de repente, estão sendo usados".
A Arábia Saudita destinou mais de US$ 80 bilhões (R$ 240 bilhões) para
armamentos em 2014 -o maior gasto militar de sua história, superando as
despesas feitas por França ou do Reino Unido- e tornou-se o quarto maior
mercado de defesa do mundo, segundo o Instituto Internacional de
Pesquisas sobre a Paz, de Estocolmo.
Os Emirados Árabes Unidos gastaram quase US$ 23 bilhões (R$ 69 bilhões)
no ano passado, mais que três vezes o que desembolsaram em 2006.
Em um negócio de US$ 11 bilhões (R$ 33 bilhões) fechado com os EUA no
ano passado, o Qatar acordou a compra de helicópteros de ataque Apache e
sistemas de defesa antiaérea Patriot e Javelin.
O país espera fazer uma grande aquisição de caças F-15 da Boeing para
substituir sua frota envelhecida de jatos Mirage franceses.
As empresas americanas do setor de defesa seguem o dinheiro. A Boeing
abriu um escritório em Doha em 2011, e a Lockheed Martin fez o mesmo
este ano.
Em 2013 a Lockheed criou uma divisão dedicada exclusivamente às vendas
militares ao exterior, e a executiva-chefe Marillyn Hewson disse que a
empresa precisa aumentar seus negócios no exterior, em parte para
contrabalançar o encolhimento do orçamento militar dos EUA depois do
boom pós-11 de setembro.
A meta é que as vendas globais de armas passem a representar 25%-30% de sua receita.
Mas, com o equilíbrio de poder no Oriente Médio em situação incerta, vários analistas de defesa acham que a situação pode mudar.
A Rússia é importante fornecedora de armas ao Irã, e uma decisão do
presidente Vladimir Putin de vender ao país persa um sistema avançado de
defesa antiaérea pode elevar a demanda por aviões F-35, que
provavelmente serão capazes de penetrar as defesas de fabricação russa.
"Isso pode ser o acontecimento que precipita fatos: a emergente guerra
civil entre sunitas e xiitas, aliada à venda de sistemas antiaéreos
avançados russos ao Irã", comentou Aboulafia.
Ao mesmo tempo, dar aos países do golfo Pérsico a capacidade de atacar o
Irã num momento de sua própria escolha pode ser a última coisa que os
Estados Unidos desejam.
Já se questiona até que ponto os aliados de Washington se mostram prudentes no uso de armas americanas.
"Muitas das armas americanas usadas pelos sauditas no Iêmen foram
empregadas contra a população civil", disse Daryl Kimball, diretor
executivo da Associação de Controle de Armamentos. A Arábia Saudita nega
a acusação.
Os conflitos atuais no Oriente Médio possuem caráter inegavelmente
sectário, e em nenhum lugar isso é mais aparente que na campanha
liderada pela Arábia Saudita no Iêmen.
Os sunitas reuniram um grupo de países sunitas para atacar os milicianos
houthis que tomaram conta da capital Sanaa, derrubando um governo que
tinha o apoio dos sauditas e dos americanos.
Autoridades sauditas disseram que os houthis, um grupo xiita, recebem
apoio não declarado do Irã. Outros países que se uniram à coalizão
contra os milicianos, como o Marrocos, caracterizaram sua participação
em termos declaradamente sectários.
"Trata-se de proteger os sunitas", declarou o vice-chanceler do Marrocos, Mbarka Bouaida.
Mas os países sunitas também vêm demonstrando nova determinação de
recorrer à força militar contra grupos sunitas radicais, como o Estado
Islâmico.
Vários países árabes estão usando uma base aérea na Jordânia para lançar
ataques contra combatentes do Estado Islâmico na Síria. Em separado, os
Emirados Árabes Unidos e o Egito lançaram ataques aéreos na Líbia
contra milícias sunitas nesse país.
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